Em Pauta

Onde estão os pediatras dos postos de Campo Grande?

Mário Sérgio Lorenzetto | 18/03/2019 07:38
Onde estão os pediatras dos postos de Campo Grande?

É como as enchentes nos rios e córregos. Todo ano há uma enchente de notícias dando conta que os pediatras dos postos de saúde desapareceram. Foram abduzidos por algum ET?
A mais recente pesquisa - de 2018 - mostra que não há falta de pediatras no Brasil. E mais, nos dois últimos anos, houve um acréscimo de 10% do número de pediatras no país. Atualmente eles são quase 40 mil médicos com dedicação às crianças. Ou melhor, elas são quase 40 mil. A pediatria virou uma especialidade feminina. As mulheres respondem por 74% dessa especialidade.

Do individualismo à estatização e a volta ao individualismo.

Até o século XVIII, exercia-se a pediatria de forma individual e os governos não estavam presentes na oferta desse serviço às crianças. Com a Revolução Francesa, no final do século XVIII, houve uma transformação importante: os governos começaram a ofertar esse serviço. Esse trabalho passou a ser entendido como um instrumento de justiça social. No final da Primeira Guerra Mundial, vários países começaram a incorporar os serviços desses profissionais em suas folhas de pagamento. Surgiu o médico administrador de saúde.
Na década de 1970 veio a inversão. Uma nova corrente medica passou a priorizar seus serviços com as mesmas características do passado remoto. O pediatra voltou a ser um médico que trabalhava fora dos governos.

A má remuneração do trabalho do pediatra de governo.

É lapidar. Inegável. Insofismável. Pediatra de governo percebe salários aviltantes. Deles se exige "paixão" e baixa remuneração. O resultado é esse profissional refugiar-se nas clínicas médicas. Mas nelas, há outra enrascada. Os planos de saúde dominaram quase totalmente essa especialidade. Esses planos, de modo geral, o remetem a condições similares às dos postos de saúde do governo, privilegiam a quantidade em detrimento da qualidade. Alem disso, o tempo gasto com preenchimento de formulários, guias e justificativas é maior daquele dedicado aos pacientes.
Aprisionados entre postos e planos, buscam por outras especialidades melhor remunerado. A área mais comum procurada pelas pediatras é a da alergia e imunologia para as que desejam persistir em trabalhos nas clínicas. Para aquelas que optam pelo persistência nos contratos com governos, a migração se dá para a medicina do trabalho.

Esperem novos concursos e novos pedidos de demissão.

É um ciclo que prefeito algum se dispõe a mudar. Todos os anos, dezenas de pediatras pedem demissão dos postos de saúde. A prefeitura responde sempre com a mesma burocracia (ou será burrocracia?): abre concurso para contratar pediatras nas mesmas condições salariais de sempre. Não há o menor interesse em resolver esse angustiante problema para os pais. Os administradores não querem ouvir as pediatras de C.Grande. Não enxergam as dores das crianças e a aflição dos pais. São burocratas de plantão.

Nos siga no