Em Pauta

Risadas nas salas de parto no lugar das dores

Mário Sérgio Lorenzetto | 16/06/2019 08:10
Risadas nas salas de parto no lugar das dores

Poucas pautas ocupam as mentes da mulheres grávidas nos meses que antecedem o parto, concentram-se na tentativa de controlar as dores durante o trabalho de parto. Além da dicotomia entre parto normal e cesariana, o óxido nitroso - o conhecido gás do riso - está tendo uma ascensão inimaginável em todo o mundo.
Retomando os partos na virada do século passado, esse gás permite que as mulheres mitiguem a dor do parto enquanto permanecem presentes, não saem da realidade. E o melhor, mantém seu senso de controle. Essa forma de alívio está se firmando nos Estados Unidos e na Europa, à medida que as mulheres buscam uma gama mais ampla de opções para a experiência de parto.

A química do gás do riso produz relaxamento e felicidade.

O gás do riso, ou hilariante, produz uma suave depressão em uma região do cérebro relacionada aos sentimentos e à autocensura. Ao inalá-lo a pessoa entra em um estado de relaxamento e felicidade, podendo rir à toa. A sensação é assemelhada a quando exageramos na bebida alcoólica.
Descoberto em 1722, pelo químico inglês Joseph Priestley, não demorou muito para que o gás passasse a ser cheirado em festas. Em 1844, o dentista norte americano Horace Wells percebeu seus efeitos anestésicos por acaso. Em uma festa o dentista reparou que um dos convidados havia se machucado e não sentia dor. Curioso, resolveu testar o gás e foi o primeiro paciente a ter um dente extraído após inalar o gás. O paciente se mantém calmo e consciente.

As vantagens no parto.

A inalação do gás do riso em parturientes não limita a mobilidade e não diminui as contrações. Seus efeitos se fazem sentir após 30 a 50 segundos após a inalação. A dor gera medo, o medo gera dor. É uma espécie de ciclo que o gás do riso ajuda a quebrar.
Ao contrário dos narcóticos peridurais ou intravenosos, o gás do riso pode ser usado durante todos os estágios do trabalho de parto - até o final - e não tem efeitos colaterais - a menos que alguém seja alérgico. Seus efeitos desaparecem assim que a paciente deixa de usá-lo. Simplesmente retira a máscara e o impacto desaparece. E o que é melhor, a parturiente controla a inalação. Se decidir que não gostou do gás do riso, simplesmente retira a máscara.
Por outro lado, é verdade que a epidural tira a dor com maior eficiência que o gás do riso, todavia, seus efeitos colaterais levam horas para desaparecer. A mulher precisa ficar na cama, estará entorpecida e algumas se tornam momentaneamente claustrofóbicas.

Barato e não precisa de anestesista.

Não a toa 50% dos partos na Inglaterra e no Canadá são feitos com o gás do riso. Na Austrália, o índice vai a 60%
Nenhum estudo indicou efeitos adversos em bebês nascidos de mães que usam o gás nitroso. É muito seguro e provavelmente é o anestésico mais usado na história. Também há um grande potencial de uso em hospitais e cidades pequenas usarem o gás do riso como uma opção barata e quando há falta de anestesista. Como o gás nitroso não é tecnicamente uma anestesia - é um analgésico - um obstetra ou até mesmo uma parteira podem configurá-lo para que as parturientes se auto-administrem. E é aí que reside o problema desse gás no Brasil. A organização de nossa saúde só aceita aquilo que for caro, todas as alternativas baratas devem ser esquecidas.

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