Em Pauta

Um país sem governo pode crescer?

Mário Sérgio Lorenzetto | 07/11/2016 07:08
Um país sem governo pode crescer?

A Espanha resistiu muito tempo sem governo e cresceu o triplo do seu vizinho Portugal. O país continuou a trabalhar e a prosperar. Farão os políticos tanta falta quanto imaginamos? quando já estão no poder, ficarão eles tão presos aos vários interesses partidários que, por vezes, só atrapalham a vida das economias e a dos empresários?

Essas podem ser consideradas indagações "ingênuas" ou "anárquicas", mas são aquelas que muitos europeus estão fazendo ao olhar para os números da economia espanhola, depois de assistirem a mais de 7 meses sem governo.

Uma situação que, aparentemente, provocaria um crash na economia - por ser tão inacreditável, indesejável e invulgar - não teve esse efeito. O mercado funcionou por si. E funcionou promovendo o crescimento. Essa é uma semana marcante para a Espanha. O candidato conservador foi reconduzido como chefe governo. Mariano Rajoy tomou posse no dia 31 de outubro. Rajoy herda um país único, que se aguentou sem executivo, e por isso mesmo, o povo sente-se com mais legitimidade para cobrar um avanço ainda maior.

É importante realçar que a Espanha tem leis e instituições que não são "extrativistas", que não retiram dos empresários e da população para o beneplácito dos poderosos. Essa diferença entre eles e nós, é fundamental para entendermos a possibilidade de um país sem governantes prosperar. Vivem sob o primado das leis e não das instituições. Tem segurança e tranquilidade para investimentos. Tudo que não existe no Brasil.

Política de Reforma Agrária retornará em novembro

Acreditem. São 578 mil pessoas possuindo lotes ilegais, oriundos da Reforma Agrária. Esse número é o resultado do trabalho do Tribunal de Contas da União - TCU. Foram detectados lotes em nome de prefeitos, de vereadores e de proprietários de carro de luxo. Essa bagunça administrativa barrou a aquisição de novas fazendas para a Reforma Agrária no governo Dilma. Foram seis anos de paralisia no setor. A partir de novembro, o Incra começa a reativar o programa nacional com a concessão de títulos a assentados. Assim, após a entrega de 250 mil títulos, esses assentados passarão a ter direito a empréstimos, entrarão no mercado.

Moratória da soja chegará ao Cerrado

Criada em junho de 2006, a moratória da soja foi o primeiro compromisso mundial de tolerância zero ao desflorestamento. Com foco no monitoramento de propriedades privadas, reúne Bunge, ADM, McDonald´s, Carrefour, European Soy Customer (maior comprador de soja da Europa), governantes e ambientalistas. O pacto tem como mérito estancar a sangria desenfreada na última grande floresta tropical do planeta. Apesar da área da soja ter triplicado na Amazônia desde o início do pacto - de 1,2 milhão para 3,9 milhões de hectares - a taxa de desmatamento não acompanhou o desmatamento. Em dez anos, a Amazônia sofreu a perda de 3 milhões de hectares para o grão. Acredita-se que, se não fosse a moratória da soja, o desmatamento teria alcançado 21 milhões de hectares, algo como sete vezes mais. Essa era a taxa anterior ao pacto.

O Cerrado tem sido um "não tema" da indústria da soja e dos componentes do pacto. Até agora, todos fingiam que o Cerrado não existia. Acredita-se que virou uma moeda de troca: a Amazônia seria preservada em troca da derrubada das pequenas árvores do Cerrado para expansão da soja. De concreto: a partir de março de 2017, o governo publicará dados em tempo real sobre o desmatamento do Cerrado. Aviso aos fazendeiros: quem desmatar estará na tela dos computadores. Multa será um dos resultados. Também não venderá seus produtos para as grandes empresas do setor.

Mercado de terras: devagar, quase parando

O mercado de terras atravessa um momento de baixa liquidez e pouco volume de negócios. Os motivos são sobejamente conhecidos: crise econômica, enxugamento do crédito e aumento do custo do dinheiro. Estão ocorrendo apenas negociações pontuais, geralmente entre vizinhos.

Em relação aos preços das terras há uma tendência de estabilização, com valorizações e desvalorizações pontuais. Em média, as terras no Brasil se valorizaram apenas 3, 61% em um ano. Comparando com os papéis bancários a diferença é significativa -por exemplo, o CDI rendeu 13, 84% e o principal medidor de inflação - IPCA - ficou em 9,74%. Isso reflete a desaceleração do mercado de terras em comparação a 2012 e 2014 quando os índices ficaram bem acima da inflação, com média anual de 13,3%.

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