Em Pauta

Os quatro desconhecidos homens da Revolução Industrial

Mário Sérgio Lorenzetto | 11/11/2020 06:35
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Ao contrário do que imaginam, a Revolução Industrial  foi tumultuada e levou gerações para produzir riquezas. Tudo começou com a tecelagem, a transformação de flocos de algodão macio em produtos úteis, como lençóis e calças jeans. A tecelagem implica duas operações: fiar e tecer. A fiação é o processo de transformar fibras curtas do algodão em longos carretéis de linha. A tecelagem é o entrelaçamento de dois conjuntos de fios, formando a trama.


John Kay e a lançadeira móvel.

A fiação e tecelagem era indústrias caseiras em todo o mundo. Na Inglaterra, a fiação era trabalho das mulheres. A tecelagem pertencia aos homens. Os processos eram demorados até que John Kay, um jovem do interior da Inglaterra inventou a lançadeira móvel, a primeira das inovações revolucionárias que a indústria necessitava. Essa lançadeira é uma ferramenta que permite transportar o fio da trama de um lado para o outro. A inventada por John Kay dobrou a velocidade da tecelagem. Segundo a história tradicional, tanto as fiandeiras como os tecelões revoltaram-se com John Kay, pensavam que perderiam seus trabalhos. Ficaram tão furiosos com Kay que atacaram sua casa e ele teve de fugir para a França, apesar de ter levado bastante dinheiro, proveniente dos aluguéis de sua lançadeira móvel, morreu na miséria. Seu invento foi amplamente pirateado.



James Hargreaves e a máquina que fazia o trabalho de dez mulheres.

Em 1764, James Hargreaves, um tecelão analfabeto, inventou um dispositivo simples, mas engenhoso, chamado "Spinning Jenny" (Fiandeira Jenny), que fazia o trabalho de dez mulheres fiandeiras. Não se sabe muito sobre Hargreaves. Teve doze filhos e foi o mais pobre e sem sorte dos quatro grandes nomes da Revolução Industrial. Uma multidão de furiosos trabalhadores - que imaginavam ficar sem trabalho - foi a sua casa e queimou vinte Spinning Jennies e quase todas suas ferramentas. Uma perda cruel e desesperadora para um homem pobre. Antes dessa invenção, as mulheres inglesas fiavam 230 toneladas de algodão por ano. Em 1785, graças à máquina de Hargreaves, esse número saltou para 7 mil toneladas.



O inescrupuloso e rico Richard Arkwright.

Arkwright tinha sido dono de bar, fabricante de perucas e barbeiro. Nada inventou. Apenas teve a ideia de reunir sob o mesmo teto as máquinas criadas por John Kay e por James Hargreaves. Roubou as máquinas sem remorso algum. E nem indenização aos criadores, é claro. Era um organizador. Um trapaceiro, na verdade. Mas ótimo organizador. Unindo trabalho duro, sorte, oportunismo e férrea inclemência, ele praticamente monopolizou, por um breve tempo, o negócio do algodão na Inglaterra.
Os milhares de trabalhadores que foram substituídos pela organização de Arkwright foram levados ao desespero. Ele previu isso. Construiu essa que é a primeira fábrica da história humana nos moldes de uma fortaleza e fortificou-a com canhões e 500 lanças. Tornou-se riquíssimo. Na ocasião de sua morte em 1792, Arkwright empregava 5 mil trabalhadores em sua fortaleza. Mais de 20 mil tinham ficado sem ter o que fazer.



O padre Edmund Cartwright e o tear movido a vapor.

Na verdade, esses três personagens tinham dado os primeiros passos para a Revolução Industrial. O homem que mudou totalmente a história da humanidade, o personagem mais importante de sua época (ou talvez de qualquer outra época) foi o padre Edmund Cartwright. Vinha de uma família abastada e aspirava ser poeta, mas entrou para a igreja. Uma conversa casual com um fabricante de tecidos o levou a inventar, em 1785 - partindo do zero -, o tear mecânico movido a vapor. Esse tear transformou a economia mundial e fez da Inglaterra um país rico. Em 1851, havia 250 mil teares de Cartwright operando. Em 1913, alcançara o pico de 805 mil só na Inglaterra. Eram quase 3 milhões espalhados pelo mundo. Se tivesse sido recompensado minimamente, seria o Bill Gates de sua época. Mas não teve nenhum ganho e ainda ficou endividado ao tentar proteger e fazer cumprir sua patente.
Mas Cartwright não parava de inventar. Criou uma máquina para fazer cordas e outra para desfiar lã, ambas de grande sucesso. Sua última invenção seria a mais sensacional e aquela que quase ninguém lhe dá crédito: em 1823, inventou uma carruagem sem cavalos, movida a manivela, capaz de percorrer 43 quilômetros em um dia, mesmo nos terrenos mais íngremes e sem esforço. O primeiro protótipo de um automóvel.

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