Em Pauta

O homem que mudou o mapa da evolução humana

Mário Sérgio Lorenzetto | 30/10/2019 06:21
O homem que mudou o mapa da evolução humana

Quando, em princípios do século XX, o mundo científico passou a concordar com a Teoria da Evolução e os achados de fósseis tornaram-se comuns, foi formando a ideia de que o homem era originário da Europa ou da Ásia. Descobrimentos como os neandertais, o Homem de Java e o Homem de Pequim determinaram o rumo dos antropólogos para as escavações no Ocidente e no Oriente na busca interminável dos rastros de nossa espécie. Mas um homem desviou esse rumo para a África: Louis Seymour Bazett Leakey (07 de agosto de 1903 - 01 de outubro de 1972). Foi Leakey quem conseguiu convencer a comunidade científica de que nossos primeiros progenitores tinham vivido no continente africano.

Um queniano de pais missionários anglicanos.

A infância desse singular antropólogo foi a que muitos meninos desejariam. Nascido no Quênia, de pais missionários anglicanos, sua educação transcorreu entre a Inglaterra e a África. Na Inglaterra era um aluno a mais, todavia, na África era o rei da selva. Vivia uma contínua aventura. Na Inglaterra descobria as ciências, no Quênia criava macacos e outros animais junto com outros meninos da tribo kikuyus, que o admitiram como um membro.
Na Universidade de Cambridge ousou. Pediu para ser examinado em swahili, a língua comum da África Oriental. A resposta foi surpreendente. Não só aceitaram seus exames em swahili como também lhe pediram que participasse da banca de outro estudante que só queria falar essa língua. Seus passos o encaminhavam para seguir os trabalhos de seus pais, mas rapidamente derivou para as escavações.

Portas fechadas em Cambridge.

Foi na época das primeiras escavações que conheceu sua esposa, Frida Avern, que o acompanhava nas descobertas de fósseis e lhe deu uma filha. Mas Leakey também era um homem inquieto na vida amorosa. Foi viver com Mary Nicol que também era ilustradora, como Frida. O escândalo conjugal lhe fechou as portas de Cambridge. Mas Louis e Mary se converteram em um casal icônico. Estavam rodeado de glamour por todo o mundo científico. Mary era uma cientista discreta e rigorosa. Louis assumia a imagem pública e o espetáculo. Ainda que exagerasse em suas afirmativas, era muito bem conceituado.

Descobertas espetaculares.

As descobertas iam aparecendo uma atrás das outras. Cada qual mais espetacular. Depois do Proconsul africanus, de 1948, veio o Zinjantrophus boiensi, em 1959 e o Homo habilis, em 1964. Os hominídeos dos Leakey não só empurraram para trás, em mais de um milhão de anos, o nascimento da linhagem humana como fincaram a estaca de que todos viemos da África. Uma façanha inacreditável, especialmente pelo racismo vigente.

As Trimates, um dos principais legados de Leakey.

O casal Louis e Mary Leakey se separou em cima de uma série de escândalos. Mas essa nova separação se deu em outros tempos. Louis continuou ostentando o título de "Patriarca da Paleoantropologia mundial".
Seus contatos com a National Geographic e outras entidades facilitaram o financiamento para as pesquisas de um mítico trio de mulheres que Leakey apelidou de "Trimates". Dian Fossey, com o estudo dos gorilas; Jane Goodall, com os chimpanzés e Biruté Galdikas, com os orangotangos.
Pouco antes de sua morte, em 1972, por ataque cardíaco, o famoso biólogo Stephen Jay Gold disse que Leakey "foi uma lenda, inclusive segundo o próprio Leakey".

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