Em Pauta

O consumo do fumo de Angola na sociedade brasileira do século XIX

Mário Sérgio Lorenzetto | 23/11/2014 18:00
O consumo do fumo de Angola na sociedade brasileira do século XIX

O pito do pango

Distantes das boticas (farmácias), vulneráveis às moléstias tropicais e pouco familiarizados com as plantas medicinais da flora brasileira, os colonos e os africanos tinham de se submeter aos ensinamentos naturais, procurando combiná-los com as vagas noções que traziam de outros países.

Se serviam para curar, as drogas também colaboravam para a reprodução da sociedade implantada pelos portugueses. A igreja exigia virilidade do homem para que ele, após o matrimônio, realizasse a função reservada ao marido pela Bíblia: gerar prole. Para estimular a "elasticidade " masculina, como diziam à época, acreditavam que a banana e o amendoim eram afrodisíacos. Por outro lado, como os padres também controlavam os excessos sexuais, contavam com uma lista de plantas antieróticas que incutiam as sementes de alface, a melancia e o melão como eficazes para o desestímulo sexual.

Cultivada pelos africanos nos períodos em que a cana-de-açúcar crescia, a maconha era usada em rituais religiosos e como forma de "resistência não-violenta": a absorção do "fumo de Angola", como era chamada, contribuía para estabilizar a tensão latente entre senhores e escravos.

Mas o nosso país sempre se serviu de leis para impedir o uso de maconha. E nunca conseguiu resultado minimamente eficaz. Em 1830, a cidade do Rio de Janeiro publicou seu Código de Posturas trazendo a mais antiga proibição do mundo ao uso da maconha. "São proibidos a venda e o uso do pito do pango, bem como a conservação dele em casas públicas. Os contraventores serão multados, a saber: o vendedor em 20$000, e os escravos e mais pessoas, que dele usarem, em três dias de cadeia". "Pito do pango" era o cigarro de maconha.

O documento impresso mais antigo do mundo é o Sutra do Diamante

A Caverna 17 é uma das 400 grutas artificiais, cavadas por monges budistas. São as Cavernas de Mogao para os chineses e, para ocidentais, denominadas de Cavernas dos Mil Budas. Elas estão alinhadas em uma ribanceira nas proximidades de um oásis, o mais estupendo

do mundo, nos arredores da cidade de Dunhuang, na fronteira chinesa com a Mongólia. A Caverna 17 , cuja porta é tão baixa que uma pessoa tem de inclinar para passar por ela, era o lugar onde, em 1907, fora descoberta uma enorme e antiga biblioteca chinesa, que incluía um rolo hoje considerado a mais antiga obra impressa cuja data se conhece. Conhecido como Sutra do Diamante, ele havia sido impresso em 868 depois de Cristo, portanto, 587 anos antes da Bíblia de Gutenberg.

O fato desse livro ter sido impresso por um chinês demonstrava de maneira conclusiva que já havia impressores na China seis séculos antes de Gutenberg ou Caxton tivessem composto seus primeiros livros com tipos móveis na Europa.

O oásis de Dunhuang

O oásis de Dunhuang, onde palmeiras e melões surgem de repente das areias infindáveis do deserto de Taklamakan, existe graças a um pequeno rio chamado Daquan e ao pequeníssimo e cristalino Lago da Lua Crescente, que, embora cercado de dunas de altura fantástica, por algum mistério hidrológico nunca se cobre de areia. E mais, essas dunas tem areias que variam de cor cinco vezes ao dia, devido à variedade de grãos que refletem a luz de maneira distinta. É único e assombroso.

Dunhuang é uma pequena e encantadora cidade. Assim o é há muitos séculos. Dentre as centenas de pessoas que passavam por Dunhuang, eram principalmente os budistas que com mais ardor manifestavam gratidão por chegar a um oásis tão encantador após uma viagem exaustiva nos desertos. Desertos, não é apenas o Taklamakan citado, há outro, o de Gobi, que na primavera oferece outra visão impossível de imaginar - fica coberto por pequenas flores róseas.

As cavernas de Mogao começaram a ser abertas no século IV depois de Cristo, quando chegaram a abrir 700 delas em dez séculos. Algumas eram pouco maiores que o tamanho de uma pessoa, apenas para dormir. Outras tem vários andares, abrigam enormes estátuas do Buda (de até 30 metros de altura) e eram usadas para culto e saudação.

O roubo da biblioteca chinesa e do Sutra do Diamante

Um dos maiores exploradores da Ásia no século XX, o arqueólogo Marc Aurélio Stein, nascido na Hungria e depois cidadão britânico, chegou a esse conjunto de cavernas em 1907.

Stein começou a levar para a Inglaterra os papéis chineses. Levou, levou e levou. E, quando a orgia terminou, Stein tinha carregado algo como 25 vagões de trem cheios de papel: milhares e milhares de objetos antigos que integravam o que agora ninguém dúvida que tenha sido um dos mais ricos assaltos da história da arqueologia. Eles hoje estão na Biblioteca Britânica.

Yoga: uma arte milenar?

Quanto mais antiga uma certa arte, maior autoridade ela acaba por receber. Se é algo que as pessoas fazem há muito tempo parece natural que ela seja boa. Esse é o raciocínio em buscar criar artificialmente a história de coisas que são modernas. O problema não é próprio apenas do “Ocidente”. Ainda que nas aulas de yoga contemporâneas se fale dos “sutras” de Patanjali, um texto de 2 mil anos, a hatha yoga, que fundamenta as atuais classes, era negligenciada, com alguns princípios existentes apenas no papel, até a década de 1960, quando o recém-falecido, aos 95 anos, Iyengar publicou o livro “Light on Yoga”.

Talvez, algo ainda mais desconhecido é a motivação do “redescobrimento” da yoga pelos indianos. A yoga moderna é, em sua origem, uma forma de resistência aos ingleses. Com a colonização, durante a década de 1930, formou-se um movimento nacionalista indiano que passou a boicotar os produtos importados, substituindo as roupas ocidentais por roupas de khadi, uma roupa de algodão feita à mão, com rocas e teares, que teve em Gandhi um de seus maiores divulgadores. Os ingleses justificavam sua dominação dos indianos pela suposta superioridade física, por isso, como resposta, Iyengar propôs, com base na esquecida hatha yoga, uma prática física que era típica da cultura indiana. A busca de Iyengar por autoridades antigas é compreensível. Contudo, ele foi bastante modesto, pois os créditos da yoga moderna deveriam ser atribuídos a ele. Gandhi e Iyegar estavam juntos nos predicados do pacifismo e paciência. O primeiro venceu no campo político-filosófico e o outro na luta contra o preconceito e em favor de uma vida mais saudável.

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