Em Pauta

A maioria que cuida de dementes são familiares

Mário Sérgio Lorenzetto | 07/12/2018 06:22
A maioria que cuida de dementes são familiares

O cuidado familiar de um idoso tem emergido como um elemento essencial da saúde da população. Todavia, esse cuidado está fora do sistema de saúde pública e, na quase totalidade das vezes, dos planos particulares. E este é um problema que a cada dia se torna mais sério. Estima-se que mais de 80% dos idosos que exigem cuidadores, são seus familiares. O final dessa história é muito claro: os cuidadores precisam de cuidados.

Desafios ao cuidado familiar.

Os cuidadores familiares não são remunerados, pelo contrário, um razoável percentual deles teve de abandonar seus empregos. Eles experimentam múltiplos desafios diariamente ao cuidar de um idoso que não anda e têm pouca ou nenhuma capacidade de compreensão do mundo que o cerca. E esses desafios aumentam à medida que as habilidades cognitivas do idoso diminuem. As cargas de cuidado cobram altos custos físicos, emocionais e financeiros. As pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Europa ( não existe nada similar no Brasil), mostram que os cuidadores experimentam mais depressão e estresse que qualquer outra pessoa que não seja cuidadora de idoso. As pesquisas nos países ricos também mostraram que quase 40% dos cuidadores se aposentaram cedo ou largaram seus empregos. Além disso, os cuidadores estão marginalizados ou ignorados pela sociedade.

Treinamento para os cuidadores familiares.

A regra é um familiar assumir os cuidados do idoso sem ter nenhum tipo de formação ou treinamento. Repentinamente, veem-se responsáveis pela vida de um amado familiar sem saber o que fazer. É um longo caminho de aprendizagem na prática. Esse é o primeiro cuidado que os governantes devem oferecer para os cuidadores: treinamento e informações básicas. São 24 horas por dia, 7 dias por semana totalmente dedicados aos idosos. Essa vida do cuidador - talvez o último "profissional sem profissão" de nossa sociedade - merece ser melhor tratada pelos órgãos governamentais e planos de saúde. Além disso, os cuidadores familiares desconhecem muitas vezes os serviços existentes para seu idoso, ou não podem participar devido a tensões emocionais ( a aceitação da demência do seu idoso é um longo sofrimento), compromissos de tempo ou problemas de programação.

Sem o cuidado do cuidador familiar, o sistema desmorona.

Acreditamos que forjar parcerias sólidas entre sistemas de saúde e familiares de idosos necessitados de cuidados especiais podem melhorar as condições de vida dos cuidadores. Mas ainda restará os problemas dos comportamentos negativos do idoso associados à perda de memória. A perambulação de um idoso perdido nas profundezas de sua mente, é um grande drama das famílias para encontrá-los. A agitação, algumas vezes agressiva, é outra questão fundamental para ser equacionada por essa parceria entre governantes, administradores de planos de saúde e familiares.
Alavancar a tecnologia, como ofertar informações on-line e suporte para aumentar as oportunidades de aprendizagem de como cuidar de um idoso, ajudará a garantir o acesso aos serviços para o público o mais amplo possível. Também há um papel para o ensino superior. As faculdades poderiam ajudar a preparar uma força de trabalho voltada para o cuidado especial ao idoso. Estimam que há quase o triplo de cuidadores familiares do que havia na metade do século passado. Basta dizer que um norte americano ou europeu é diagnosticado com demência a cada 33 segundos ( não deve ser muito diferente no Brasil). Nosso sistema de saúde depende muito dos cuidadores familiares, ainda que os desconheça. Se suas necessidades não forem reconhecidas e tratadas, os cuidadores correm o risco de ficarem exaustos devido ao sofrimento prolongado e às exigências físicas, e a nação acabará arcando com os custos de seu tratamento, muito mais caro que a adoção de medidas preventivas.

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