Em Pauta

Só falta a Rússia invadir o Brasil

Mário Sérgio Lorenzetto | 05/11/2016 08:11
Só falta a Rússia invadir o Brasil

Trinta anos consecutivos de democracia deveriam ter nos colocado em um patamar mais civilizado. No Brasil atual não existe meio-de-campo, só ataque e defesa. Nos últimos dias, a proposito de uma campanha publicitária do governo cujo slogan era "Vamos tirar o Brasil do vermelho", em um trocadilho com a cor que representa, simultaneamente, contas negativas e esquerda política, a deputada do PC do B, Jandira Feghali, chamou Michel Temer de "fascista". O atual presidente da República pode ser tudo, menos fascista.

Logo em seguida, Janaína Paschoal, a advogada que brilhou durante o impeachment de Dilma, alertou para o perigo de uma invasão do Brasil pela Rússia, disse ela: "Com uma base militar na Venezuela, Putin estará a um passo de atacar o Brasil. Estão rindo? Pois eu estou falando sério". Janaína precisa descobrir que a Rússia deixou o comunismo e vem praticando o mais franco capitalismo. É mais fácil o Brasil invadir a Rússia com uma imensa boiada, do que os russos colocarem suas tropas em nossas fronteiras.

Repentinamente, todos viramos comunistas ou nazistas. Se alguém critica o aperto nos gastos promovidos pelo governo federal, é mandado pelo parceiro de discussão para Cuba. Se alguém propõe privatizar um banheiro público que seja, é mandado para *#!"+&¨*#!*%#!"+*%&.

É verdade que temos ampla liberdade para discutir mais. Mas passamos a discutir mal. Não existe a mínima seriedade no debate político, apenas ofensas. Já nos anos 50, Leo Strauss inventou a expressão "Redoctum ad Hitlerum", para classificar quem cai no facilitismo de acusar o outro de "nazi" em uma discussão. Na era da internet, Mike Godwin aprimorou essa teoria com o que foi denominado de Lei de Godwin: "quanto mais uma discussão online se alonga, maior a probabilidade de alguém ser comparado a Hitler".

Enquanto o radicalismo político no Brasil esteve encerrado nos computadores, era algo suportável. Fétido, mas tolerável. A situação degringolou com os cariocas. Resolveram optar entre o marxista Freixo e o radical conservador Crivella. O Rio de Janeiro se tornou o baluarte dos extremismos. Crivella venceu, falta a turma do Freixo convocar os espíritos dos comunistas russos para invadir as praias. Vão baixar em outro terreiro!

Apreensão nos bancos. A dívida chinesa bate recordes

O principal indicador da dívida na China bateu recorde no primeiro trimestre de 2016, dando um sinal de alerta para os riscos iminentes no sistema bancário da segunda (ou primeira) maior economia do mundo. Entre janeiro e março, o desvio entre o crédito e o PIB atingiu 30%, o nível mais alto da história e bem acima dos 10% que são aceitáveis.

Quem alerta é o BIS - Bank International of Settlements. Para completar, uma agencia suíça coloca o nível da dívida chinesa acima de todos os outros 41 países analisados, incluindo os Estados Unidos e Reino Unido (é conhecido que até então, os Estados Unidos tinham a maior dívida do mundo). No final do ano passado, a dívida da China atingiu o valor total de 23,6 bilhões de euros, o equivalente a 249% de seu PIB, segundo a Academia de Ciências Sociais da China. Notícia nada favorável para nossos agricultores, pecuaristas e mineradoras.

Gig Economy. A nova tendência do mercado de trabalho é quase desconhecida no Brasil

Quase 7 milhões de desempregados. Essa foi a destruição de postos de trabalho que ocorreu no ápice da crise econômica nos Estados Unidos. No Brasil, já foram destruídos 6 milhões de postos de trabalho (hoje, acrescentamos 6 milhões aos 5 milhões que estavam fora do mercado laboral). Nos Estados Unidos, o rastro de destruição fez a taxa de desemprego subir de 4,6%, em 2007, para 9,3%, em 2010. São números que se assemelham aos brasileiros.

Depois de um período muito difícil para o mercado de trabalho, os norte-americanos encontraram um novo formato laboral: procuram cada vez mais empregos de curta ou muito curta duração que lhes permitem conciliar a vida privada com a profissional, através de uma gestão eficiente do tempo e do dinheiro que auferem. Aprenderam a não desperdiçar o salário que recebem, esse foi o segredo da nova forma de trabalhar.

A esse fenômeno foi criada uma denominação: "Gig Economy". Um movimento que foi buscar o termo "gig" que era atribuído aos músicos de jazz, que nos anos 1920, saltavam de bar em bar, nas ruas de Chicago, à procura de trabalho.

Nos dias de hoje, ser "Gig" é fazer um trabalho especializado e razoavelmente bem remunerado por pouco tempo. Os profissionais liberais são os que mais se adaptam a esse fenômeno, mas, em tese, qualquer outra função pode ser "Gig".

No Brasil, até que a dura realidade do desemprego mostre que seus dentes de terror vieram para ficar por muito tempo, ainda permanece a lógica dos contratos permanentes e olha-se para o trabalho temporário como sinônimo de precariedade. Ainda sonhamos com o passado que se foi.

Não só a realidade de crise, mas a revolução da robotização e dos softwares de alta capacidade, farão com que as novas gerações mostrem esse caminho difícil, mas necessário. Todavia, há uma clara limitação, a "Gig Economy" é difícil de se instalar em qualquer país que conte com força majoritária na microempresa. Esse caminho é mais fácil de trilhar em médias e grandes empresas.

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