Em Pauta

Jimbo e Florim, a aventura do dinheiro no Brasil

Mário Sérgio Lorenzetto | 25/08/2019 07:11
Jimbo e Florim, a aventura do dinheiro no Brasil

O Brasil dos portugueses era uma imensa confusão. Nem mesmo o dinheiro escapava. Ao lado de moedas portuguesas e espanholas, circulavam peças de outras procedências, trazidas por invasores e por piratas. O cruzado era a principal moeda portuguesa da época, era popular também no Brasil, ainda que muitos a considerassem "moeda de pasguates" (moeda de idiota). Mas havia muito mais. A lista é longa: réis, contos de réis, vinténs, tostões, dobrões e a branca (uma antiga moeda de prata).

O jimbo faz a festa.

Jimbo quer dizer dinheiro. Mas não um tipo comum de dinheiro. Também chamado de "zimbo", era uma pequena concha usada na época como moeda no Congo e em Angola. Os escravos, ao chegarem ao Brasil, encontraram uma concha parecida no litoral da Bahia, o que lhes permitiu manter a tradição ou pelo menos sonhar com o jimbo. Não era considerada tão boa quanto a africana, mas servia. No jimbo de primeira qualidade, catado em Luanda, os traficantes faziam a festa, tiravam um lucro de 600%, já o jimbo brasileiro lhes dava um lucro de 200% por arroba.

Uma jeritiba custa um jimbo.

Se alguém quisesse lhe vender a melhor jeritiba ao custo de um jimbo, você compraria? A jeritiba era a cachaça. Ao lado da mandioca, eram os principais produtos de escambo. Tudo custava alguns jimbos, mas era possível comprar uma vaca (importada de Portugal, não existia vaca brasileira) por algumas jeritibas.

O escambo predominava.

No Brasil, não só os escravos tinham de improvisar com moedas. Desde o início da colonização, moeda metálica era coisa rara. Nem mesmo Mem de Sá, o governador-geral do Brasil, escapou da falta de moedas. Escreveu para a metrópole informando que, por falta de moeda, seu ordenado estava sendo pago em mercadorias. Os padres também viviam de escambo. O padre José de Anchieta escreveu a Roma que, por falta de moeda, o Colégio de Pernambuco recebera em açúcar uma polpuda doação.

O açúcar virou moeda oficial.

Com o tempo, essa rotina de receber algum pagamento em açúcar se institucionalizou. No início do século XVII, cerca de trinta anos depois da carta de Anchieta, o governador do Rio de Janeiro determinou que o açúcar fosse considerado moeda legal, obrigando a todos os negociantes a aceitá-lo. Mas o açúcar não estava sozinho no cumprimento dessa função. De acordo com a região do país, o tabaco, o ferro, o cacau, a baunilha e o cravo, eram consideradas moedas. No Maranhão, na época um Estado que compreendia quase toda a região norte, o dinheiro era o pano de algodão.

"Reales", a moeda espanhola tomou conta do litoral.

No litoral "monetizado" do país, a moeda que acabou tornando-se popular não era nenhuma portuguesa. Era a espanhola "reales", ou melhor a de "8 reales", também conhecida como "peça de oito". No Brasil, essa moeda que está ligada ao nascimento do dólar norte americano, foi apelidada de "pataca". E foram com esses "reales", também traduzido para "real", que vivemos ao longo dos séculos. Ele, mais adiante, passou a ser chamado de "réis" ou por "mil-réis". Os réis já vinham idosos quando, em 1645, se cunhou a primeira moeda no Brasil. Mas a história do domínio português sobre o Brasil sempre está eivada por alguma piada. A peça que saiu da forma foi um florim holandês. Era uma moeda quadrangular, com um molde arredondado gravado no centro, indicando com pontos o contorno que teria se devidamente recortada. De um lado estava impresso o valor, as letras "GWC", iniciais do nome em holandês da Companhia das Índias Ocidentais, cujas forças ocupavam o nordeste brasileiro desde o início da década anterior. O florim, nome dessa moeda, era válida apenas para o tempo de cerco (moeda obsidional), uma moeda de emergência. Produzida em Pernambuco, pagava o soldo da tropa. O ouro usado para cunhar o florim saiu de um caixote que se encontrava no Recife como mercadoria em trânsito procedente da Guiné. De bagunça em bagunça, fomos moldando as vértebras do país.

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