Em Pauta

As primeiras japonesas chegaram calçadas com luvas brancas

Por Leonardo Cremer | 11/03/2024 07:20
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Em 1.853, a aparição dos "barcos negros" da marinha norte-americana em frente ao porto de Tokio obrigou o Japão a abrir suas fronteiras depois de 230 anos de isolamento. Se a posição autoritária dos EUA chocou os japoneses, por outro lado se viram obrigados a copiar os avanços do Ocidente não só no armamento, como na política e na economia. Veio o que denominam Revolução Meiji, uma transformação tecnológica e social radical. A industrialização mudou radicalmente a fisionomia das cidades e o estilo de vida da população. Milhões abandonaram os campos e foram tentar a sorte nas cidades. Essas migrações não se limitaram ao território japonês, calculam que um milhão deles veio ao Brasil, Peru, EUA e Hawai. Eram os chamados "nikkeijin", ou simplesmente "nikkei", que significa além de "ascendência japonesa", alguém que se encontra suspenso entre dois mundos, entre duas culturas. A viagem marítima representava uma transição até certo ponto lenta, quando comparada com a brusca passagem imposta pelos aviões atuais. Ela era "A" viagem, com a maiúsculo. Alguns formaram amizades, mas todos sempre se lembrarão de detalhes da viagem - nome do navio, a comida, a mansidão e as tempestades do oceano, os portos intermediários em que desceram à terra e, sobretudo, a chegada. Isso tudo está devidamente registrado quando da chegada dos primeiros japoneses no Brasil.


O verde gritante da vegetação.

Havia um traço genérico em comum de ansiedade, estranheza e expectativa na chegada. Causava estupefação o verde gritante da vegetação, mas a pele escura dos homens e mulheres brasileiros impressionavam muito mais. Se sentiam desrespeitados com a triagem minuciosa e muitas vezes vexatória quando desciam do navio.


Surpresa: mulheres calçadas com luvas brancas.

Se o olhar do japonês, na chegada, prende-se a uma grande surpresa, qual seria o olhar do brasileiro? Há uma reportagem do jornal "Correio Paulistano" referente à chegada dos primeiros japoneses no porto de Santos em 1.908 que também expressa surpresa. A matéria revela que existia uma expectativa derivada de imagens de gravuras japonesas que existiam no Brasil. Está escrito que se deparam com gente muito simples; porém, há decepção. Esperavam vê-los em quimonos e trajes típicos da terra de origem, mas eles estão vestidos à ocidental. Por outro lado, o olhar cinge-se à impressão agradável que causam pela limpeza da roupa e o cuidado das mulheres, calçadas com luvas brancas de algodão. Os homens também causaram estupefação: muitos estavam com medalhas no peito por atos de heroísmo conquistadas na guerra russo-japonesa.

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