Economia

Inflação atinge até ambulantes que trocam produtos na tentativa de vender mais

Aumento do preços em produtos como leite e água obrigam a reinvenção dos negócios de vendedores ambulantes

Gabrielle Tavares, Cleber Gellio e Ana Beatriz Rodrigues | 07/08/2022 08:00
Antonio Felix vendendo pano de prato na Capital. (Foto: Marcos Maluf)
Antonio Felix vendendo pano de prato na Capital. (Foto: Marcos Maluf)

A alta da inflação, um termo que parece distante distante da realidade do brasileiro, atinge todas as classes sociais, inclusive os vendedores ambulantes. Na Capital, eles precisaram se reinventar para garantir o lucro no fim do mês.

O pernambucano Antonio Felix, de 55 anos, veio para Campo Grande em 1992 e se tornou padeiro por profissão, mas atualmente faz a renda da família vendendo panos de prato no cruzamento da avenida Costa e Silva com a Fábio Zahran. 

"É difícil. Muitos ajudam, mas muita gente fecha o vidro na nossa 'cara'. Muitos também ficam com medo dos usuários que pedem", disse.

Quando as rendas estão boas, ele consegue vender até R$ 1 mil por mês, dinheiro usado para pagar as contas da casa, emprestada por uma sobrinha, onde mora com a filha de 17 anos. Ele costumava vender água, mas o preço do produto subiu constantemente e ele teve que trocar as vendas. 

"Quem trabalha com água também tem que comprar gelo e acabou ficando tudo muito caro. Era trabalhar no almoço para comer a janta”, relatou.

Ele tem 29 anos de contribuição para o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e agora tenta se aposentar por invalidez, em decorrência de uma hérnia, para que as coisas fiquem mais fáceis. Apesar de tudo, nem cogita a possibilidade da filha trabalhar para ajudar na renda, prefere que ela foque nos estudos para que tenha um futuro mais promissor que o dele. 

“Tem que lutar, mas não está fácil não, as coisas sobem. Você vai de manhã e está um preço e à tarde já está outro", relatou.

A ambulante Conceição Aquino, de 58 anos, também precisou se reinventar. No caso dela, o vilão foi o aumento dos laticínios.

"Trabalho há muitos anos como ambulante, antes eu vendia chipa e café, mas o preço do queijo subiu muito não estava me dando lucro", apontou.

O leite foi um dos produtos que mais teve alta na inflação em Campo Grande, com variação de 59,28% entre janeiro a julho. Sem grandes lucros, ela teve de usar a criatividade para garantir o sustento.

"Agora eu optei pela pipoca. Tem o gasto do óleo, mas não chega nem perto do preço do queijo", ressaltou.

Cruzamento na Costa e Silva "congestionado" de vendedores ambulantes. (Foto: Marcos Maluf)

O que significa a inflação? A economista Andreia Ferreira, do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), explica que a inflação é o registro das variações do preço na economia. 

Ela cita o exemplo do preço do leite, que teve a variação acompanhada pelo Dieese.

"Então, se em 6 de janeiro deste ano um litro de leite estava custando R$ 4,57 e em 6 de julho este mesmo litro de leite está custando R$ 7,28, isso significa que tivemos inflação", apontou.

Então, um trabalhador que recebe um salário mínimo, que descontado o valor da Previdência Social (de 7,5%), é de R$ 1.121,10 (que é o salário mínimo líquido), de janeiro à dezembro de 2022, que comprava 12 litros de leite em janeiro ao custo de R$ 54,84, em julho, para comprar a mesma quantidade, precisou gastar R$ 87,36.

"Além de registrar a variação dos preços, a inflação mostra a perda do poder de compra das pessoas. Isso porque os nossos salários aumentam uma vez ao ano, e quando aumentam. Já um leite, por exemplo, pode mudar de preço até de um dia para o outro", completou Andreia.

Nos últimos 12 meses, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou alta de 12,06%. 

O IPCA é calculado pelo IBGE desde 1980 e se refere às famílias com rendimento monetário de 01 a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte. Para o cálculo do índice do mês, foram comparados os preços coletados entre 26 de fevereiro e 30 de março de 2022.

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