Em Pauta

Cebola holandesa ou espanhola

Mário Sérgio Lorenzetto | 19/01/2016 08:06
Cebola holandesa ou espanhola

O Brasil se nega a plantar cebola. Não existe explicação para o descaso. A cebola que comemos em 2015 era holandesa ou espanhola. Importamos da Holanda nada menos de 270 mil toneladas de cebola fresca ou refrigerada, 80% a mais que no ano anterior. Da Espanha compramos 46 mil toneladas. Houve quebra na produção argentina, mas ainda assim, dos "hermanos", adquirimos 79 mil toneladas. Como é fácil torrar dinheiro, pagamos US$ 90 milhões para os exportadores holandeses pela aquisição das cebolas. Por isso, elas tornaram-se "pepitas de ouro", caríssimas no Brasil. Falta terra em nosso país ou falta inteligência para planejar, minimamente, nossa agricultura? Apenas para recordar, a reforma agrária doa terras para o que mesmo?

Chuvas transformam tomate em alimento de ricos.

O excesso de chuvas em São Paulo e Minas Gerais, que respondem por 35% da oferta nacional do tomate, afetou a produção. Isso se reflete em preços cada vez mais elevados. Os agricultores estão recebendo R$50 por uma caixa de 25 quilos, o dobro do que receberam no início de 2015. Essa alta mais do que compensou a quebra da safra, estimada em 18% - 3,5 milhões de toneladas. Há quase três anos esta coluna procura os responsáveis governamentais que possam organizar o plantio de tomate no Mato Grosso do Sul. Em vão.

O colchão está se tornando o lugar mais seguro para guardar dinheiro? Um ano de cataclismo?

Difícil de acreditar. É preciso ler e reler para convencer que é apenas uma análise, ainda que de uma das instituições mais privilegiadas do mundo, de um dos bancos mais influentes - o inglês Royal Bank of Scotland. As conclusões desse banco são surpreendentes, não apenas pelo conteúdo, mas pelo desassombro. É extremamente raro ver uma instituição financeira desse porte ser tão dura em suas análises e divulgá-las. Não é habitual tanto pessimismo, mesmo quando a atualidade sugere o pior.

Em uma de suas "researchs" semanais, esse banco afirma que 2016 "será um ano de cataclismo", que os "investidores devem ter medo", "que devem vender tudo" e que "o que está em causa é o retorno do capital e não o retorno sobre o capital" (pensar em continuar com o mesmo dinheiro e não em ter ganhos).

E continua espalhando o terror: "Numa sala cheia de gente, as portas de saída tornam-se apertadas", alerta o banco de investimentos, esclarecendo que as bolsas europeias e norte-americanas podem cair entre 10% e 20%. Os motivos são sobejamente conhecidos: a crise do petróleo, instabilidade da China, e a redução do comércio internacional estão na origem de tamanho pessimismo. Os investidores se sentem cada vez mais inseguros sobre onde e como aplicar o seu dinheiro. E não é só no Brasil. Teremos um "ano horribilis"? Um ano semelhante ou pior que 2008?

"Distrato" virou sinônimo de mercado imobiliário. 41% dos apartamentos foram devolvidos.

"Distrato" é o jargão usado pelas empresas do mercado imobiliário para a devolução imóveis comprados na planta. Esse foi o pesadelo de incorporadoras e proprietários de imóveis novos no ano passado, quando o setor registrou recordes históricos no volume de devoluções. Esse foi o resultado do levantamento realizado pela agência de classificação de riscos Fitch; isso significa que as incorporadoras estão com algo em torno de R$ 5 bilhões parados, aguardando compradores. Uma ótima época para negociar, até pela metade do preço inicial, o sonhado apartamento próprio.

As aparências e os discursos dos políticos enganam.

No meio de historiadores de renome internacional há um "prêmio" que é outorgado aos maiores enganadores da humanidade (tal "premiação" não tem similar nacional ou municipal). Um nome que nunca sai das listas dos Top 10 é o de Leopoldo II da Bélgica. Era um senhor idoso, com a aparência e os modos de um respeitável ancião. Tinha enorme talento para a propaganda e conseguiu a proeza de enganar todo mundo levando seus contemporâneos a acreditar que ele era um filantropo e emérito defensor da causa da abolição da escravatura. Em 1876, fez um longo discurso condenando o tráfico de escravos que findava com: "condeno o tráfico de escravos, um comércio que a cada ano resulta em milhares de vítimas massacradas". Com discursos inflamados como esse, convenceu às grandes potências de então, a reconhecerem o Congo como de sua propriedade. No país africano, Leopoldo II, não teve escrúpulos em implantar um regime de terror em larga escala para explorar a borracha. É claro que políticos como Bernal, Olarte e Zeca do PT não conseguiriam tão almejada premiação.

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