Economia

Tempero made in MS: famílias apostam no sabor das especiarias

Ricardo Campos Jr. | 18/07/2017 07:34
Sul-mato-grossense desenvolveu técnica para fazer alho negro (Foto: Alcides Neto)
Sul-mato-grossense desenvolveu técnica para fazer alho negro (Foto: Alcides Neto)
Lorane juntou coragem e vendeu alho negro feito pelo pai no Mercado Municipal de São Paulo (Foto: Alcides Neto)

Famílias campo-grandenses têm investido na criatividade e desenvolvido técnicas para fabricar temperos e especiarias. O resultado: sabores únicos criados em Mato Grosso do Sul, que por darem toques mais do que especiais à comida estão ganhando o país e por que não o mundo.

Atualmente aposentado, Romolo Letteriello, 77 anos, já foi engenheiro, economista, analista de sistema, dono de indústria de refrigeração e de uma empresa de energia solar. Todo esse conhecimento o ajudou a desenvolver uma série de equipamentos capazes de produzir o alho negro.

Ninguém sabe a origem desse produto. Alguns dizem que o próprio bulbo se não for colhido e deixado em solo com temperatura e características específicas poderia curar dessa forma. Porém, foi na Ásia que começaram a ser desenvolvidos mecanismos para que esse processo fosse feito por mãos humanas.

“Certa vez estava lendo uma revista de culinária e li um artigo contando que um chefe de cozinha renomado em São Paulo havia pedido a uma cozinheira japonesa que tentasse fazer do alho comum o alho negro. Ela conseguiu, mas na entrevista ela dizia que por ser o processo muito complicado e difícil de ser descoberto, não contaria a técnica e eu resolvi tentar”, lembra.

Romolo desmontou um micro-ondas velho, uniu várias peças e depois de muito trabalho conseguiu, enfim, o alho negro. A produção era tímida, voltada apenas para família e amigos. O teste final veio quando um amigo de São Paulo, que já havia provado o alho negro brasileiro “original” experimentou e disse que o gosto e a textura eram muito melhores.

Romolo já foi engenheiro, economista, analista de sistema, dono de indústria de refrigeração e de uma empresa de energia solar e hoje faz alho negro (Foto: Alcides Neto)

Contudo, foi graças a filha do aposentado, Lorane Letteriello, que o produto alçou voo. Formada em Direito e tentando passar na prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) ela morava em São Paulo e tinha sempre consigo algumas cabeças de alho negro enviadas pelo pai.

Um dia, resolveu pegar uma delas e foi até o Mercado Municipal, onde ofereceu a um box que trabalha com especiarias.

“Eles questionaram o fato de eu não ter sequer uma embalagem, uma apresentação. Na hora eu argumentei que desejava que eles fossem conquistados pelo sabor. Eles gostaram e toparam vender. Na hora eu saí, já comprei uma embalagem e comecei a trabalhar na logomarca”.

Desde então, o número de clientes aumentou, de modo que Romolo teve que desenvolver máquinas cada vez maiores para dar conta da produção. Hoje, ele transformou um cômodo do local onde moram e trabalham em um “curador” de alho, com capacidade para produzir até uma tonelada do produto, embora ainda não tenham alcançado esse limite.

Romolo, porém, decidiu inventar mais uma vez. Foi parar no fogão e de pitada em pitada descobriu uma geleia de alho negro, atualmente o carro-chefe da produção familiar.

Ambos os produtos têm um gosto único. O alho negro é macio e embora apresente sabores complexos, difíceis de descrever, não perde aquele gostinho original, embora como pano de fundo. Já a geleia lembra um molho barbecue. Vai bem na finalização de carnes, para dar cor e gosto no arroz de carreteiro, mas também pode ser consumido puro em uma torrada.

Geleia criada a partir do alho negro fica bem no preparo de carnes (Foto: Alcides Neto)

Romolo e Lorane têm planos de expandir os negócios da família, mas por enquanto, quem desejar adquirir algum desses produtos, pode encontrá-los em feiras de produtos orgânicos pela cidade ou pelo WhatsApp (11) 9 7392-7030.

Como toda especiaria exótica, o preço parece salgado, mas no fim, vale a pena. Um pote com dentes de alho negro descascados e prontos para consumo sai de R$ 25 a R$ 30. Um pacote com duas cabeças custa de R$ 20 a R$ 25. Já o pode de geleia sai de R$ 25 a R$ 30.

Ana Carla e Regina: amigas na empresa e na cozinha (Foto: Alcides Neto)

Gourmet – Ana Carla Castello, 53 anos, e Regina de Freitas, 50 anos, são amigas há mais de 20 anos e há 15 são sócias em uma empresa de consultoria de empresas. As duas sempre tiveram na cozinha uma paixão em comum e começaram a experimentar novas formas de dar gosto aos pratos.

“Nós começamos a fazer alguns testes na comida mesmo. Eu fazia as composições e a gente testava. Com o tempo nós fomos aprimorando juntas os sabores e os amigos começaram a pedir. Eles gostavam dos aromas, do cheiro. Hoje nós estamos com cinco sabores”, conta Ana Carla.

A técnica para unir os ingredientes e reduzir a mistura foi desenvolvida pelas amigas. Além disso, elas optaram pelo sal integral, que ao ser retirado da natureza não passa pelas lavagens com produtos químicos.

Amigas produzem grande variedade de produtos (Foto: Alcides Neto)

Cada uma das composições recebe um nome. Elas não revelam todos os insumos, apenas a base. O “Madame Gourmet”, por exemplo, leva pimenta rosa. O “Flor do Amit” tem toque de limão siciliano.

Ao ser usado na comida, deve-se ter cautela, pois a quantidade deve ser metade daquela usada normalmente de sal.

O ideal é deixar os temperos especiais para finalizar o prato. O cheiro que sai da panela toma conta da casa e abre o apetite.

Além dos temperos, Ana Carla e Regina também desenvolveram produtos que levam as especiarias por elas desenvolvida, como geleias de pimenta e coalhadas. Elas podem ser encontradas nas feiras de orgânicos e todos os segundos domingos do mês na Praça Bolívia.

Os preços são bastante acessíveis. O pacote pequeno do tempero custa R$ 3 e o grande sai por R$ 12. Levando em consideração a quantidade usada, tem um ótimo custo benefício.

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