Economia

Com crédito mais difícil até periferia sente queda na venda de imóveis

Mariana Castelar | 31/03/2016 08:15
Ruas do bairro estão cheias de casas para vender (Foto: Marcos Ermínio)
Ruas do bairro estão cheias de casas para vender (Foto: Marcos Ermínio)

Ruas lotadas de imóveis com faixas de “vende-se” e “aluga-se” é o cenário encontrado no Jardim Los Angeles, em Campo Grande. A pouca procura não é por falta de asfalto, esgoto ou violência. Segundo corretores e construtores da região, a calmaria no mercado imobiliário é por conta da nova forma de financiamento do Programa Minha Casa, Minha Vida.

Em busca de uma oportunidade melhor, o construtor João Roberto da Silva saiu do interior de São Paulo e veio para Campo Grande há pouco mais de um ano. Depois de construir e vender três casas, ele está fazendo mais quatro. Mesmo otimista, ele diz que a crise está fazendo as pessoas ficarem mais desencorajadas para comprar.

“Em Bauru comprava um terreno por R$ 200 mil para construir quatro casas, aqui no Los Angeles pago R$ 50 mil”, diz ele ao revelar ainda que venderá cada imóvel por cerca de R$130 mil. "É uma oportunidade, mas a gente vê toda essa situação econômica e se preocupa”.

Com cerca de 80 casas para vender somente na região, o corretor Nylbert Arruda conta que esses imóveis foram disponibilizados nos últimos seis meses.“Há bastante interesse pelas casas, principalmente dos moradores do bairro, o problema é na hora de aprovar o financiamento no banco”.

Obras estão a todo vapor na região (Foto: Marcos Ermínio)
Construtor que veio de Bauru para investir em Campo Grande vê na cidade oportunidade de crescimento (Foto: Marcos Ermínio)

Moradora do bairro há 25 anos e há cinco como presidente da Associação dos Moradores do Jardim Los Angeles, Maria Diva da Silva conta que o “boom” da construção do local passou e que agora há poucas casas sendo construídas por lá.

“As pessoas que querem sair do aluguel e realizar o sonho de ter sua casa própria não se importam com asfalto e esgoto, a questão não é região, mas falta de dinheiro. As pessoas até querem comprar, mas como farão para dar de entrada 50% de R$ 130 mil? As formas estão mais difíceis”, afirma ela.

Quem tem sentido esta retração também são as lojas de materiais de construção da região. Segundo o gerente da Construlíder, Manoel Gercino, o fluxo caiu a partir de janeiro. “Minhas vendas já estão 60% menores. O que movimenta a loja são os produtos menores, como fiação, mas o restante está tudo parado”.

Acreditando que o Programa Minha Casa Minha Vida é único setor que ainda pode movimentar a construção civil no país, o presidente Secovi/MS (Sindicato da Habitação-MS), Marcos Augusto Netto, afirma que quase todos os imóveis construídos em bairros de periferia tem valor mais baixo e facilidades para venda.

“A crise política e econômica no país atingiu todos os segmentos, e com a construção não foi diferente, no entanto, ainda há venda nesta faixa de preço. A questão é que as casas geralmente são financiadas em 20 anos, e por conta da crise, as pessoas estão pensando mais na hora de decidir. Quem pode comprar agora, tem que aproveitar porque as oportunidades são boas e as taxas de juros chegam a 5,5% ao ano, muito abaixo do cheque especial que é de 10% ao mês, por exemplo”.

Mesmo sem asfalto e esgoto, presidente da Associação afirma que este não é o problema da baixa procura nas casas (Foto: Marcos Ermínio)

Minha Casa Minha Vida - O governo federal lançou ontem (30) a terceira etapa do Programa Minha Casa Minha Vida para contratar mais 2 milhões de moradias até 2018. Nessa fase, há novas faixas de renda para financiamentos, como a chamada 1,5, para atender a famílias que ganham até R$ 2.350 por mês, que receberão até R$ 45 mil de subsídios.

Também foi criado o Sistema Nacional de Cadastro Habitacional, a partir de dados dos municípios e estados, e lançado o Portal do Minha Casa, Minha Vida que concentrará informações sobre o programa, simulador de financiamento, além da situação cadastral de cada família.

Nesta fase do programa, o teto da faixa 1 passou de R$ 1,6 mil para R$ 1,8 mil; o da faixa 2, de R$ 3.275 para R$ 3,6 mil, e o da faixa 3, de R 5 mil para R$ 6,5 mil. (Com informações da Agência Brasil)

Muitas casas novas podem ser encontradas com placas de venda. (Foto: Marcos Ermínio)
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