Em Pauta

Um lugar na Itália onde Hitler era santo

Mário Sérgio Lorenzetto | 18/10/2019 06:40
Um lugar na Itália onde Hitler era santo

Como um campanário foi parar no meio desse imenso lago? Para responder a essa indagação, uma pesquisa foi conduzida pelo italiano Marco Balzano. A descoberta trás luzes a duas histórias desconhecidas da Segunda Guerra Mundial. O historiador descobriu que embaixo das águas do lago, existira uma cidadezinha chamada Curon. A única coisa que resta dessa cidade localizado no Tirol - onde se fala, até hoje, alemão - é o campanário. Uma represa colocou a cidade sob as águas em 1950.

Onde Mussolini era o Diabo.

Curon foi a primeira cidade esmagada pelo fascismo em 1921. O historiador afirma que "Não é certo que o fascismo começou com a Marcha sob Roma. Começou antes e o fez em Curon, quando o ditador proibiu seus habitantes de falar a língua que usavam (o alemão), de trabalhar e até de vestir-se como lhes apetecia [braghe de coran con spalazi, calça de couro com suspensório]."
Essa gente odiava Mussolini. Estavam empobrecendo sob seu jugo, desde 1921. Com o início das obras de construção da represa, não sabiam para onde ir e nem trabalhar. Tudo lhes estava sendo tirado e não lhes pagavam nada. Nem mesmo pela terra e casas.

As mulheres comandaram a oposição.

As mulheres de Curon foram as primeiras a enfrentar o fascismo. Como fizeram? Arriscando-se a achar no cárcere ou algo pior por ensinar a própria língua para seus filhos. A palavra é a última forma de resistência de um povo. Cabe aqui um parêntese. As mulheres paraguaias exerceram essa mesma forma de resistência no final da guerra contra o Brasil e Argentina. A língua guarani foi o bastião de liberdade que praticavam. Há também a história do ferreiro obrigado pelos nazis a forjar em ferro a frase na porta que dava acesso ao campo de extermínio de Auschwitz (Arbeit match frei, o trabalho libera). Colocou a letra "b" ao revés, como sinal de uma pequena rebelião.

E Hitler fez-se santo.

Com a chegada das tropas nazistas em Curon, as obras da represa foram suspensas. O alívio foi imediato. Não teriam de sair de suas casas e nem de suas terras. Além disso, os nazistas lhe deram trabalho com bons rendimentos: mandaram que os habitantes de Curom fossem construir uma estrada que daria acesso a um campo de extermínio. Como não lhes foi dito para que servia aquela estrada e lhes pagavam um bom soldo, passaram a adorar Hitler. O horror do nazismo não foi igual para todos.
Com a derrota dos nazistas para os partigiani, as obras da represa foram retomadas. Acabaram em casas pré-fabricadas, as mesmas para onde foram levados os nazistas e fascistas que se fizeram passar por democratas. Durante dez anos, a represa de Curon foi a maior da Europa. Logo, resolveram usar energia nuclear e a represa virou um lago voltado para o turismo.

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