Em Pauta

Empresas prometem carne de laboratório para 2020

Mário Sérgio Lorenzetto | 15/10/2018 08:42
Empresas prometem carne de laboratório para 2020

Será um choque cultural. Será um choque ainda maior nas finanças dos fazendeiros e na economia do Estado. Chega a carne cultivada em laboratório por engenharia de tecidos. Ante a crescente demanda mundial de consumo de proteínas, a competição para realizar esse feito já começou e em menos de três anos este produto estará nos supermercados mundiais. Quatro empresas estão competindo ferozmente por esse novo mercado. É bom conhecê-las.

Essa carne começa a ser conhecida por diferentes nomes: cultivada, artificial, de laboratório, ética ou in vitro. À partir de uma amostra de um animal vivo - vaca, porco, aves ou peixes - os cientistas fazem crescer músculos em laboratórios. As células proliferam sozinhas em um biorreator que imita o corpo do animal. O que interessa é a proteína. Uma proteína sem gordura e sem o uso de antibióticos, diferenciando dos animais hoje abatidos nos frigoríficos. Inicialmente, terão forma de pasta, para que posteriormente a indústria alimentícia a transforme em hamburgues, salsichas, almôndegas ou embutidos. Por enquanto as picanhas estão livres da concorrência. Todavia, a carne brasileira não compete no mercado da carne de luxo, é quase toda processada e vendida para virar hamburgues.

Microsoft luta contra Google pelo controle das carnes de laboratório.

Nessa competição participam quatro empresas no mundo. A maior delas é a norte americana Memphis Meat, que dispõe da fortuna colossal de Bill Gates, fundador da Microsoft. Se não bastasse tanto dinheiro, ainda têm a seu dispor o dinheiro de Richard Branson, da Virgin e do gigante da alimentação Tyson Foods. Na Europa, a holandesa Mosa Meat desenvolve esse produto e já apresentou um modelo de hamburguer com carne de laboratório. Entre os homens que a sustentam se encontra Sergey Brin, fundador do Google, que em julho injetou outros 8 milhões de euros na companhia.

As outras duas são menos conhecidas e um tanto "pobres" quando comparadas com as duas primeiras. A israelense Supermeat ainda está distante das duas primeiras, e sobre ela, há raras notícias na imprensa ocidental. A Biotech Foods, do maior polo gastronômico do mundo, localizado em San Sebastián, na Espanha, já pode produzir em laboratório alguns quilos de carne de laboratório que, dizem, são excelentes. E não é de duvidar. Essa cidade na fronteira com a França tornou-se o maior centro de estudos alimentares do mundo. Mas correm atrás de algum financiador para produzir toneladas e não meros quilos.

O mercado da borracha, que pertenceu ao Brasil, foi superado pela pesquisa.

Está em jogo um negócio multimilionário. Pretendem começar em 2020. Para 2021, estão certos de que abocanharão 1% do mercado mundial. Logo a seguir, em 4 a 5 cinco anos, serão detentores de 8% do mercado mundial. Eles garantem que as carnes estão boas, são saborosas e são ecologicamente corretas. Quanto tempo levarão para ganhar metade do mercado mundial? Serão donos de 100% do mercado em dez ou vinte anos? As fazendas brasileiras sobreviverão sem vender para o mercado mundial de carne para hamburguer? E as demais carnes - porco, aves e peixes - quando tomarão de assalto o mercado? Enquanto isso, nossas faculdades ensinam... o que mesmo? Um dia fomos os maiores produtores de borracha. A borracha sintética tomou os mercados....

Uma pequena história da borracha sintética.

Em 1909, o alemão Fritz Hoffman sintetizou pela primeira vez um produto natural em laboratório. hoje existente em 100 formas distintas, a borracha sintética se tornou indispensável a partir da Segunda Guerra Mundial. Durante muito tempo, a história da borracha foi 100% natural. Os indígenas chamavam a seringueira de "ca-hu-chu", algo como "madeira que chora".
Os primeiros relatos feitos por europeus datam do início do século XVI. Observaram estranhos jogos de bola entre os indígenas com a borracha. Durante longo tempo procuraram emprego útil para esse material. Entretanto, além de borrachas de apagar a escrita e capas de chuva, nada mais ocorria aos europeus. A borracha natural apresentava problemas incorrigíveis: no frio ficava quebradiça e no calor, grudava. Isso mudou em 1839, quando o norte americano Charles Goodyear inventou o processo da vulcanização. Era a borracha de laboratório. Sua borracha era termicamente mais resistente, mais elástica e mantinha a forma. Em 1880 veio o automóvel. Essa combinação, automóveis e rodas pneumáticas, tornou a borracha de laboratório um material estratégico. E adiós borracha natural, virou um material secundário.

Nos siga no