Em Pauta

Terminam as eleições do vazio agressivo. Voltam as esperanças

Mário Sérgio Lorenzetto | 27/10/2014 07:15
Terminam as eleições do vazio agressivo. Voltam as esperanças

Onde falha o pensamento, resta a agressão

Ao longo dos últimos dez anos, o Brasil desfrutou de enormes avanços: a elevação dos salários, o crédito ao consumidor e as políticas sociais que guindaram 30 milhões de pessoas à classe média. Esta é uma transformação extraordinária em um país de 200 milhões de habitantes. Há outro avanço que pouco é debatido: o avanço do imaginário. O brasileiro perdeu seu senso de inferioridade (a exceção necessária fica por conta do fatídico jogo de futebol contra a seleção alemã). O brasileiro agora se aceita.

O problema principal está nas commodities. O surto de crescimento das commodities dos últimos dez anos, puxado pela China, criou uma ilusão de prosperidade. Os limites dessa prosperidade se fazem sentir neste momento. A economia está em dificuldades.

O país fervilha de potencial frustrado. E o vazio tomou conta de um momento auspicioso, o das eleições, onde as agressões substituíram os pensamentos que nos conduzem às ilusões. Restam apenas as esperanças.

O que é ser de esquerda hoje?

Há uma profunda desesperança com as esquerdas que haviam, há bem pouco, derrotado o pensamento mais conservador. As esquerdas, tanto as calamitosas versões autoritárias quanto a bem-comportada social-democracia, estão perdidas. O que se propõe em seu lugar? O que é ser progressista, hoje?

Há os que se consideram radicais e acreditam em dogmas e modelos, e são fantasistas e revolucionários problemáticos. E há a maioria, compreensivelmente desiludida, que acha que só resta sair dessa encrenca conquistando avanços marginais em patrimônio e eficiência.

Pelo menos, um aprendizado devemos tirar deste triste período eleitoral. A política não tem limite. A política não é uma batalha medieval em que o arauto vem no fim e diz: "Você venceu, você perdeu". Não. Você pode dizer "não perdi", e continuar a batalha. A batalha de ideias e ideais, e não de agressões.

Rodovias e aeroportos avançam

Em setembro de 2012, o país viu ressurgir as concessões das rodovias para a iniciativa privada com o pregão que visava asfaltar 436 km da cidade de Cristalina (GO) a de Delta (MG). Até essa data, foram sete anos sem participação empresarial no setor. Outros cinco lotes foram licitados logo após. Eles somam 4,4 mil quilômetros em trechos que interligam o Sudeste ao Centro-Oeste e contemplarão mais de R$ 28 bilhões de investimentos. Com as licitações, estima-se que mais de 50% das cargas transportadas no país o farão em rodovias sob administração privada, o que deverá reduzir custos logísticos e aumentar a competitividade do agronegócio e indústrias.

Outro grande avanço foi a atração de capital privado para os aeroportos. Em 2012 e 2013, apesar da onda criada belos banqueiros de pessimismo que tomou conta do país, cinco aeroportos - Brasília, Guarulhos, Viracopos, Confins e Galeão - , que movimentam cerca de 45% dos passageiros, foram transferidos à iniciativa privada. Esse novo cenário promoveu um salto de qualidade dos serviços, além de uma maior concorrência entre os aeroportos. A demanda de passageiros poderá chegar a 2020 com 211 milhões de passageiros nos aeroportos nacionais, quase o dobro dos 111 milhões transportados em 2013.

Ferrovias e portos ficam estacionados

Avanços registrados em rodovias e aeroportos são dignos de aplausos, mas em ferrovias e portos o cenário mantém-se indefinido. Os novos modelos regulatórios dos dois segmentos não foram testados, o que só deverá ocorrer em 2015. O modelo das concessões ferroviárias é inédito pois prevê que a construção e a operação das ferrovias serão feitas pelos empresários vencedores dos leilões, mas terão toda a capacidade de carga comprada pela estatal Valec, um híbrido estranho.

O setor portuário também levanta dúvidas. Desde o ano passado, o governo se prepara para lançar à iniciativa privada editais de licitação de mais de 100 terminais portuários, mas há pendências jurídicas que têm dificultado o processo. Um dos principais impasses se refere a cerca de 30 contratos de concessão antigos, que existiam antes da lei de 1993 e que o governo pretende licitar de novo. Um imbróglio jurídico de difícil solução.

Brasil tem 225 mil milionários

Os 225 mil mais ricos brasileiros têm US$ 3,2 trilhões, ou US$ 23,4 mil quando divididos pelo número de adultos residentes no país, segundo relatório de riqueza global do Instituto de Pesquisa Credit Suisse. Os integrantes do topo da pirâmide brasileira avançaram em relação a 2000, quando a média era de US$ 7,9 mil. O Brasil foi considerado, no relatório, um país da fronteira de riqueza. Estão no grupo alguns dos maiores países do mundo em população. Fazem companhia ao Brasil a China, Rússia, Egito, Indonésia, Filipinas e Turquia. No mundo todo, a riqueza por adulto alcançou a média de US$ 56 mil em 2014. No topo do ranking, está a Suíça, único país do mundo a ultrapassar a fronteira de US$ 500 mil por adulto.

Maioria da população acima de 60 anos não tem reserva financeira

Uma pesquisa encomendada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) revela que 57% das pessoas com mais de 60 anos não possuem qualquer tipo de reserva financeira ou investimentos. Ao considerar apenas os entrevistados com baixa escolaridade, o percentual sobe para 68% e, no caso dos integrantes da classe D, para 77%.

Segundo o estudo, a preocupação com os familiares e amigos é um dos principais motivos para esse grupo não conseguir fazer um "pé-de-meia". Quase a metade dos entrevistados, cerca de 47%, garante que pensa no futuro da família e acaba deixando de fazer coisas que gostaria para manter uma reserva financeira. Apesar da maioria afirmar não ter reserva, 72% das pessoas com mais de 60 anos declararam ter uma situação financeira estável.

As dívidas em atraso são uma realidade para eles e elas: três em cada dez (32%) já tiveram o nome incluído em serviços de proteção ao crédito só no último ano. De acordo com o SPC, o número de idosos inadimplentes já chega a 4 milhões de pessoas, o que representa cerca de 25% da população acima de 65 anos.

Cristovam Buarque poderá ir para a História como o senador da maconha

Vinte mil brasileiros assinaram uma petição solicitando ao Congresso Nacional a liberação do plantio, comercialização e uso da maconha. Esse pleito está parado na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal. Por sua vez, a CDH designou o Senador Cristovam Buarque (PDT-DF) como seu relator. O senador diz que, antes de apresentar seu relatório, pretende realizar audiências com mais setores da sociedade, além das muitas que já foram realizadas. Para o senador, a responsabilidade que lhe delegaram é um "abacaxi". "Gastei muitos anos de vida para ser o senador da educação. Não quero o carimbo do senador que liberou a maconha". Se tiver de colaborar para isso, será por "uma obrigação histórica", da qual não possa correr.

Mesmo assim, o senador ressaltou que uma das maneiras de se livrar do tráfico de drogas é a regulamentação da maconha. "Vamos continuar convivendo com o tráfico de drogas? Não. Como vamos nos livrar do tráfico? Uma das propostas que tem hoje é a regulamentação".

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