Economia

Após polêmica no açougue, confira diferenças entre Angus e Brangus

Animais são “parentes” que, nas gôndolas, têm diferença de até 40% no preço de cortes, segundo especialista; criador afirma que custo é relacionado a questões de mercado

Tatiana Marin | 26/03/2019 10:29
Animal da raça Angus, à esquerda, e da raça Brangus, à direita. (Fotos: ABA e ABB / Montagem: Campo Grande News)
Animal da raça Angus, à esquerda, e da raça Brangus, à direita. (Fotos: ABA e ABB / Montagem: Campo Grande News)

Recentemente, Procon/MS (Superintendência para Orientação e Defesa do Consumidor), Decon (Delegacia do Consumidor) e a Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal) realizaram fiscalização em uma casa de carnes em Campo Grande onde verificaram dupla informação que poderia levar o consumidor ao erro em relação a cortes finos. No caso, produtos etiquetados como carne bovina da raça Brangus eram anunciados como de Angus.

Há certa diferença entre as duas raças. Angus é originária da Escócia e animais desta raça têm nível alta de marmoreio (gordura entremeada na carne) o que confere maciez, explicou o especialista em carnes Henrique Soares, que é churrasqueiro e palestrante. Tal aspecto, afirma ele, é superado somente pela raça japonesa Wagyu, que ele classifica como “a melhor carne do mundo”.

Porém, por ser uma raça de clima frio, o gado Angus não se adapta a temperaturas mais quentes como a do Brasil, onde a criação é concentrada apenas no Sul. Assim nasceu o Brangus, que é o cruzamento, através de inseminação artificial, da raça escocesa com gado zebuíno. Nos Estados Unidos são utilizadas vacas Brahman e no Brasil, normalmente, o Nelore.

Peça de carne de Angus. (Foto: Divulgação/ABA)
Peça de carne de Brangus. (Foto: Divulgação/ABB)

O resultado mescla características das duas raças: o marmoreio, em menor nível que a encontrada na carne de Angus, e o sabor característico do Nelore. Em relação a preço, peças de Angus podem custar em torno de 40% a mais que as de Brangus. Segundo Henrique, uma picanha do primeiro é vendida por cerca de R$ 100,00, do segundo por volta de R$ 70,00.

Preço, porém, não é indicativo da qualidade, conforme criador Luciano Zamboni, ex-presidente da Associação Brasileira de Brangus. Ele afirma que o mercado consumidor local está muito distante dos centros de produção de Angus, o que, “pela lógica do mercado”, torna a carne deste animal mais cara. “O que define o preço é a oferta e a demanda, e não a raça”, afirma. “Há, inclusive, carnes de Brangus mais caras que a o Angus”, prosseguiu.

Selo da Associação Brasileira de Angus que certifica a procedência da carne. (Foto: Divulgação/ABA)

Mas como identificar se a carne é realmente de Angus? De acordo com Klaus Machareth de Souza, superintende da Associação do Novilho Precoce de Mato Grosso do Sul, apenas a ABA (Associação Brasileira de Angus) possui certificadora no Mato Grosso do Sul e os produtos desta raça necessariamente devem conter o selo da entidade impresso na embalagem.

Zamboni, porém, reforça que a ABA também certifica animais Brangus, concedendo o selo àqueles que tiverem o mínimo de 50% de “sangue Angus”. A CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária) e o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), afirma o criador, também fazem o acompanhamento –no caso da primeira entidade, há também um programa próprio de qualidade.

O superintendente do Procon/MS Marcelo Salomão explicou ao Campo Grande News que a etiqueta das peças de carne vendidas no estabelecimento autuado continham a classificação de Brangus, porém uma placa fixada indicava Angus, o que pode confundir os consumidores que não conhecem a diferença entre os produtos.

Salomão afirma que a Iagro solicitou o certificado de procedência da carne vendida. A reportagem consultou a agência, porém não obteve resposta até o fechamento deste texto, que será adicionado assim que for recebida. (Colaborou Humberto Marques)

Matéria editada às 15h33 para acréscimo de informações

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