Em Pauta

Um cientista e sua mãe no supermercado do futuro

Mário Sérgio Lorenzetto | 10/01/2020 07:10
Um cientista e sua mãe no supermercado do futuro

Ele empurrou o carrinho para atravessar o tempo e chegar no futuro da alimentação. Levava sua mãe para conhecer esse supermercado. O cientista começou a visita ao supermercado explicando a sua mãe que lá não encontrariam quinoa, chia, goji e esses alimentos que chamam absurdamente de "super-alimentos". E encontrariam outros alimentos que o rigor científico não promete milagres, mas que são ótimos para a saúde. Comecemos pelos insetos, disse o cientista. Pelos grilos, vermes, baratas, larvas, moscas e formigas.

Vamos embora, filho, está me dando ânsia.

Uma grande parte da sociedade associa insetos à sujeira ou a enfermidades e nem lhes passa pela cabeça comer insetos. Todavia, já há uma profusão de empresas na Europa e nos EUA que os estão criando em ambientes perfeitamente higiênicos. Mas é normal, mamãe, que a primeira ideia de comer insetos cause asco.

Insetos limpos? Essa é uma novidade, diz a mãe.

A comida é cultura, mamãe. Por um lado intervém as características do alimento (composição química) por outro, as de cada consumidor (idade, genética, estado psicológico) e, por último, o entorno que o rodeia (religião, hábitos familiares, educação, moda). Todas influências no momento de aceitar ou rechaçar um alimento. Continua sem me convencer, afirmou a mãe, mas gostei da novidade de insetos limpos. Será que dá para limpar todos os insetos do mundo?

Meu filho, os insetos tem muitas proteínas?

Em linhas gerais, os insetos são uma boa fonte de energia e de proteínas de alta qualidade. Também tem altas quantidades de ácidos graxos, e, além disso, são ricos em minerais (cobre, ferro, magnésio, manganês, fósforo, selênio e zinco) e vitaminas (riboflavina, ácido pantotênico, biotina e ácido fólico). Há insetos cujo conteúdo em proteínas é igual ao da carne de vaca, tanto em quantidade como em qualidade.

Há mais alguma razão para consumir insetos? A mãe começava a refletir.

Há sim, as meio ambientais, disse o cientista. A produção de insetos necessita de pouca terra e água. Produz menos metano e pouquíssima amônia. Segundo a FAO, a entidade da ONU para a alimentação e agricultura, os grilos necessitam de 12 vezes menos alimentos que as vacas, 4 vezes menos que as ovelhas, a metade que os frangos e os porcos para produzir a mesma quantidade de proteínas. É uma grande vantagem. Também há fatores econômicos e sociais. Os insetos como uma nova fonte de alimentação - principalmente em farinhas e sopas - podem ser uma nova fonte de desenvolvimento de algumas comunidades que dispõem de pouca terra e água.
Estou convencida, reconheceu a mãe, mas só aceitarei testar as farinhas de insetos. Não me leve insetos inteiros para casa. Voltaram ao carrinho de mercado do futuro e retornaram para o presente. A mãe, antes de sair do supermercado, olhou a placa com o preço da alcatra... sentiu enjoo.

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