Em Pauta

O inimigo - irresponsabilidade. Ninguém explica por que a educação não dá certo

Mário Sérgio Lorenzetto | 14/05/2015 07:35
O inimigo - irresponsabilidade. Ninguém explica por que a educação não dá certo

O inimigo número 1 da educação é a irresponsabilidade.

Não existe governança na educação. Ninguém é o responsável. Ninguém senta e explica por que a educação não dá certo. É possível explicar esse problema com uma analogia com o futebol. Todo mundo tem de apoiar a seleção. Mas há necessidade de eleger uma equipe técnica que vai fazer a seleção jogar bem. Esse conceito comezinho não existe no país. Todos acreditam piamente que com mais dinheiro investido na educação ela melhorará. É uma ideia miraculosa. Só acredita nela quem crê em mágica.

Vamos dar 10% para a educação ou outro percentual qualquer. Quais serão as consequências caso a educação não apresente resultados? A resposta é uma só: nenhuma. Estamos certos em aumentar as despesas com o ensino, mas o aumento de verbas tem de estar ligado à governança. A pergunta que se faz de imediato é: não seria o ministro da Educação o responsável por sua governança? Ele e todos os demais dizem que não, pois há descentralização. Que país é esse onde ninguém é responsável pelo maior desafio de todos? A descentralização na educação é ótima, mas se ela ocorre à custa de nenhuma governança, não faz sentido. É igual tentarmos colocar alguém na lua sem um projeto e sem governança. A nave não decolará. E dirão que faltou dinheiro para ela chegar a seu destino.

Há outro problema fundamental a ser resolvido na educação: você vai a um bairro pobre e encontra uma escola com ótimos resultados educacionais, mas a escola do bairro vizinho apresenta péssimos resultados. Uma coisa que poderia ser feita seria regular a autonomia de cada uma delas. A sua escola está bem? Ela terá autonomia. Vai mal? Isso deve mudar. Existe uma coisa que é a hierarquia do direito: acima do direito de autonomia da escola está o direito do aluno de aprender. O que você faz quando uma empresa apresenta maus resultados? Muda o gestor. Com a escola acontece o contrário. Ela apresenta resultados horríveis e ninguém diz: "Basta, vou trocar o diretor". Se tivermos uma grande tropa de bons diretores nas escolas, teremos um início de transformação real do ensino. Mas há uma questão que é chave, decisiva: como promover a difusão dos bons exemplos em um sistema estatizado em que ninguém tem incentivo para melhorar nada? A resposta óbvia é: com remuneração diferenciada e com destaques aos responsáveis pelos bons trabalhos na imprensa.

Um professor é diferente do outro, mas é tratado como se fosse igual. Como gerir uma "empresa" com centenas de milhares de funcionários, com qualidade variada entre eles, pagando o mesmo salário? Esse tipo de administração é arcaico e só serve para os sindicatos e para os funcionários que não apresentam bons resultados. Isso vai contra qualquer princípio básico de boa administração.

A aristocracia eleitoral e a corrupção como sistema de governo.

"Corromper os colégios eleitorais era coisa fácil. Estes colégios se compunham, em geral, de poucos eleitores; muitos deles contavam apenas com 200, dentre os quais um grande número de funcionários. Os funcionários obedeciam às ordens recebidas; quanto ao eleitor comum, compravam-no dando a seus protegidos, lojas de tabaco, bolsas nos colégios, ou então concedendo a ele próprio alguma importante função administrativa. Na Câmara, como nos colégios eleitorais, os funcionários eram muito numerosos: mais de um terço dos deputados - 184 de 459, em 1846 - eram prefeitos, magistrados, oficiais. O ministro os controlava alimentando a esperança de promoção. Para atingir a maioria, bastava de trinta a quarenta deputados. Desta forma, a corrupção constituiu-se como um sistema de governo, e inúmeros escândalos, no fim do reinado, provaram claramente que os subalternos praticavam o sistema tão bem quanto o primeiro-ministro". A.Malet e P.Grillet, XIX Siècle, Paris, 1919. Na época, Lamartine (célebre político e escritor francês conhecido por sua influência ao romantismo) chamou a atenção para os perigos de uma "aristocracia eleitoral". A Paris do início do século passado guarda alguma semelhança com o Brasil de 2015?

Conhecem a Revolução Francesa?

" O protestantismo...aboliu os santos no céu a fim de poder suprimir na terra os feriados a eles dedicados. A Revolução (Francesa) de 1789 foi ainda mais longe. A religião reformada havia conservado os domingos; os burgueses revolucionários achavam que um dia de descanso em cada sete era demais, e instituíram, no lugar da semana de sete dias, a década, para que houvesse um dia de descanso só a cada dez dias. E para enterrar de vez a lembrança dos feriados religiosos...substituíram no calendário republicano os nomes dos santos pelos nomes dos metais, plantas e animais". Paul Lafargue, "Die christliche Liebestätigkeit". Liberdade, Igualdade e Fraternidade deram o "charme". Mas...a verdade é bem mais complicada e complexa.

A verdadeira "Fraternidade" à la francesa.

"A questão dos pobres assumiu logo nos primeiros dias da Revolução o caráter de máxima gravidade e urgência. Bailly, que acabara de ser eleito prefeito de Paris com o propósito de aplacar a miséria dos operários, agrupou-os e formou uma massa - cerca de 18.000 pessoas - e os encurralou como animais selvagens na colina de Montmartre; aqueles que haviam tomado a Bastilha de assalto vigiavam os operários com canhões, segurando nas mãos as mechas acessas...Se a guerra não tivesse empurrado os operários das cidades e os camponeses desempregados e desamparados para o exército, e não os tivesse lançado às fronteiras, teria havido uma sublevação popular na França inteira". Paul Lafargue, "Die christliche Liebestätigkeit".

O Prêmio Nobel e o Danoninho que mata a fome em Bangladesh.

Bangladesh é um pequeno país que foi formado a partir do Paquistão. Tem um território do tamanho do Amapá e sua população é 220 vezes maior que o estado brasileiro. Conta com mais de 150 milhões de habitantes. Apenas 15% residindo nas zonas urbanas. É muito pobre. No ranking do IDH, índice criado pela ONU para medir o padrão de desenvolvimento das nações, Bangladesh ocupa a posição 142. Para piorar, cerca de 52% da população com mais de 15 anos não sabe ler e nem escrever e 56% das crianças com menos de 5 anos de idade sofrem com desnutrição.

Em 2005, um economista bengalês, Muhammad Yunus, propôs à Danone, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, uma "parceria": criar um alimento capaz de suprir parte importante das necessidades nutricionais das crianças por um preço acessível. A Danone aceitou o desafio. Em 2007, as mães da cidade de Bogra, uma das mais pobres do país, passaram a comprar um iogurte fortificado por algo como R$ 0,20. Hoje são vendidos mais de 87.000 potinhos por dia nessa cidade. Yunus também é o famoso criador do banco de microcrédito Grameen nos anos 70 e que foi copiado no mundo todo - inclusive pela Prefeitura de Campo Grande e pelo Governo do Estado (geridos burocraticamente, nunca decolaram). Yunus foi o vencedor do Prêmio Nobel em 2006. Talvez a ideia do Danoninho que mata a fome seja melhor sucedida no Brasil.

Uma nova pesquisa sustenta que os robôs não roubam empregos.

As máquinas sempre despertaram o medo de que, em algum momento, substituiriam os seres humanos. Esse temor é algo real para milhões de trabalhadores que já perderam ou brevemente perderão seus empregos. De acordo com a consultoria McKinsey, 60 milhões de empregos no mundo serão substituídos por robôs até 2025.

Mas há estudos que dizem o contrário. Recentemente foi publicado o "Robots at Work" ("Os robôs no trabalho"), estudo realizado pelo Centro de Performance Econômica da London School of Economics que afirma que a ideia das máquinas como responsáveis por desemprego é insustentável. Eles analisaram 14 setores industriais de 17 países no período de 1993 a 2007. A conclusão deles foi: "Vimos que a adoção de robôs nas linhas industriais aumenta a produtividade, amplia o tamanho dos negócios e permite que os trabalhadores substituídos por robôs encontrem novas ocupações dentro das próprias empresas". Igualmente inesperada foi a constatação de que os trabalhadores, nessa transição, registraram uma elevação salarial, pequena, mas ainda assim positiva. Mas quando se examinam os subgrupos, percebe-se que os funcionários com baixa e média qualificação tendem a perder o emprego ou ser realocados para uma posição com remuneração pior. Enquanto os funcionários altamente qualificados são os que sempre conseguem os ganhos salariais embutidos na introdução de novas tecnologias.

Nos siga no