Em Pauta

China: poucos entendem o gigante asiático que nunca esteve dormindo

Mário Sérgio Lorenzetto | 26/10/2014 09:28
China: poucos entendem o gigante asiático que nunca esteve dormindo

"Essa nação boba"

Assim se referia à China o poeta norte americano Ralph Waldo Emerson, em 1824. A maior parte das pessoas de sua geração via a China como um exótico enigma oriental, empurrado para longe do fluxo da cultura global. Um lugar irrelevante que só podia oferecer ao resto do mundo seda, porcelana, chá e ruibarbo (planta medicinal com efeito estimulante e digestivo).

Alguns enxergavam mais longe. John Hay, secretário de Estado norte americano, observou, em 1899, que a China era: " o centro nevrálgico do mundo" e que quem quisesse se dar ao trabalho de "conhecer esse poderoso império" obteria "uma chave para a política dos próximos cinco séculos".

Somente em 1943, com o bioquímico inglês Joseph Needham, o mundo mudaria essa maneira de ver a China como uma nação boba ou misteriosa. E ele fez essa transformação sozinho. Por meio de suas muitas aventuras pela China, esse homem notável acendeu as luzes sobre os enigmas chineses - e descobriu, como nenhum estrangeiro, antes ou depois dele, que os chineses, longe de existirem à margem do fluxo civilizatório, tinham na verdade criado grande parte dele.

Needham verificou que, ao longo dos séculos, os chineses tinham amealhado uma série de conquistas civilizatórias sobre cuja origem os estrangeiros, que acabaram sendo seus beneficiários finais, não tinham a mais vaga ideia. Descobriu que os três inventos que mais tinham contribuído para mudar o mundo, segundo uma famosa afirmação de Francis Bacon - a pólvora, a imprensa e a bússola - tinham sido produzidos e empregados pela primeira vez pelos chineses. Descobriu ainda que havia uma série de outra coisas - alto-fornos, pontes em arcos, a imunização contra a varíola, o jogo de baralho, o xadrez, o papel-higiênico, o carrinho de mão, o estribo e a aviação a motor - eram todos de produção chinesa.

Essas produções falavam por si mesmas de séculos de fermentação intelectual, dos quais ninguém do mundo ocidental tinha consciência, mas que haviam mudado a face

do mundo inteiro. E até hoje muitos ainda não entenderam o papel e importância desse gigante asiático que nunca esteve dormindo.

Mitos sobre o uso do cérebro

O mito mais famoso é o dos 10%. Os seres humanos usariam apenas 10% da capacidade do cérebro. Não existe conhecimento científico que corrobore essa ideia. Pelo contrário. Em uma sala de aula, os professores podem incentivar os alunos a se esforçar mais, mas isso não acenderá os circuitos dos neurônios "não utilizados". O desempenho de um estudante não melhora simplesmente ao aumentar o volume neural.

Outro mito bastante badalado é o da ênfase no funcionamento no "cérebro esquerdo" e o do "cérebro direito". Esse mito diz que temos um cérebro esquerdo racional e o cérebro direito seria intuitivo e artístico. Os seres humanos utilizam os dois hemisférios do cérebro, esquerdo e direito, para todas as funções de aquisição do conhecimento. Estudos de imagens cerebrais não mostram nenhuma evidência do hemisfério direito como local de criatividade. E mais, o cérebro recruta os dois lados, esquerdo e direito, tanto para a leitura como para a matemática.

Ciência derruba argumentos machistas

O mais polêmico mito vem da visão machista da sociedade - o mito diz que o cérebro do homem e o da mulher diferem em aspectos que ditam a capacidade de aprendizagem. Bem claro: o homem teria maior capacidade cerebral que a mulher. A verdade é que existem diferenças fisiológicas entre o cérebro do homem e da mulher e é provável que tais diferenças os levem a funcionar de maneiras diferentes. Mas nenhuma pesquisa demonstrou diferenças específicas em como as redes de neurônios se conectam ao aprendermos nossas habilidades. Em suma, a forma é diferente, mas a capacidade não difere.

O mais famoso mito machista foi derrubado: as meninas não são mais tagarelas. O senso comum prega que mulheres pronunciam quase três vezes mais palavras que os homens. Algumas talvez, mas o que de fato se sabe, e foi comprovado cientificamente, é que pessoas de ambos os sexos dizem, em média, 16 mil palavras por dia.

GPS torna discussão obsoleta

O outro mito bem conhecido é o de que as mulheres mais dificuldade de localização. Não é bem assim. Dê a um homem um mapa e ele provavelmente conseguirá se localizar. Já para a maioria das mulheres, o mapa mostrará um emaranhado de ruas e causará boa dose de angústia, mas isso não significa que as garotas não sejam capazes de chegar ao mesmo destino, só que recorrerão a recursos diferentes. O hipocampo, parte do cérebro feminino, as fará tomar como base "pistas físicas", como a padaria, a agência de correios, a loja de roupas ou um restaurante. Mas, com o advento do GPS nos carros, essa discussão está se tornando obsoleta.

A culpa é da amídala cerebelosa

A outra pérola machista é a de que os homens "são emocionalmente desligados". É verdade que os homens têm dificuldades para se lembrar do vinho que beberam no primeiro encontro com a namorada ou até da data de aniversário do namoro, mas isso não significa que os homens são insensíveis. As mulheres são simplesmente melhores em lembrar os detalhes que cercam os eventos emocionais porque sua amídala cerebelosa está sintonizada para capturá-los.

As amígdalas ou amídalas (português brasileiro) cerebelosas são neurônios que, juntos, formam uma massa cinzenta de dois centímetros de diâmetro, situada no cérebro de grande parte dos vertebrados, incluindo nós, o ser humano. Trata-se do centro regulador do comportamento sexual, dos sentimentos (tais como a paixão e o amor) e da agressividade.

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