Em Pauta

A arte de viver. O presente sempre foi decepcionante

Mário Sérgio Lorenzetto | 08/08/2017 07:11
A arte de viver. O presente sempre foi decepcionante

O passado sempre foi pior. Essa afirmativa é valida para 90% dos casos que possam ser analisados. Quando as mulheres, as crianças e os animais estiveram mais protegidos que agora? Quando existiu no mundo uma consciência de que os direitos são para todos? Quando se morreu menos de fome? E a medicina? Podemos compará-la com 30 anos atrás? E a política? Sim, cresce a cada dia a opinião de que as democracias são imperfeitas.

Mas não é possível sustentar que os regimes feudais, as ditaduras militares e as velhas ideologias de esquerda e de direita nos dão melhores condições de vida. Basta olhar para os milhões de mortos que elas nos deixaram. Quando existiram menos guerras que no presente? Temos um marco histórico. É a primeira vez que ir à guerra não é visto pelo cidadão comum como uma honra. O mundo prefere apostar pela paz. As famílias não querem que seus filhos lutem em guerras.

Apesar de tudo isso e muito mais, há pessoas muito cultas que defendem que o passado era melhor. De onde vem essa espécie de miragem? Vem da arte de viver. O presente, para cada um em sua época, sempre foi decepcionante, porque podemos imaginar o futuro como aterrorizante ou positivo, enquanto o presente é onde as coisas mostram seu verdadeiro perfil, sua decepção. Não vivemos em outro lugar além do presente.

Nosso tempo, nosso hoje com todas suas fealdades e descontentamentos, com sua insatisfação e desilusão, mas também com a carga de nossa fé na capacidade do homem de transformar a realidade, o presente é nossa única propriedade.

Surgem as terras selvagens pós-humanas

É um erro pretender manter a pureza ambiental. A pureza não nos serve para nada. Os espaços de natureza selvagem são uma boa ideia, mas uma vez que alteramos a atmosfera e os oceanos, já não há em realidade nenhum espaço natural, vivemos em um planeta misturado. O que deveríamos fazer, então, é evitar as extinções. E isso implica em transformar nosso entorno e a paisagem, talvez com verdadeiras fazendas e reservas que possam albergar a vida selvagem. Há muitas terras da Europa que vão sendo progressivamente abandonadas.

Na Polônia Central, parte da Espanha Central, o centro dos Estados Unidos, Montana, Dakota do Norte... Nas terras onde a agricultura e pecuária não é fácil e financeiramente compensadora, as pessoas marcham para as cidades. No futuro, esse fluxo voltará a ocorrer no Brasil do MST cego e oportunista. Assim, grandes proporções de terras voltam a estar livres de humanos. O processo inverso, de fluxo de gente para o campo é típico de país em desenvolvimento, onde a miséria é jogada para longe da visão. Essa reversão de fluxo de gente nos países ricos é extremamente interessante porque o planeta dela necessita.

Não são espaços naturais, são terra pós-humana, onde humanos construíram povoados e estradas, agora abandonados para a vida selvagem, para o trabalho incansável e não remunerado de insetos e de pequenas plantas que sustentem a doce vida dos mamíferos e das grandes árvores. É possível que sempre tenhamos áreas semi-selvagens. Terra que ainda é parcialmente humana, inclusive levemente agrícola. Pensem no destino próximo dos milhares de terras mortas no Mato Grosso do Sul. Não há dinheiro e vontade humana para recompô-las. Serão abandonadas. Ou vendidas ao governo para assentar MST, que as abandonarão. Tudo na natureza é possível, exceto a pureza.

Afinal, as abelhas estão desaparecendo?

Há uma recorrente pregação ecologista garantindo que as abelhas estão desaparecendo do planeta. Com o extermínio desses pequenos insetos, conforme os ecologistas, a vida poderia desaparecer da Terra. Exagero? As abelhas correspondem ao sexo animal para muitas plantas. Elas transportam facilmente o pólen desde a parte masculina de uma flor à parte feminina, seja da mesma planta ou de outra mais distante. Assim ocorre a reprodução em muitas espécies vegetais, como o melão e o morango, algumas delas necessitam de 21 visitas de abelhas para que seus frutos sejam grandes e saborosos. As abelhas não são os únicos insetos polinizadores, mas são essenciais para o maracujá, melancia, fruta do conde e outra lista de bom tamanho.

Há muitos países estudando a diminuição do numero de abelhas. A União Europeia é a entidade que mais estudos apresenta. Vem demonstrando que o declive de abelhas é decorrente de uma multidão de ataques: a destruição de seu habitat, o uso abusivo de pesticidas, a invasora vespa asiática que ataca as colmeias, o ácaro Varroa que chupa os líquidos corporais das abelhas, o parasita Nosema que afeta seu aparelho digestivo e as mudanças climáticas.

O principal problema da diminuição de abelhas é o desconhecimento do que realmente ocorre com elas. Faltam dados. Essa a conclusão preliminar dos estudos realizados pela União Europeia. O projeto criado pela UE estudou 176 mil colônias, os resultados mostraram mortalidade de 15% na Suécia, 14% na França e 5% na Espanha, dentre os mais elevados. São porcentagens distantes das cifras alarmistas manejadas por algumas organizações ecologistas, mas merecem estudo mais aprofundado.

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