Economia

Ouro da reciclagem, latinha chega a preço recorde e ajuda até a comprar carne

Valor pago pelo quilo do alumínio subiu 40% nos últimos três meses e famílias "roubam" serviço de catadores

Caroline Maldonado | 25/04/2022 14:05
Latinhas em depósito de reciclagem de Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)
Latinhas em depósito de reciclagem de Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)

Uma noite recolhendo latinhas na saída de show da Expogrande rendeu R$ 80 à dona de casa Rosa Toledo, de 62 anos. Nesta segunda-feira (25), ela vendeu o material perto de casa, na Reciclagem do Caramelo, lá no Jardim Aeroporto. Ela comemora o preço do alumínio, que bateu recorde ao subir 40% nos últimos três meses, passando de R$ 6 para R$ 8,50. 

Com esse preço, tem cada vez mais gente fazendo como a Rosa e nem sobra latinha na rua para os catadores que trabalham só com material reciclável. O dinheiro das vendas das latinhas vai rápido. “Uso para comprar ‘mistura’ ou verdura. A carne e a verdura estão muito caras”, revela Rosa. 

Dona de casa Rosa Toledo, de 62 anos, na Reciclagem do Caramelho, no Jardim Aeroporto. (Foto: Henrique Kawaminami) 

Gente como ela está “roubando” o serviço dos catadores, segundo o proprietário da Reciclagem do Caramelo, Luís Felipe de Lucas Oliveira, que paga R$ 8 pelo quilo do alumínio. 

“A maioria dos que vêm vender latinhas aqui é família e donos de bar ou restaurante. Não sobra na rua latinha para os catadores mais. Tem até pedreiro largando o serviço só para catar latinha para vender”, comenta. 

Não muito longe, no Bairro Santo Amaro, Jair Andrade também compra alumínio e já faz 20 anos. Hoje, ele está pagando R$ 8 pelo quilo. 

“Nunca o preço chegou tão alto. Antigamente, pessoal até doava latinha. Muitos vendiam para juntar dinheiro para usar no Natal. Agora não. O pessoal que vem aqui é mais família e dono de restaurante e eles usam o dinheiro nas despesas mesmo. Tem gente que vende latinha para comprar comida”, comenta Jair, impressionado com o rumo que tomou o mercado de compra e venda de alumínio nos últimos anos. 

Pandemia, dólar e guerra na Ucrânia. São esses os motivos que levam a escassez de alumínio, que elevou o preço de compra, na opinião dos recicladores.

Quem chega na Reciclagem Sucateiras no Jardim Aeroporto, quer garantir a carne e a cerveja do fim de semana. A proprietária do local confirma que o perfil do catador mudou.

“Quem vem vender é família, dona de casa, criança e quem tem bares ou restaurantes. Tem gente que diz que o dinheiro da latinha já salvou o churrasco do fim de semana”, conta. 

No Jardim Seminário, a Recipel está pagando R$ 8,50 pelo quilo do alumínio e o proprietário explica que o preço varia muito, portanto, é momento de se aproveitar a alta. 

Ele explica que a escassez do produto no mercado faz o preço subir. “Desde janeiro, vem subindo, porque quando fica defasada a matéria-prima na indústria, tem mais gente querendo comprar a latinha para fazer alumínio, aí sobe o preço. Mas do mesmo jeito que sobe, desce. A hora que a indústria tem muito alumínio estocado, joga o preço lá embaixo”, comenta. 

Papelão e vidro

Papelão no depósito da Buracão Reciclagem, no Jaridm Imá. (Foto: Henrique Kawaminami)

O último show da Expogrande também rendeu à Rosa um dinheiro por meio da venda das garrafas de vidro. “Vendi por R$ 0,50 a garrafa. No dia 29, tem show de novo. Vamos lá”. 

Em contrapartida, sobrou para o papelão o status de “primo pobre” da reciclagem nos últimos meses. 

“O preço despencou. Já cheguei a pagar R$ 1 pelo quilo do papelão. Subiu muito na pandemia, porque o preço médio era R$ 0,40. Subiu, mas veio caindo e agora, estou pagando R$ 0,20”, lembra o proprietário da Buracão Reciclagem, René Andrade Lodi. 

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