Cidades

Vida não deu marido ou filhos, mas paciência para Gertrudes ser realizada

Luana Rodrigues | 08/03/2017 07:20
Gertrudes esconde a idade; jeito simples de ser não esconde a mulher vaidosa. (Foto: André Bittar)
Gertrudes esconde a idade; jeito simples de ser não esconde a mulher vaidosa. (Foto: André Bittar)

As pernas que já rodaram o salão "das seis da tarde às seis da manhã" hoje andam com dificuldade. A voz, que ao longo da vida gritou com muito "moleque desobediente", fala embargada, mas conta muitas histórias. Os dedos também não se comportam muito bem, agora tocam a palma da mão, por conta da atrofia, mas nem por isso a impediram de aprender o mais recente passatempo, o crochê.

É que desde muito cedo, a vida mostrou a Gertrudes Araújo que mulher precisa ter força, mas que paciência também é fundamental. Aos 16 anos, foi abandonada pela mãe na casa de uma estranha.

O Estado era Minas Gerais, e a mulher se mudaria para São Paulo, para onde levou a jovem. Logo cedo começou a cuidar da casa e das crianças da família. “Foi bom, nunca fiquei sozinha”, conta.

Além da fuga da solidão, o serviço lhe rendeu paciência, mas naquele tempo ela não entendia que aquilo ali poderia ser bom. “Eu queria tudo logo, pra hoje, só depois é que aprendi que paciência fazia a gente ficar bem, e solidão era o que deixava a gente mal”, conta.

A vida não foi sozinha, mas Gertrudes nunca se casou, nem teve filhos, e até pouco tempo viveu para o trabalho. Mesmo assim, não faltou motivo para a felicidade de mulher realizada, que garante, para conquistar não tem segredo: “Basta ter saúde e dinheiro para gastar”, brinca.

O jeito simples de ser não esconde a mulher vaidosa. As unhas estão cor de rosa, bem pintadas. O cabelo também não deixa transparecer os anos já vividos. O tom é caramelo, mas Gertrudes bem que queria uma cor mais ousada, “castanho, com tom mais para o vermelho, assim, igual ao seu”.

Por falar em anos de vida, idade é um mistério para Gertrudes. Ela não se lembra bem se tem 70 ou 72 anos, mas garante que da vida, é só isso que esqueceu. "Até porque para mulher isso nem é importante", diz.

Gertrudes é uma das 34 mulheres que vivem no asilo São João Bosco de Campo Grande. Gosta de conversar, de festa e churrasco, mais ainda de batons e bijuterias. Entre as colegas, é uma das poucas que ainda está lúcida. 

Neste 8 de março, Dia da Mulher, a história de Gertrudes é para remeter à reflexão. E deixar a lição de que, para ser quem é, precisou acima de tudo contar com ela mesma.

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