Em Pauta

Por que adoramos sentir medo?

Mário Sérgio Lorenzetto | 18/10/2018 07:00
Por que adoramos sentir medo?

O icônico filme de terror "Halloween", celebra 40 anos. Poucos filmes de terror alcançaram a notoriedade desse filme dirigido por John Carpenter. E a ele é creditado o início do imenso fluxo de filmes de terror que se seguiram. O público foi em massa para as salas de cinema ver um assassino mascarado matar aleatoriamente e estabelecer o caos em uma pequena cidade, lembrando-nos de que os sistemas de segurança que montamos em nossa casas não podem nos proteger do injusto, do desconhecido. O filme não oferece justiça para as vítimas no final e nenhum equilíbrio entre o bem e o mal.

Como funciona uma montanha-russa, o brinquedo que pagamos - e caro - para nos divertirmos? Como o carrinho não é motorizado, todo o movimento de uma montanha-russa é quase que exclusivo da ação da força da gravidade. Por isso o trajeto desse aterrorizante brinquedo sempre tem logo de cara uma enorme descida que dá o impulso inicial para o carrinho percorrer o resto do caminho. O objetivo é jogar os passageiros nas situações mais apavorantes possíveis. Os mais modernos chegam a inacreditáveis 160 km/h em sete segundos. Por que, então, as pessoas gastam seu tempo e dinheiro para sofrer?

Estudando o medo em uma atração aterrorizante.

A Universidade de Pittsburgh, nos EUA, passou dez anos investigando a nossa adoração pelo medo. As primeiras pesquisas empacaram em respostas simples como: "Porque eu gosto disso! É divertido!". Para capturar em tempo real o que torna o medo divertido, o que motiva as pessoas a pagar para se sentirem assustadas e o que elas experimentam quimicamente, criaram um laboratório móvel na forma de uma estação assombrada. Essa atração extrema, só para adultos, foi além das típicas luzes e sons surpreendentes e personagens animados encontrados em uma casa assombrada de parque de diversões. Ao longo de 35 minutos, os visitantes experimentaram uma série de cenários intensos onde, além de personagens assustadores e efeitos especiais cinematográficos, tiveram seus corpos tocados pelos atores e receberam choques. Não era uma pesquisa para corações fracos.

Além de aparelhos para medir ondas cerebrais, havia uma parafernália de outras máquinas para medir a química geral do organismo dos assutados visitantes. Relataram um humor significativamente mais alto e se sentiram menos ansiosos e cansados, logo após a viagem pela atração assombrada. Quanto mais aterrorizante, foi melhor para aquelas pessoas. Sentiram-se felizes. Relataram que desafiaram seus medos pessoais e aprenderam sobre si mesmos.

A análise cerebral mostrou que houve reduções generalizadas das atividades típicas do cérebro. Em outras palavras - atividades altamente intensas e assustadoras, podem "desligar" o cérebro até certo ponto, e isso está associado a um sentimento melhor. Por incrível que pareça, funcionou com muita semelhança aos efeitos da meditação.

Frankenstein e os fios de macarrão.

Existiu em Birmingham, na Grã Bretanha, um clube de cavalheiros que se reuniam quando o almanaque anunciava lua cheia. Desta maneira, cada um de seus membros podia fazer a viagem de volta à casa através dos campos iluminados pela luz da lua. Por isso se chamavam "Sociedade Lunar". Entre seus fundadores se destacava Erasmus Darwin, avô de Charles Darwin. Médico, naturalista, fisiólogo e poeta, Erasmus Darwin escreveu tratados científicos que tiveram muita repercussão, tal como escreveu Mary W.Shelley no prefácio de sua obra literária "Frankenstein". O relato do mais famoso monstro surgiu de uma conversa casual entre Percy Shelley - marido de Mary - e Lord Byron, onde ela, segundo suas próprias palavras, assistiu como "ouvinte fervorosa e quase muda". A conversa era sobre os experimentos de Erasmus Darwin que tinha um "fio de macarrão em uma caixa de vidro até que por algum meio começou a mover-se devido a um impulso involuntário".

O fio de macarrão que Mary Shelley entendeu não é um macarrão e sim um verme denominado "vorticella" e que Shelley confundiu com o macarrão "vermicelli", que em italiano significa algo como "pequenos vermes". A vorticella ou animal da roda, é encontrada na água da chuva e segundo Erasmus Darwin podia reviver em um meio aquoso depois de passar muito tempo em meio seco. Ao ser levado de novo à água - e em pouco menos de meia hora - o microrganismo assume a forma de um verme vivo.

Mary Shelley menciona também o galvanismo como inspiração para sua obra. Essa teoria do médico italiano Luigi Galvani - contemporâneo de Erasmus Darwin - explicava que se poderia reanimar um cadáver a partir da eletricidade. Galvani dizia que a eletricidade poderia estimular os músculos devido a existência de uma eletricidade animal. Suas experiências com rãs mortas se tornaram famosas no mundo e até pouco tempo eram adotadas nas faculdades brasileiras.

Aplicava uma corrente elétrica na medula espinhal da rã morta, chegando o cadáver a saltar como se estivesse vivo.

O galvanismo era conversa obrigatória entre todos os membros das ciências daquele tempo. Quando Percy e Mary Shelley chegaram para o encontro com Lord Byron e Polidori no verão de 1816, muito chuvoso, se puseram a inventar histórias de terror. Obrigados ao recolhimento, a história mais exitosa, sem dúvida, foi a criada por Mary Shelley, dando origem a um dos relatos de terror mais universais da literatura, onde Shelley combina terror e ciência em partes iguais.

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