Em Pauta

Polícia não gosta da polícia

Mário Sérgio Lorenzetto | 24/01/2016 07:00
Polícia não gosta da polícia

Campo Grande foi sacudida por uma ação policial. Três policiais militares foram acusados de praticarem truculência em um jovem de 15 anos de idade. A réplica de parte de integrantes da polícia foi imediata: o pai e o filho foram processados há anos. O filho por estupro e o pai por estelionato. Ambos estão livres, aparentemente as acusações que pesaram sobre eles não foram comprovadas. Ainda que fossem culpados, a polícia não pode agir de forma truculenta.

Mas, por outro lado, as notícias do jornalismo não dão maiores indícios de que os três policiais efetivamente teriam maltratado o rapaz. É possível que a Corregedoria da polícia tenha se excedido em pedir a prisão de seus colegas. Tudo é ainda nebuloso. Não se pode julgá-los, em definitivo, sem maiores e melhores investigações. Essas são informações típicas das páginas policiais. Não há espaço, nem intenção, desta coluna em discutir o cotidiano policial.
Mas há fatos que são irretorquíveis.

O primeiro é relativo às manifestações policiais utilizando recursos dos governos, estadual e municipal, para devotar apoio aos policiais presos. Houve uma clara e manifesta insubordinação. A centena de policiais, que se transformaram em manifestantes contrários aos desígnios da chefia da corporação, jamais poderia ter utilizado motos, carros e qualquer pertence governamental para dar voz a sua insatisfação.

Insatisfação, aliás, é o outro nome dos policiais. Não deveriam ser chamados de policiais-militares e sim de policiais-insatisfeitos. Polícia não gosta da polícia no país. A última pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em conjunto com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, ouvindo mais de 21 mil policiais, diz que 33% deles pensam em sair da corporação na qual trabalha - seja militar, civil, bombeiro ou perito criminal.

Se esse percentual é um clamor, há outro ainda mais preocupante: 80% dos policiais afirma que há "muito rigor em questões internas e pouco rigor em assuntos que afetam a segurança pública". A organização policial brasileira faz de tudo para funcionar bem burocraticamente, mas é ineficiente para cuidar de nossa segurança. O problema não é apenas se ela é truculenta, é muito pior, a polícia está montada para não agradar nem mesmo seus componentes.

Delcídio do Amaral e Bernardo Cerveró, dois atores em um quarto escuro.

No dia 4 de novembro de 2015, Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, alugou um quarto em um hotel de Brasília, para aquela que se tornaria a mais importante reunião ocorrida para evitar o corte da guilhotina da Lava Jato. O clima era de terror para uma multidão de políticos brasileiros de todos os partidos. Bernardo Cerveró chegou à tarde no local da reunião. Instalou quatro aparelhos para gravar tudo que Delcídio falasse. Enquanto aguardava, Bernardo dormiu e não teve tempo de ligar todos os aparelhos que tinha levado para fazer a gravação. Bernardo havia distribuído os quatro aparelhos.

Um chaveiro gravador estava em uma mochila, dois outros gravadores estavam em suas roupas e o quarto não foi localizado pela imprensa. Bernardo só conseguiu ligar os dois aparelhos escondidos em suas vestes. Um assessor de Delcídio suspeitou da mochila e solicitou que fosse retirada do ambiente. Mas não teve coragem de checar as roupas do Bernardo. E esse foi o erro fatal. Bernardo gravou uma hora e trinta e cinco minutos da conversa. Torna-se quase impossível afirmar que não houve uma manifesta armação. O filho do Nestor é um ator sem currículo no Rio de Janeiro. Pela sua formação, é difícil crer que tenha partido somente dele a organização dos aparelhos. Alguém o assessorou. E há mais suspeição.

Logo no início da conversa entre Delcídio e Bernardo, é o filho do delator que induz Delcídio a falar sobre a possibilidade de fuga do pai. Delcídio, inicialmente, duvidava da possibilidade.
Delcídio: "mas ele estando com tornozeleira como é que ele deslocaria [duvidando da possibilidade de fuga de Nestor Cerveró]?"
Bernardo: "não, aí tem que tirar a tornozeleira, vai apitar e já tira na hora que tiver, ou a gente conseguir alguém que..."
Pelo que imprensa noticiou, fica claro que Delcídio agiu como um ator. Construiu um enredo mal arrumado na hora da conversa, na vã tentativa de iludir o Bernardo. Agiu como um ator, despreparado para a projeção que a cena exigia. Bernardo também foi um ator. Com as falas bem decoradas e os instrumentos devidamente arrumados. É importante descobrir quem foi o diretor da cena, esse sujeito oculto que dos bastidores manipulou as cordas do fantoche Bernardo.

Dois atores em um quarto escuro. Um tentando ludibriar o outro. O medo tomou conta do ambiente. Só faltou uma música tétrica para completar a peça. Ao final da cena, restou a escuridão e as vaias do público para o Delcídio. Sobraram aplausos e flores para os dois Cerverós. Quase dava para se ouvir a multidão gritando: Bravo! Bravíssimo! Até quando?

Bangkoc é Buda, Lady Boy e Pig Pong pélvico.

Bangkoc é a capital e cidade mais populosa da Tailândia. Com seus seis milhões de habitantes e outros milhões de tuk-tuks, o meio de transporte mais comum. Mas Bangkoc é Buda. A primeira missão do suado turista não é outra senão tentar, em um espaço de tempo curto, ganhar o campeonato de observar e fotografar o maior número de Budas que for possível. E não pensem que contemplar o "Budasutra" é coisa fácil. Em Bangkoc há mais templos budistas que farmácias em Campo Grande. Todos lotados e alaranjados. Buda sentado, levantado, deitado de lado, tatuado, pobre e milionário. Buda em filinha e Buda isolado. Buda esverdeado, de pedra e dourado. E é tanta gente admirando o Buda que ele deve estar mais cansado do que iluminado. Mas sim, os templos são belos e divinos. Cães e gatos são bem vindos e pode-se andar descalço. E andar descalço é uma das coisas mais gostosas que nos esquecemos de fazer.

Bangkoc é sexo. Melhor, são sexos. Além do Adão e da Eva, nesse Éden nasceu o Adelia: um mix com o melhor dos dois mundos. Em Bangkoc, os Lady Boys são tão naturais como o ar que respiramos. E há Lady Boys para todos os gostos e carteiras. O campeonato para descobrir "Quem é Quem" é muito popular na cidade. A regra diz que, se é demasiado perfeita para ser mulher é porque é homem. Em caso de dúvida é só olhar para o meio das pernas...
Mas não só os Lady Boys que dão as cartas nesse jogo. Bangkoc é a Disneylândia do sexo. E as "princesas" sempre têm o papel principal. Além de todas as bizarrices possíveis e inimagináveis, a mais afamada é o "Ping Pong show". Não pense em raquetes, mesas e dois jogadores. O inocente se depara com um palco mal iluminado onde sorridente e ginasticadas tailandesas tiram e atiram bolinhas da "cartola". Show de elasticidade da pélvis que faz corar o mais experiente ginecologista. Jogam Ping Pong, abrem garrafas e atiram dardos contra balões só com os movimentos pélvicos...um espetáculo aplaudido em um ambiente decadente. A mais surpreendente façanha pélvica é a arte da caligrafia...saber escrever com o "corpo" é obra para turista algum não arregalar os olhos e abrir a boca de surpresa incontida.

Polônia chama a uma cruzada contra vegetarianos e ciclistas.

O governo ultraconservador da Polônia radicalizou nos últimos dias. O Ministro de Assuntos Exteriores, Witold Waszczykowski, afirmou que seu governo quer acabar com vegetarianos e ciclistas. Também dirigiu seus dardos contra a sociedade que tem uma mistura de raças e de culturas. Se não bastasse conclamou a população a agir contra as energias renováveis. Seu objetivo é conservar a todo custo a "identidade nacional polaca", baseada, segundo ele, nos intocáveis valores da tradição cristã. Se um polaco comer salsicha e andar de carro ele passa a ser considerado um patriota, vegetarianos e ciclista são traidores da pátria. Outra ação do novo governo polaco é dirigida contra a liberdade de imprensa, demitindo jornalistas e comprando espaço em veículos de comunicação que professem os mesmos credos dos governantes. Novidade: comer carne e usar carro tornou-se uma atitude cristã? Quanta besteira mais os políticos inventarão?

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