Em Pauta

Há 50 anos Che Guevara respirava pela última vez

Mário Sérgio Lorenzetto | 11/10/2017 08:05
Há 50 anos Che Guevara respirava pela última vez

Che Guevara foi capturado na manhã de domingo, no dia 8 de outubro. Um grupo de jovens soldados que falavam aimará, quéchua e guarani fora treinado para ir à frente do batalhão boliviano e de agentes norte-americanos. Esses soldados, usando roupas civis, retornaram ao comando da operação na noite do sábado. Dão a informação ao capitão Gary Prado de que um camponês lhes mostrou uma área chamada "La Quebrada del Yuro", onde estavam escondidos os guerrilheiros. O capitão cerca a Quebrada del Yuro às 19 horas. No domingo pela manha começa o tiroteio. Nessa operação Che é ferido na perna esquerda. Um tiro entre o joelho e o tornozelo. Nada muito sério para um homem de 39 anos de idade e acostumado a viver em matos e florestas. Che Guevara é preso junto com o guerrilheiro boliviano Simeon Cuba Sarabia, de codinome Willy. Os demais estavam mortos. Che Guevara diz no momento da prisão: "Não atirem que sou o Che. Eu valho mais do que morto para vocês". O levam à escola do povoado denominado La Higuera.
Che usava uma bolsa de couro, grande, de cor clara. Dentro havia um diário com os meses escritos em alemão, mas a descrição das atividades eram em espanhol, de próprio punho do mais famoso guerrilheiro de todos os tempos. Foram encontradas em sua bolsa uma série de fotografias da família, , medicamentos para a asma e livrinhos de códigos para entrar em contato com Cuba por rádio amador. Mas ele nada transmitia a Cuba pois os cubanos lhe deram um transmissor quebrado. Che era pró-China e Cuba dependia da União Soviética. Muitos acreditam que o Che teria sido enviado à Bolívia para morrer por lá e não criar um conflito aberto na ilha de Fidel.

A decisão de matar Che Guevara.

Há uma rápida conversa entre o agente cubano da CIA, Félix Rodríguez, e o coronel boliviano Centeno Anaya. O agente da CIA recebera ordens para levar vivo Che Guevara ao Panamá e estava aguardando a chegada dos helicópteros que fariam o primeiro transporte. Todavia, o coronel boliviano recebera ordens expressas do Presidente boliviano e de seu Comandante das Forças Armadas para matar Che Guevara. O agente da CIA cede. Ouve do coronel Anaya: "Você têm até as duas horas da tarde para interrogá-lo. E as duas horas você pode executá-lo da maneira que quiser porque sabemos o dano que fez para seu país [Cuba]".
Che parecia um mendigo. As roupas estavam surradas, sujas. Não tinha botas, eram uns pedaços de couro amarrados nos pés. O cabelo estava ensebado. O agente da CIA lhe comunica a morte: "Comandante, sinto muito, é uma ordem superior". Che entendeu que a ordem era para matá-lo e disse: "É melhor assim. Eu nunca deveria ter caído prisioneiro vivo. Tirou o cachimbo que fumava e pediu ao agente: "Quero dar este cachimbo para um soldado boliviano que se portou bem comigo". O agente guardou o cachimbo que iria para um sargento e não para o soldado escolhido por Che. O da CIA perguntou: "Quer algo para sua família?" Ele respondeu: "Bem, se puder diga a Fidel que logo verá uma revolução triunfante na América. Se puder, diga para minha mulher se casar de novo e tentar ser feliz". Essas foram suas últimas palavras. Ele pensou que levaria um tiro naquele instante e se afastou um pouco. Uma rajada curta e Che estava morto. Era uma e quinze da tarde. Há, ainda, um detalhe interessante na conversa entre o membro da CIA e o guerrilheiro. Che explicou que virou presidente do Banco da Nação, o banco do governo comunista, por um erro de entendimento. "Você sabe como cheguei a presidente do Banco?" E contou: "Um dia entendi que Fidel estava pedindo um comunista dedicado e levantei minha mão. Mas estava pedindo um economista dedicado". Em sua morte, Che Guevara era uma figura pouco conhecida. Só comunistas, militares e policiais tinham melhor noção do que representava o argentino para a tomada do poder em Cuba. A imagem do homem benigno, pacifista, terno, amado por jovens do mundo todo foi integral e completamente construída por Cuba e muitos partidos comunistas e socialista do mundo. Che era um homem de ação. Matou e mandou matar milhares de cubanos.

Violência se resolve com mais violência?

O Datafolha em conjunto com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública acabam de fechar mais uma rodada de pesquisas sobre a violência no Brasil. A pesquisa mostra que a sociedade entende que a forma de resolver os conflitos é por meio de posturas autoritárias e de violência. Ou seja, violência se resolve com mais violência. Para a questão sobre posições autoritárias, o índice atingiu 8,1 - a escala vai de zero a dez. As pessoas mais propensas ao autoritarismo , são as mais pobres, com menos escolaridade e moradores do nordeste brasileiro. No outro lado, no meio dos mais ricos, são os que mais rejeitam a ideia de ampliação dos direitos humanos. Nesse caso, o índice atinge 7,8 - a escala também vai de zero a dez. Temos uma combinação perfeita de intoxicação da sociedade: os mais pobres desejando posições autoritárias e os mais ricos não aceitando ampliação dos direitos humanos.
Os partidos de esquerda reduziram a violência como fruto da desigualdade. Frisam que é importante investir na redução das causas sociais que provocariam a violência. É um conceito falho e falido. Falho por termos vivido em mais de dez anos de redução da desigualdade e vivendo com o crescimento alarmante da violência. Falido por ser reducionista. Não é tão simples acabar a violência simplesmente melhorando os "direitos dos bandidos", como a direita julga a questão. Para a direita, a questão da violência está centrada no aumento do narcotráfico e na maldade dos criminosos. Para eles, devemos matar os criminosos, com lei ou sem lei. E esse antigo diagnóstico também nunca conseguiu resultados minimamente razoáveis para extirpar a violência. Todos os estudiosos da violência nos trazem um quadro muito complexo e de dificílima solução.
Na prática não enfrentamos a questão da violência no Brasil. Via de regra, os governantes jogam no colo uns dos outros, como se existissem bandidos municipais, estaduais ou federais. Para alegria dos governantes existe o Exército que é entidade que socorre suas incompetências. Não enfrentamos a questão da violência com discursos e propaganda, mas com centena de ações bem coordenadas, realizadas por raros profissionais bem formados. Passar a mão na cabeça dos bandidos é garantir a permanência do estado de pavor a que fomos submetidos. Executar bandidos é nos jogar nas trevas da crueldade.

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