Em Pauta

É possível um brasileiro viver no Irã?

Mário Sérgio Lorenzetto | 13/01/2020 06:50
É possível um brasileiro viver no Irã?

Depois do Líbano, o Irã era o país mais ocidentalizado no Oriente Médio. Era. Tudo mudou em 1979, com a ascensão ao poder do Aiatolá Khomeini. O país passou a viver sob uma rígida interpretação do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos. O dia-a-dia dos jovens iranianos é muito diferente do de um brasileiro. A hipocrisia é a regra daquela ditadura teológica. As regras são tão draconianas e brutais que não são seguidas pela imensa maioria da população. Entre quatro paredes, os jovens soltam a alegria de viver, uma vez que a tristeza e o mau humor são inerentes às ruas. O contraste entre as regras formais e as normas reais, a permissividade acompanhada por um discurso autoritário e hipocrita, faz parte da esquizofrenia do comando da sociedade.

A moda.

Está na moda, ou melhor, está nas leis, que as mulheres só podem sair de casa cobrindo os cabelos. Se os cabelos estão proibidos de aparecer em público - e conquistar corações - a saída delas é usar uma montanha de cosméticos no rosto. Elas driblam as leis exagerando na maquiagem. Já os garotos são fissurado por carros. Até há pouco, privilegiavam os da marca Peugeot e os nacionais, da fábrica iraniana Samand. Mas essa febre passou. Neste momento, entraram no vale tudo. Qualquer carro que não seja norte americano, é claro.

As baldas de sábado à noite.

Boates, danceterias e bebidas alcoólicas são terminantemente proibidas. Pegou dançando? Cadeia é o destino certo. E só Alá sabe como sairão da cana. Mas há muita hipocrisia nessas regras medievais. As festas rolam soltas nas casas. Portas são fechadas para evitar a propagação do som e os dedos-duros do regime dos aiatolás. Mas, se há muitos "X9", dedos-duros profissionais, há muita "contra-espionagem" juvenil.

Bermudas? Nem pensar.

A maioridade legal é aos 18 anos. Mas isso pouco interessa. A maioria das restrições não tem idade. As saias e as calças das jovens devem cobrir os joelhos. Nem imaginar uma brasileira mostrando parte dos glúteos ou dos seios. Os marmanjos não podem usar bermudas, apesar do calor cuiabano.

Namorando na rua?

Vai para a cana quem beijar na boca em público. A regra vale também para quem trocar qualquer carícia na rua. A saída é paquerar pelas redes sociais. Os iranianos estão sempre entre os primeiros lugares no uso da internet para as relações amorosas.

Cinco canais de televisão.

A ditadura dos aiatolás procura coibir com mão de ferro o acesso às "diabruras da televisão". São apenas cinco canais indo para o ar. Todos severamente fiscalizados pela massa de dedos-duros. Mas essa é, na prática , outra hipocrisia. A quantidade de antenas parabólicas - livres da fiscalização - é gigantesca, apesar de proibida.

Iraniano, profissão poeta.

Os iranianos leem e idolatram seus poetas. E de outros países. Junto com os russos, são o povo que mais lê poesia. Há leituras públicas de poesia em grande quantidade. É uma longa tradição que os aiatolás, por incrível que pareça, não proibiram (ainda). Vale até poesia sensual, algo que qualquer extremista religioso não tolera.
A parte mais genial do conflito entre Irã e Estados Unidos é ver a torcida organizada dos petistas torcendo por essa ditadura de caraterísticas medievais. Vai torcer mal assim lá em Teerã!

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