Em Pauta

Teu cérebro nunca fica sem problema a resolver

E transforma ética em violência

Mário Sérgio Lorenzetto | 29/12/2018 07:15
Teu cérebro nunca fica sem problema a resolver

Por que muitos problemas na vida parecem teimosos? Não importa o quanto as pessoas trabalhem para consertá-los, eles teimam em permanecer. Acontece que há uma peculiaridade no funcionamento de nosso cérebro que nos faz enxergar problemas em mais lugares quando, em verdade, eles estão diminuindo.
Pense em uma "vigilância de vizinhança" tão em voga em C.Grande, são voluntários que alertam uns aos outros ou chamam a polícia quando veem algo suspeito. Imagine um novo voluntário que se junta a essa equipe, visando reduzir a criminalidade na área. No início dão o alarme quando veem sinais de crimes graves como assalto ou roubo.
Suponhamos que a iniciativa da vigilância dê bons resultados e, com o tempo, assaltos e arrombamentos se tornem uma raridade no bairro. O que o voluntário faria a seguir? Uma possibilidade é a de que ele relaxe e pare de avisar os demais. Afinal de contas, os crimes que preocupavam eram coisa do passado. Mas uma pesquisa feita em Harvard mostrou que não é essa a tendência. Pelo contrário, em vez de relaxar, o cérebro da maioria da pessoas começa a chamar de suspeito atitudes como vagabundear na rua durante a noite. Essa tendência cerebral é denominada de "conceito rastejante".
Você, provavelmente, pode pensar em inúmeras situações similares, nas quais os problemas nunca desaparecem, porque as pessoas continuam mudando a forma como definem esse problema.

O cérebro procura problemas.

Para entender essa atitude cerebral, os cientista de Harvard deram uma tarefa simples a voluntários: examinar uma série de rostos, gerados por computador, e decidir quais pareciam "ameaçadores". Os rostos variavam de muito intimidantes a muito inofensivos. À medida que mostravam cada vez menos rostos ameaçadores, descobriram que os cérebros dos voluntários expandiam sua definição de ameaçador para incluir uma ampla gama de rostos. Em outras palavras, quando os rostos ameaçadores começavam a desaparecer, eles tornavam rostos que inicialmente eram tidos como inofensivos em ameaçadores. Esse tipo de inconsistência, não se limita a julgamentos sobre ameaças.

Quando o azul se torna roxo.

Em outro experimento, os cientistas de Harvard propuseram um teste ainda mais simples: se os pontos coloridos em uma tela eram azuis ou roxos. Como os pontos azuis se tornaram raros, as pessoas começaram a chamar pontos ligeiramente roxos de azul. E de nada adiantou os cientistas tentarem premiar os voluntários para que eles mantivessem a certeza do desaparecimento dos pontos azuis. Eles continuaram, indefinidamente, afirmando que os pontos ligeiramente roxos eram azuis.

Expandindo o conceito de violência.

Depois de analisar os resultados - que não eram modificados - sobre ameaças faciais e julgamentos de cores, os cientistas aplicarem um novo testamento que não envolvia julgamentos visuais e sim conceitos de ética e de violência. Pediram aos voluntários que lessem vários estudos científicos e decidissem quais eram éticos e quis eram anti-éticos e até violentos. Os cientistas esperavam que o teste mostrasse que em julgamentos éticos não ocorreriam tantas inconsistências no cérebro dos voluntários. Mas, surpreendentemente, encontraram o mesmo padrão. Como mostraram aos voluntários cada vez menos estudos anti-éticos e violentos, eles começaram a denominar uma gama mais ampla de estudos como se fossem anti-éticos. Eles se tornaram juízes mais duros. Esse estudo mostra uma falha indelével do nosso sistema de segurança. Ainda que os governantes mostrem quedas de criminalidade em Campo Grande usando números, nossos cérebros buscarão nas notícias um aumento de criminalidade (ou, pelo menos, a manutenção da falta de segurança) que é irreal. Quando não encontrarem em Campo Grande, recorrerão à "fronteira sem lei", como este jornal a vem denominando. E encontrarão o problema almejado pelo cérebro. A sensação de insegurança pode ser maior que a verdadeira insegurança.

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