Esportes

De expectativa de mudança no futebol, Cene agora é retrato do abandono

Clube não disputa uma partida oficial há mais de três anos. Estrutura invejável está em estado de abandono no Los Angeles

Gabriel Neris e Liniker Ribeiro | 14/05/2018 15:30
Estrutura do clube está praticamente abandonada com o encerramento das atividades (Foto: Paulo Francis)
Estrutura do clube está praticamente abandonada com o encerramento das atividades (Foto: Paulo Francis)

Esperança de mudar a realidade do futebol sul-mato-grossense, o Cene chegou ao fundo de poço tão rápido quanto cresceu. Pouco popular, o clube não desfrutava de prestígio, mas mantinha uma estrutura invejável, hoje em estado de abandono no Jardim Los Angeles – região sul de Campo Grande.

Estrutura essa formada por seis campos de futebol para atender centenas de crianças com escolinhas, atletas em todas as categorias de base, e até um estádio particular para o time profissional, suficiente para a realidade de quarta divisão do futebol nacional.

O clube foi fundado em 1999 por trabalhadores ligados a Igreja da Unificação, fundada pelo sul-coreano Sun Myung Moon, o Reverendo Moon, ainda em Jardim – a 233 km da Capital. Três anos depois conquistou o primeiro dos seis títulos estaduais (2002, 2004, 2005, 2011, 2013 e 2014).

O último título ocorreu quase dois anos depois do falecimento de Reverendo Moon. Foi onde começou a derrocada do clube. O clube não contava mais com a ajuda da igreja e conseguiu disputar o Estadual de 2015 através de uma parceria com o Guaicurus. O time sub-18 do parceiro terminou o torneio na última colocação de seu grupo e foi rebaixado. Desde então nunca mais entrou em campo.

Sua última partida pelo Estadual foi no dia 14 de março de 2015. Um empate sem gols com o Misto, de Três Lagoas, no então estádio Olho do Furacão, antes temido pelos adversários. O placar rebaixou o clube para a Série B. Em abril foi derrotado duas vezes pelo Sport pela Copa do Brasil: 2 a 1 em Dourados e 4 a 1 em Recife. A partida em Pernambuco, no dia 16 de abril de 2015, fechou o caixão.

Todo o patrimônio do clube virou alvo de ação na justiça. Sem investir no futebol, não há motivo para manter toda a estrutura e o clube tenta vender seu patrimônio.

Clube tinha seis campos para atender times profissionais e da categoria de base (Foto: Paulo Francis)

Ex-diretor do clube, Paulo Telles trabalhou no Cene por 14 anos, e tenta impedir que o clube se desfaça do que foi conquistado neste período. “Havia uma proposta de venda, entrei na Justiça e embarguei a venda. Sonhava que o Cene poderia voltar, ele dominou outros diretores e não vai voltar”, diz Telles.

O dirigente se refere ao atual presidente do clube, José Rodrigues, no qual se tornou desafeto. Os dois trabalhavam juntos, mas os interesses de cada provocaram uma racha na diretoria, com direito até a discussão e xingamentos durante apresentação de reforço.

“Não tenho mais interesse, protocolei uma carta na Federação [de Futebol] renunciando para qualquer cargo no Cene”, contou Telles.

A situação do Cene é semelhante ao que ocorreu com o Atlético Sorocaba (SP), time que disputou a primeira divisão do futebol paulista também fundado com o apoio do Reverendo Moon, também sob o comando de José Rodrigues. O Campo Grande News apurou que o clube também fechou as portas de forma repentina depois de rebaixar para a Série A2.

Atualmente, as dependências do Atlético Sorocaba são utilizadas pelo São Bento, time que está disputando a segunda divisão do futebol nacional. No dia 3 de abril de 2016, o time paulista fez sua última partida oficial.

A reportagem procurou o atual presidente dos dois clubes, José Rodrigues, mas encontrou somente seu cunhado e integrante do quadro de funcionários do Cene, o dominicano Lenon Cedenho. Ele conta que mora no clube com a esposa e filhos e que Rodrigues está atualmente em São Paulo, aparecendo em Campo Grande quinzenalmente.

Cedenho coloca a culpa do descaso com o futebol na iniciativa privada. “É uma pena que um time com uma história tão grande esteja assim. A esperança é conseguir um incentivo, patrocinador para retomar as atividades”, diz. Também reclama que a ajuda é destinada a outros clubes. “Os empresários concentram muito no Operário e Comercial”, completa.

Time da Moreninhas treina para retornar a primeira divisão do futebol local (Foto: Divulgação)

A falta de atividades também atrapalhou até mesmo os comerciantes da região. Marise Silva, de 30 anos, conta que mora na região desde pequena e seu filho treinou durante quatro anos no Cene. “É triste, faz falta e é ruim até para mim que abri um comércio de açaí. O movimento diminuiu muito”, lamenta.

Mudança de clube – Paulo Telles participou da fundação do clube, onde trabalhou até como técnico. No ano passado mudou de clube, foi para o Comercial, e hoje trabalha para recolocar o time da Associação Atlética Moreninhas de volta a primeira divisão do Estadual.

“Nosso trabalho é voltado para a base, o sub-17 está treinando. Temos a intenção de revelar jogador, encaminhar para o grande centro do futebol. Vamos jogar o Estadual sub-19, tentar ser campeão ou vice para chegar a Taça São Paulo”, comenta.

O time sub-19 também deve ser a base do time que disputará a segunda divisão do Estadual e buscar o acesso. O clube conta com 25 jogadores e conta com a parceria da iniciativa privada para manter suas atividades.

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