Em Pauta

Ciência: O falsificador que se delatou e ninguém acreditou

Mário Sérgio Lorenzetto | 21/01/2019 09:24
Ciência: O falsificador que se delatou e ninguém acreditou

Foi Ernest Rutherford, químico nascido na Nova Zelândia, quem demonstrou, em princípios do século passado, que a radioatividade de uma substância é diretamente proporcional ao número de átomos presentes na dita substância. Se não tivéssemos esse conhecimento, até hoje não saberíamos onde estava a verdade em um estranho caso de falsificação de uma pintura famosa, atribuída ao pintor holandês Vermeer (1632-1675), que tem por título, "Cristo com a mulher surpreendida em adultério ".

O marechal nazista ludibriado.

O falsificador era um pintor desconhecido. Um tipo com talento para cópias que falsificava quadros por vingança. Estava ressentido com o mercado de arte, era marginalizado por esse rico mercado. Seu nome era Van Meegeren e seria preso pelas tropas aliadas em maio de 1945, no final da guerra mundial. Não foi detido por ser falsificador, mas por ter vendido esse famoso quadro ao marechal nazista Goering. A detenção era por "colaboracionismo com nazista".

Fugindo da forca.

Com essa acusação, Van Meegeren seria levado para a forca. Mas pouco depois de sua detenção, desde sua cela, confessou que o único delito que poderia ser acusado era o de vender um quadro falsificado para o marechal bobão. Delatou a si mesmo. Confessou que havia sido o autor do Vermeer. E foi além, disse que tinha falsificado muitos outros Vermeer. No princípio, ninguém acreditou no falsificador. Todos pensaram que dizia isso, apenas para livrar-se da condenação à morte. Faltavam poucos dias para se encontrar com o nó da corda. Mentir era uma maneira de salvar o pelo.
Não viu outra solução que não fosse a de fazer outra falsificação na cadeia. Pediu tintas e tela. Desde sua cela, pintou "Jesus entre os doutores"

Os especialistas, a olho nu, não tiveram dúvida, Van Meegeren não mentia. Sua técnica de copista era perfeita. A pena de morte foi comutada é só restou a acusação de falsificador. Mas pouco depois, um ataque cardíaco o impediu de ser condenado. Morreu.

A negação da falsificação.

Muitos quadros de Vermeer haviam desaparecido na guerra. Havia engorde rebuliço com quadros verdadeiros e falsos. Muitos especialistas afirmaram, convictamente, que o quadro que fora vendido por Van Meegeren para o marechal nazista era verdadeiro. A dúvida retornou ao mundo das artes.
Somente em 1967, quando um grupo de cientistas da Universidade Carnegie Mellon, auxiliados por técnicos em energia nuclear, conseguiram demonstrar que Van Meegeren não mentia. O Vermeer era falso. A fraude evidenciava que os átomos, com o passar do tempo, haviam se desintegrado criando novos elementos. Dessa maneira, com o auxílio da física e da química, evidenciaram a data aproximada da pintura feita por Van Meegeren. Só com a ciência existe boa polícia.

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