Economia

Carinho com quem partiu gera renda há décadas a zeladores, em cemitério

De bom humor, autônomos garantem de R$ 1 a 1,6 mil por mês e contam situações inusitadas no trabalho

Caroline Maldonado e Cleber Gellio | 31/10/2021 15:32
Zeladora autônoma Cláudia Medeiros, durante trabalho no cemitério público Santo Antônio. (Foto: Paulo Francis)
Zeladora autônoma Cláudia Medeiros, durante trabalho no cemitério público Santo Antônio. (Foto: Paulo Francis)

O carinho com os parentes que já partiram deste mundo gera renda o ano inteiro para dezenas de zeladores nos cemitérios públicos da Capital. Tem gente que, mais do que visitar os jazigos, paga mensalidade para autônomos cuidarem dos locais, que guardam a memória dos falecidos. E é assim, com muita dedicação e bom humor, que os zeladores garantem renda mensal, que varia de R$ 1 a R$ 1,6 mil. 

Entre os zeladores do Cemitério Santo Antônio, Mauro dos Santos, de 61 anos, brinca quando perguntam seu nome. 

“O sobrenome é dos Santos, porque do diabo ninguém quer ser”, brinca, ao falar com a reportagem neste domingo (31), às vésperas do Dia de Finados, que será celebrado na terça-feira (2). 

É sempre assim, bem humorado, que ele trabalha e conversa com os familiares que chegam ao local, há 30 anos, no cemitério mais antigo da Capital. 

 Zelador autônomo Mauro dos Santos, no Cemitério Santo Antônio. (Foto: Paulo Francis)

“Aqui tem cerca de 22 autônomos que atuam como zeladores. Faço outros serviços, mas tiro daqui a maior parte da renda. O cliente desse jazigo me paga R$ 80 por mês”, contou Mauro, ao referir-se ao túmulo que limpou com receita caseira, incrivelmente poderosa para remover a ferrugem. 

“É um preparado de limão e detergente. É só esfregar que fica limpinho”. 

Não é do dia para noite que se faz uma renda dessa como zelador no cemitério. Cláudia Medeiros, de 41 anos, faz o mesmo trabalho há 15 anos e conta como ganha a única renda, hoje em dia. 

“Tive oportunidade de prestar o serviço para uma família e aí fui conseguindo cada vez mais clientes. Cada família faz um tipo de acordo. Uma, por exemplo, me paga R$ 420 por ano. Eles pagam de acordo com as condições de cada um, a gente negocia”, explica. 

Cláudia Medeiros, zeladora no cemitério Santo Antônio. (Foto: Paulo Francis)

Trabalhar em meio a lembrança dos mortos é algo que assusta algumas pessoas e gera até situações inusitadas. 

Por outro lado, pela alegria e tranquilidade dos zeladores dá para ver que o serviço é tranquilo e pode ser melhor que trabalhar com os vivos. 

“Muitas pessoas no ponto de ônibus me veem saindo do cemitério e quando eu entro no ônibus se afastam. Na primeira semana de trabalho, me deparei com o túmulo aberto e fiquei encucada. Fiquei uma semana sem comer direito. Hoje, eu durmo em cima dos túmulos”, brinca. 

Grata as famílias a quem presta o serviço, Cláudia lembra que o importante é gostar do que está fazendo. “Amo esse serviço. Quando a gente faz o que ama, a profissão é gratificante”, diz. 

Trabalho infantil - Às vésperas do feriado, os zeladores autônomos acabam tendo uma espécie de concorrência, que é considerada ilegal. 

É o período com maior incidência de trabalho infantil, pois muitas crianças e adolescentes vão aos cemitérios para oferecer aos visitantes o serviço de limpeza das lápides e túmulos, além de venderem produtos, como flores e velas, segundo a prefeitura. 

A partir deste domingo (31), a SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) realiza ações de enfrentamento ao trabalho infantil nos três cemitérios públicos da Capital. Até terça-feira (2), as equipes entregam panfletos e explicam aos visitantes os perigos a que estão expostas as crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil. 

Menores de 18 anos são proibidos de trabalhar, exceto em casos de aprendiz, a partir dos 14 anos. Até os 13 anos é totalmente proibido qualquer tipo de trabalho. Denúncias podem ser feitas por telefone pelo Disque 100,  ou em Conselhos Tutelares e unidades da SAS. 

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