Em Pauta

O segredo mais perverso do mundo

Mário Sérgio Lofrenzetto | 26/02/2018 10:05
O segredo mais perverso do mundo

A mãe não acredita na criança. A avó finge que não sabe. A diretora da escola fica em sua sala, debaixo do ar condicionado, sem se importar.

A criança se encolherá quando ouvir ruídos do outro lado da porta do quarto. É ele que chega. Um monstro real. Alguém que resfolega em seus ouvidos infantis. Que a machuca. Alguém que determina que tudo que acontece é um segredo. O segredo mais perverso do mundo.

O monstro é o papai adorado. O vovô idolatrado. O titio tão divertido. O padastro carinhoso. Principalmente aquele monstro-padastro. Esse homem maligno que é da família, mas não é. Um inimigo infiltrado.

Terá medo de contar para a mamãe. Sabe que ela mandará esse homem para fora de casa e a criança se sentirá culpada. Não contará para a diretora porque ela não acredita nos alunos. Sua vida é um eterno pesadelo... quando acorda.

Toda a propaganda feita até agora não deu resultado algum. Segundo a Organização Mundial de Saúde, uma em cada cinco meninas e um em cada treze meninos, são vítimas de abuso sexual.

Há milhares de campanhas para combater a pedofolia. Todas repletas de eufemismos anestésicos e dirigidas a adultos. Muitos deles são os que protegem os monstros. Talvez a solução única seja dizer às crianças que "se acontecer isso, venha me contar imediatamente". Mas explicar o "isso" maligno aterroriza a todos.

Esse é um mito que temos de vencer. A criança têm de ser educada para delatar. Essa deve ser uma das raríssimas delações humanas consentida pela imensa maioria da humanidade. Quem não aceitar o trato da delação, não pode viver em nossas casa. Nem passar pela porta. Professor que não admitir essa terrível verdade, têm de ser demitido. Não podemos continuar, mansa e pacificamente, vendo o desfile do carnaval dos sentidos dos monstros. Alguma ação drástica e efetiva têm de ser tomada. Temos de enfrentar, e vencer, nossos próprios terrores.

 

Fracasso é a nova tendência de 2018.

O fracasso foi reconhecido pela Forbes como uma tendência para 2018 e defendido por figuras icônicas do mundo empresarial. Reeds Hastings, que não é poeta, mas gerente da Netflix, declarou a Deus e ao mundo que a empresa precisa se arriscar mais. Aceita de bom grado que alguns filmes por eles produzidos sejam cancelados. Jeff Bezos, big boss da Amazon, afirmou que o crescimento da companhia se deve, em grande parte, a projetos malsucedidos. Óbvio, que estes senhores não estão desejando glamourizar o fracasso. São visionários que admitem arriscar muito.

A palavrinha da moda é "accontability". Em bom português, significa "dar a seus funcionários a autonomia necessária para que eles façam as mudanças que acreditam ser necessárias e apoiá-los caso algo dê errado". No início de 2017, o mesmo Bezos enviou uma carta aos acionistas explicando como aprendeu a discordar de decisões da equipe, mas apostar nelas mesmo assim. Tornar o erro aceitável, é passar a segurança necessária à ousadia.

É claro que as grandes vitórias em qualquer segmento da atividade humana nasceu de riscos imensos. Desde os primeiros passos do homem saindo da savana africana, abandonando a segurança, para aventurar pelo mundo, foram necessárias enormes doses de ousadia, de risco. Mas louvar o fracasso é algo difícil de aceitar, não faz parte de nossa genética, não está em nosso caminho evolutivo. Se louvamos o fracasso, como ficam as vitórias?

Efeito Dunning-Kruger: a mania de exagerarmos quem somos.

Você é melhor motorista que os demais? É melhor em teu trabalho que os inúteis de teus companheiros? É mais inteligente que a média? Não serei eu quem ponha em dúvida tuas capacidades, mas é possível que seja vítima do Efeito Dunning-Kruger, segundo o qual tendemos a supervalorizar nossas atitudes sociais e intelectuais. Tendemos a uma "superioridade ilusória".

Essa crença é tão difícil de evitar que chega a "transgredir as leis da matemática". Por exemplo, quando perguntaram aos engenheiros de softwares que qualificassem seu trabalho, mais de 30% assegurou fazer parte dos 5% melhores da empresa onde trabalhavam. Esse foi o primeiro estudo realizado pelo cientista David Dunning que dá o nome ao efeito. Outro estudo mostrou que 80% dos motoristas asseguram que são melhores que a média.

Quem mais tende a se supervalorizar são, precisamente, quem é pior qualificado. Quanto menos sabemos sobre um tema, mais tendemos a crer que sabemos o suficiente. De fato, os melhores tendem a infravalorizar ligeiramente suas atitudes, até o ponto em que os mais ignorantes acreditam saber tanto quanto os especialistas.

O erro dos especialistas também é interessante: eles não acreditam saber menos que os demais, e sim que muitas vezes pensam que os ignorantes sabem muito sobre o tema que dominam.
Uma mente ignorante, ao contrário do que imaginamos, não está vazia. Está cheia de ideias preconcebidas, experiências, intuições, além de conceitos que importamos de outros campos do conhecimento. Com tudo isso, construímos histórias e teorias que nos dão a impressão de ser conhecimento fiável. Em um estudo da Universidade de Yale todos os entrevistados pouco sabiam sobre nanotecnologia, mas todos se arvoraram em opinar se essa tecnologia compensava ou não os riscos.

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