Em Pauta

A soja está pendendo para o socialismo nos EUA

Mário Sérgio Lorenzetto | 04/06/2019 06:29
A soja está pendendo para o socialismo nos EUA

A soja pode não parecer tão útil em uma guerra. No entanto, ela se tornou na arma mais importante da China em seu conflito comercial cada vez pior com os Estados Unidos.
A China, maior compradora mundial da soja, está parando de comprar qualquer soja norte americana em retaliação ao governo Trump que elevou as tarifas em US$250 bilhões para os produtos chineses. Essa é uma notícia muito ruim para os agricultores dos EUA e ótima para os sojicultores brasileiros. Vejamos os números.

Soja, pelos números.

A soja é uma parte crucial da cadeia alimentar global, particularmente como fonte de proteína na produção de suínos e de aves.
A importância da China como mercado para a soja tem sido impulsionada por uma explosão na venda de carne para a população chinesa.
À medida que os consumidores mudam de uma dieta dominada pelo arroz para uma onde a carne suína e de aves desempenham um papel importante - o consumo de carne bovina é pequeno - a produção chinesa de carne desses três animais cresceu 250% de 1986 a 2012 e está projetada para aumentar outros 30% até o próximo ano. No entanto, a China não é capaz de produzir ração animal suficiente, daí a necessidade de comprar soja de agricultores estrangeiros.

A China é a maior compradora de soja do mundo.

Em 2017, época onde Trump e Xi Ping ainda não haviam aprofundado a guerra comercial, os Estados Unidos responderam por US$ 21,4 bilhões em exportações mundiais de soja, a segunda maior depois do Brasil, seu principal concorrente, que exportou US$ 25,7 bilhões. A China era a principal compradora de soja e de aviões dos EUA. Era. Veja o quadro que mostra essa ferrenha disputa e o domínio dos dois países.

Mas as exportações dos EUA caíram drasticamente desde que a China impôs uma tarifa de 25% sobre a soja norte americana em abril, como parte de sua resposta inicial à guerra comercial declarada por Trump. Na atual safra dos EUA, que começou em setembro do ano passado, os agricultores dos EUA exportaram apenas 5,9 milhões de toneladas de soja para a China, em comparação com uma média de 29 milhões no mesmo período nos três anos anteriores. Cerca de gigantescos 80% a menos.

Soja, inimiga do voto em Trump.

Os Estados do meio oeste dos EUA foram fundamentais na eleição de Trump, tal como o oeste brasileiro foi para Bolsonaro. Illinois, Iowa, Minnesota, Nebraska, Indiana, Missouri e Ohio, são todos grandes produtores de soja e eram eleitores de Trump. Não há um país que possa comprar tanta soja, substituindo as compras chinesas, como vimos no quadro acima. Também não há esperanças de que o possível encontro entre Trump e Xiping, em setembro, mude esse quadro. Pelo contrário, a guerra toma vulto muito preocupante, chegando às conversações militares. Para amenizar o golpe nos sojicultores, Trump está lhes oferecendo uma ajuda de US$ 28 bilhões. Na prática, é pouco mais que esmola. O que importa nesse comércio é não perder o posto de vendedor. E Trump entregou, de graça, essa posição para os agricultores brasileiros. Os sojicultores norte americanos terão muitas dificuldades para recuperar o posto de grandes vendedores de soja para os chineses em um futuro distante de paz e livre comércio.

Soja socialista.

Também não é de surpreender que os sojicultores dos EUA estão dando uma guinada política nunca antes imaginável - estão pendendo para o socialismo. Há poucos dias, a primeira convenção dos democratas, ocorrida na Califórnia, mostrou algo impensável: o candidato que não se mostrava francamente favorável às pautas mais à esquerda, eram vaiados, inclusive pelos políticos que representam os Estados mais afetados pelo problema da soja. Biden, o candidato democrata moderado, percebendo a mudança, não compareceu ao evento.

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