Em Pauta

Adeus Cuba. Adeus aos Castro

Mário Sérgio Lorenzetto | 22/04/2018 08:15
Adeus Cuba. Adeus aos Castro

Cuba tem tanta importância para o mundo quanto a República Dominicana: insignificante. A Ilha de Juana, como Cristóvão Colombo a denominou, têm pouco mais de 11 milhões de habitantes é um PIB de pouco mais de US$ 121 bilhões. Seu diferencial estava em um grupúsculo de jovens "bem intencionados" que derrubaram um sanguinário ditador. A boa intenção desfez-se em fuzilamentos. Levaram ao paredão todos os políticos do país. Independente das ideologias. Para os "fidelistas", seguidores do "guia genial" Fidel Castro, todos eram corruptos.
Um impulsivo e outro pragmático, um carismático e outro desprovido de qualquer magnetismo, os irmãos Fidel e Raul Castro deixaram seus sobrenomes marcados a sangue e fogo na história cubana. Nesta semana, o tempo bate à porta do poderoso clã familiar que saiu do foco central mas não distanciou-se demasiadamente do poder. Há mudança de nome no poder cubano. Mudança sem graça nem romance. Esse processo começou há doze anos quando Fidel adoeceu e transmitiu o comando do país, por via sanguínea, como se vivessem em uma monarquia feudal, a seu irmão mais novo.
A Raul coube lidar com a complexa herança recebida. Uma nação com somente números em vermelho, com uma crescente apatia de seu povo é um crescente êxodo que desmentia a historieta daquela ilha ser o paraíso socialista tropical, que era narrado pela propaganda. Em verdade, apenas mais uma ditadura. Com uma trama de proibições que tornavam o cotidiano asfixiante.
Com algumas ideias liberalizantes, mas com uma velocidade de quelônio, Castro II, autorizou a compra e venda de casas, paralisada por décadas; permitiu que a população pudesse contratar uma linha de celular, até então, exclusividade de turistas; e lançou uma reforma migratória na ilha-cárcere. Também começou a impulsionar o pequeno e médio empresário que vivia na clandestinidade, mas temeroso do animal de mil cabeças que havia liberado com suas reformas - o capitalismo, Castro II, paralisou as reformas. Desde agosto passado, as licenças para novos empreendimentos estão paralisadas, as licenças para viagens de seus opositores voltaram a ser proibidas e enfileirou críticas aos poucos empresários locais.
O sucessor, Miguel Díaz-Canel, herda um país em crise é uma sociedade desanimada e um contexto internacional desfavorável. Lhe cabe acabar com a burra dualidade monetária, aprofundar as reformas econômicas e ampliar o setor privado. Como bom títere de Raul II, só fará o que lhe for concedido.

A autópsia de Drácula.

Na Romênia, país de origem do Drácula, persiste um grande conflito sobre o significado desse personagem. O verdadeiro Vlad Teps, o histórico, é um herói nacional. Venceu os turcos em uma guerra sanguinária e pôs os vizinhos húngaros e saxões pagando tributos à Romênia. É devido a esse segundo motivo que em seus dias, proliferavam panfletos de propaganda contra Vlad. Estranhamente esses panfletos continuaram por anos, séculos... Vlad Teps, de guerreiro vitorioso, virou uma lenda negra. O percurso dele é similar ao Isabel Báthori, a baronesa acusada de "serial killer" por motivações relacionadas com a beleza, que em verdade, foi apenas vítima de um complô que lhe retirou todos os poderes. Tanto contra Vlad e Isabel, foi colocada uma maquinaria propagandística como poucas até hoje.
Vlad Teps, na qualidade de príncipe valaco, é um símbolo da dignidade romena. Todavia, o mito criado por Bram Stoker, quase desconhecido na época de seu lançamento, passou a ser explorado ao máximo com o auge do gênero de terror no cinema, desde os anos 50 do século passado. Foi convertido em um fantasma, metade demônio, que chupava o sangue das pessoas. Está má fama levou a igreja católica local e os movimentos nacionalistas - em luta constante contra os comunistas - a se posicionar contra. O pai da nação romena não podia ser uma criatura lasciva de Satanás.
Está controvérsia não é um assunto banal na Romênia. Coexistem nesse país uma exploração turística do mito criado por Bram Stoker é uma corrente crítica ao mito muito forte. Ofende a muitos. Mas os turistas só vão à Romênia buscar o mito sanguinário, o vampiro. E o mito vende muito. Souvenirs, viagens a castelos, a ruínas e a muitas falsificações históricas. O pragmatismo romeno tem seus defensores. Há pouco, as correntes críticas ao mito vampiresco impediram a construção de um parque temático em honra do Conde Drácula.

Positivismo contra anglicanismo.

Se há uma forte disputa em torno de Vlad Teps na Romênia, o problema de identidade em torno dessa figura é importante também na Inglaterra. Muitos consideram que tem mais a ver com os problemas de identidade dos ingleses que dos romenos. Escrevem que a novela de Bram Stoker explorava dilemas religiosos. Contrapunha o positivismo e racionalismo imperantes, contra uma igreja anglicana austera e contrária às superstições tradicionais e o romantismo. Também havia uma vertente que se preocupava com os perigos que poderiam surgir nas fronteiras do império inglês.
A novela de Bram Stoker e seu personagem só foram ter êxito dez anos depois da I Guerra Mundial, depois de uma peça teatral que simplificou o texto original.

A modernidade de Drácula.

Porque Drácula é tão famoso? Drácula perturba, ofusca e obsessiona, entre outras coisas, porque integra e vincula essa mística e milenária figura do chupador de sangue com os medos e desejos próprios da modernidade. Os desejos, medos e paixões foram se cristalizando conforme avançava o século XX. É como se a nivele Stoker tivesse captado a profunda crise que a sociedade de massas iria ocasionar no mundo ocidental - a ruptura dos vínculos familiares e afetivos devido aos grandes movimentos migratórios em busca da industrialização, a fragmentação da identidade individual e o avanço das mulheres no trabalho fora de casa. Foi, pois, nos anos posteriores a 1918 quando as pessoas, mais desencantados é muito mais "modernos", acolheram, com fervor, esse personagem que expressa a ambiguidade do mundo onde tinham de viver, de uma criatura os atrai e horripila em partes iguais. Um sentimento de crise da civilização, que só vimos ampliar no século XXI.

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