Em Pauta

A "cerealização" do mundo só ocorreu por volta do ano 1.000 d.C

Mário Sérgio Lorenzetto | 21/06/2022 06:30
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Ainda que as primeiras plantações de cereais tenham origem na Mesopotâmia 4.000 anos antes de Cristo,  a "cerealização" de vastas áreas do planeta só ocorreu por volta do ano 1.000 d.C.. Começaram a plantar cada vez mais trigo e cevada. Na Europa, pela primeira vez os agricultores reconheceram que cultivar a mesma plantação, em certo campo, anos seguidos reduzia sua produtividade. Finalmente copiaram o que os chineses já praticavam: deixavam entre um terço e metade de suas terras para descansar.


As inovações do ano 1.000.

Após ao ano 1.000, os fazendeiros começaram também a alternar as plantações. Uma rotação frequente era de nabos, cravos-da-índia e grãos. Ajudavam a manter os nutrientes e a qualidade do solo. Outras inovações também aumentaram o resultado das colheitas: arados puxados por cavalos, moinhos de vento e ferramentas de ferro que podiam rasgar mais fundo o solo em comparação com as de madeira.


Pararam de seguir o gado.

Antes do cultivo de grãos se difundir, muitos fazendeiros eram itinerantes, mudando de lugar para criar gado. Seguiam suas criações de porcos, cabras, ovelhas, vaca e cavalo. Muitos conflitos, muitas mortes, ocorreram entre os novos plantadores de grãos e criadores de gado. A acusação frequente era de que os animais de criação pisoteavam as plantações, em uma época onde estradas e cercas eram quase inexistentes. Os plantadores de grãos, lentamente, foram vencendo as contendas, via leis ou mortes. Os grãos venceram.


O arroz e o primeiro apogeu da China.

Nessa época, a China passou a contar com algo como 60 milhões de habitantes só na região sul (o mundo tinha 250 milhões), onde existiam as maiores plantações de arroz. O arroz era uma cultura muito mais produtiva que a dos demais grãos. E a regra era: onde cresciam as plantações de grãos, cresciam as populações. A vantagem chinesa sobre a Europa era a de que mesmo tendo um território mais ou menos do mesmo tamanho do europeu, contava com apenas um imperador e ele rapidamente compreendeu que não poderia pisotear livremente as plantações de arroz.


Plantações: auge e decadência maia?

Em algum momento antes do ano 600 d.C, os maias já tinham começado a usar extensivamente a irrigação para cultivar milho. Chegaram a seu apogeu 100 anos depois. Sua população é estimada em 10 a 15 milhões nesse momento. A cidade maia de Tikal, na atual Guatemala, tinha que em torno de 60 mil habitantes. Perto dos anos 800 várias cidades maias entraram em colapso e foram abandonadas. Uma das possíveis explicações foi o excesso de produção agrícola e as mudanças ambientais inerentes a essas mudanças, como a seca prolongada.


Nas Américas havia apenas caça e coleta.

Nas Américas, os habitantes praticavam caça e coleta. Havia alguma plantação, mas era intermitente. Plantavam sementes na primavera e retornavam na região no outono para a colheita. Não cultivavam no verão. Assim, não havia excedentes de grãos suficientes para dar suporte a um crescimento populacional significativo. Nem a escrita surgiu em nenhuma dessas sociedades. O pouco que delas sabemos é devido à arqueologia e não à história. Esse quadro só começará a mudar muito tempo depois, com os astecas e incas.

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