Corredor Azul

Após tanto fogo em 2020, Pantanal segue em alerta

Aline Lira | 06/02/2021 08:00
Serra do Amolar (Foto: José Sabino)
Serra do Amolar (Foto: José Sabino)

O Pantanal é a maior área úmida de água doce do planeta, com mais de 250 mil km² de extensão, que abrange territórios do Brasil, Bolívia e Paraguai. Contudo, depois de tanto incêndio, visto em 2020, e já pegando a carona na letra da música “Sobradinho”, estaria este bioma sob o risco de virar sertão? O seu título de maior área úmida também está sob ameaça? E se isso acontecer o que acontece com a gente e com a biodiversidade?

As perguntas são inúmeras, mas, grande parte das respostas ainda são vagas ou poucas. Há muito trabalho de campo e científico a se fazer. Todavia, uma coisa é certa, o Pantanal mesmo atingido pelas chamas, com mais de 4 milhões de hectares atingidos pelo fogo no ano passado, ainda tem forças para manter a sua imponência.

O que denota a relevância de datas comemorativas, como 2 de fevereiro, Dia Mundial das Áreas Úmidas, que ressalta a importância da conservação de biomas como ele que é essencial para o bem estar da humanidade.

“Nós, nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e do restante do Brasil, não podemos mudar o rumo da mudança climática global sozinhos. Mas, o que acontece, no Pantanal, no quesito de desmatamento, de abertura de pasto, de manejo da terra isso é possível cuidar e, também no que diz respeito a prevenção e combate aos incêndios. É preciso se preparar, se antecipar a problemática do fogo”, observa o pesquisador francês Dr. Pierre Girard, especialista em hidroecologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Tanto que proteger e incentivar práticas sustentáveis para utilização dessas áreas, certamente, é o caminho mais inteligente para evitar que se torne real a ameaça de desertificação ou redução territorial das áreas úmidas que são cheias de vida.

E os dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) só reforçam o sinal de alerta. Em 2020, foram contabilizados 22.116 focos de incêndios, no Pantanal, isso só do lado brasileiro. Um saldo que não é superado nem com a soma dos incêndios registrados nos três últimos anos: 10.025 (2019); 1.691 (2018) e 5.773 (2017). Números que juntos totalizam 17.489 focos, ou seja, inferiores ao desastre do ano que passou.

Situação que atrelada às mudanças climáticas, ao desmatamento da Amazônia e do Cerrado, às alterações no curso de rios por meio da construção de barragens e ao aumento dos períodos de estiagem, colaboraram para o cenário catastrófico que atingiu não apenas a natureza, mas a economia (turismo e agronegócio) e, logicamente, o povo pantaneiro.

Afinal, tudo está interligado entre os ecossistemas. Similar a um corpo humano, a natureza tem os biomas que são como órgãos, cada um desempenha uma função e, em conjunto, são os responsáveis pelo equilíbrio do organismo - planeta. E, se a Amazônia é vista como o “pulmão do mundo”, as áreas úmidas são os “rins da terra” por auxiliar na regulação das águas nos rios.

Prova disso é a ligação do pulso de inundação do Pantanal com a Floresta Amazônica. Já que o primeiro bioma depende das chuvas originárias da Amazônia, por meio dos chamados "rios voadores", que trazem as águas através das massas de ar úmidas que alimentam os rios.  Tanto que o desmatamento lá região Norte impacta diretamente aqui, no Centro-Oeste.

Da mesma forma, a má utilização do solo, no planalto, leva sedimentos aos rios que desembocam na planície pantaneira e que podem desencadear problemas de assoreamento na Região Hidrográfica do Rio Paraguai. Daí a necessidade é termos equipes permanentes de brigadas de incêndio que zelem pelo bioma. 

Todo um planejamento que posto em prática pode preparar o Pantanal para a próxima estiagem. Além de dar tempo ao homem para que anteveja os desafios ambientais e assim evite danos ainda maiores como a crise hídrica que intensificam os incêndios, por exemplo.

“0s incêndios são um dos impactos mais severos no bioma. Tem impacto na pecuária porque dificulta o manejo do rebanho, a produtividade do pasto cai. Tem impacto na oferta de pescado que reflete na vida da população. Ameaça a biodiversidade que a gente conhece do Pantanal, e que mantém o turismo. Isso porque se o alagamento não se produzir com intensidade, com o pulso de inundação necessário, as zonas periféricas do Pantanal tendem a perder o atrativo de exuberância. Logo, os turistas serão obrigados a irem mais longe em busca dos animais e isso irá impactar a indústria do ecoturismo”, alerta Pierre. 

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