Economia

Crédito fácil ajuda, mas pode virar armadilha para consumidores

Marcio Rodrigues Breda | 14/12/2010 12:31

Comércio aquecido

Comércio é aquecido pelo crédito, que pode passar de aliado a inimigo. Foto: João Garrigó
Comércio é aquecido pelo crédito, que pode passar de aliado a inimigo. Foto: João Garrigó

Em tempos de crédito fácil e economia aquecida, o que vale para a maioria dos consumidores é o presente de Natal garantido. Porém, o que pode ser uma alternativa interessante no presente pode se transformar em um “abacaxi” no futuro.

“O grande problema do crédito é que ele antecipa uma compra e compromete uma receita futura que, por mais segura que seja, é impossível saber se será permanente. Por isso nós, economistas, temos ressalvas com relação a financiamentos”, explica o economista Eugênio Pavão.

O ideal seria fugir de prazos a perder de vista. “É temeroso se consumir no presente com um dinheiro que é esperado somente no futuro”. Pavão, porém, concorda que os financiamentos são a única saída para a maioria das pessoas adquirem bens prioritários, como casas e carros.

“O importante é estabelecer um controle rígido sobre a renda para saber quanto é possível comprometer. O crédito é um aliado importante nessas horas, mas deve ser estudado e usado para o que é mais importante”, explica o economista, sem garantir uma fórmula. “Cada pessoa deve saber qual a prioridade e o limite. Não há regras, apenas bom senso”.

Pavão aposta que a economia aquecida – que elevou os índices de inflação este ano – será contida pelo governo. “Com certeza será colocada em prática uma política fiscal de contenção de gastos ano que vem. A única receita que o governo tem é elevar as taxas de juros. Com isso, financiamentos com taxas variáveis, como as linhas de crédito bancário, poderão sofrer aumento nas parcelas”, analisa.

Lados da mesma moeda - O aumento nas vendas a prazo no Natal é uma realidade vivida por Ana Paula Alves, comerciária que atua no Centro de Campo Grande com cadastro de pessoas interessadas justamente em adquirir cartões de crédito. A facilidade para se obtê-los é grande e Ana admite que não vê dificuldades em cumprir sua meta diária. “Trabalho no comércio há 3 anos e realmente percebo que a maioria das pessoas prefere comprar com prazo ou usando o cartão de crédito, mesmo tendo o 13º na mão”, explica.

Porém, Ana Paula terá de viver uma realidade diferente neste Natal. Duas parcelas do seu celular estão em atraso e seu nome foi negativado. “Este ano terei de comprar presentes à vista. Sempre usei cartão, mas agora terei de mudar”, admite a comerciária.

Elizângela Martins prefere pagar as dívidas com o 13º salário para garantir nome limpo e crédito na praça para adquirir presentes de Natal. Este ano não será diferente. “É um ciclo. Pago dívidas para fazer novas. Só assim a gente consegue ter as coisas”, garante.

Apesar das compras à vista terem perdido apelo com a abertura de financiamentos a longos prazos e parcelamentos sem juros, o economista Eugênio Pavão argumenta que ainda é a melhor maneira de consumir.

“O crédito é um estimulo ao consumo, mas é fácil perder o controle. O problema é gastar agora e não ter no futuro como arcar. Por confiança demais, um momento de alegria pode se transformar em angústia. Por isso é importante o controle por parte do consumidor”.

Difícil, porém, será a situação de Dionísio Alves, guardador de motos no Centro da cidade. “Tenho 46 anos e não sei o que é ganhar presente de Natal. Lá em casa a gente trabalha para ter uma comida melhor e só”. O guardador, apesar da humildade, espera um Natal feliz e sem dívidas. “Só compro com o que posso gastar”.

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