Cidades

Protesto acaba, mas gasolina continua como sacrifício diário do brasileiro

Desabastecimento e alta do preço revelaram como a população não vive sem combustíveis e pouco questiona dependência

Anahi Gurgel | 03/06/2018 09:35
Antônio com sua família, incluindo o "carro". "Só usamos em caso de extrema necessidade". (Foto: Anahi Gurgel)
Antônio com sua família, incluindo o "carro". "Só usamos em caso de extrema necessidade". (Foto: Anahi Gurgel)

Foi “osso” para o campo-grandense enfrentar os dez dias de turbulência durante os bloqueios dos caminhoneiros nas rodovias de todo o Brasil. Não pelo movimento, bastante aplaudido - dada sua reivindicação - mas bastou faltar combustível para se perceber o quanto o consumidor se sacrifica para garantir a “gasolina nossa de cada dia”.

Aliás, quando gasolina, diesel e etanol deixaram de chegar aos postos de combustíveis da Capital, na semana passada, ficou evidente como a população faz aquele jogo de cintura para economizar e conseguir se deslocar com seus veículos.

A família de Antônio Vilmar, 41, autônomo, traduz bem essa realidade. No pátio de um posto de combustível, na Via Parque, brinca com a filha, de 3 anos.

“Hoje foi exceção. Sempre saímos com a moto, porque é mais econômica. Só usamos o carro quando está chovendo ou temos que levar nossa filha para a escola ou para o médico, como hoje”, diz.

O professor André do Nascimento, em seu veículo, durante abastecimento. "Corto saídas para andar de carro". (Foto: Anahi Gurgel)

A pequena já estava melhor, depois que febre baixou, e curtia a diversão.

"O carro fica na varanda durante a semana. Quando a gente usa, como hoje que levamos a filha ao médico, aproveita a "viagem" para passeios como esse", diz ele, que calcula que o peso do combustível no orçamento chega a 40%.

A esposa, Suzana Santos da Silva, 36, atendente de call center, conta que a busca pelo melhor preço é uma constante. “Pagamos R$ 4,29 no litro da gasolina porque o carro estava no vermelho. Temos que nos adaptar”, comenta.

Motorista, Frederico paga no "cash" pelo etanol. "Tem que pesquisas muito". (Foto: Anahi Gurgel)

O professor André do Nascimento Neves, de 36 anos, afirma que gasta 12% de seu orçamento com combustível.

“Procuro pagar as despesas fixas sempre à vista, porque consigo me organizar melhor. Quando aumenta o preço do combustível, o primeiro ítem que corto é lazer. Diminuo as saídas para conseguir andar com meu carro”, conta ele, que nos finais de semana é auxiliar em um buffet.

Frederico Lopes, 37, motorista de aplicativo, só abastece com etanol e no "cash". “Tive que parar de trabalhar porque não encontrava combustível nos postos. Aí que a gente percebe como esse líquido é precioso, ainda mais quem depende dele para ganhar dinheiro. Ando muito e o lema é fazer pesquisa de preço...sempre”, ressalta.

De um outro ponto de vista, frentista que prefere não se identificar, avalia “duplamente” sua dependência por combustível. “Eu trabalho em um posto e venho trabalhar de moto. É gasolina o dia inteiro”, diz, bem-humorado.

Professor paga no débito pela gasolina. Muita gente economizar para ter dinheiro e pagar à vista o combustível. (Foto: Anahi Gurgel)

“Durante os protestos, fiquei preocupado em não ter gasolina para rodar e também em perder o emprego. Entendi o movimento dos caminhoneiros, mas fique com medo”, relata.

Ele diz que usa o veículo o mínimo possível, para economizar. “Não está fácil”, avalia.
A empresária Patrícia Souza, 35 anos, percorre 44 quilômetros de sua casa até o trabalho diariamente. Proprietária de uma cantina em escola no Bairro Santa Fé, afirma que o custo do combustível pesa cerca de 20% do orçamento mensal.

“Me programo para sempre pagar à vista, nos postos com preço melhor ou que oferecem desconto”, diz.

Mais uma alta - A Petrobras aumentou em 2,25% o preço da gasolina vendida nas refinarias a partir deste sábado (2). Conforme tabela publicada no site da estatal, o produto encareceu cinco centavos, passando de R$ 1,96 para R$ 2,01.

Por outro lado, o diesel continuou congelado em R$ 2,03 como ficou estabelecido no acordo entre o Governo Federal e os caminhoneiros após a greve dessa categoria.

A variação do preço dos combustíveis no Brasil acompanha a valorização do dólar e o encarecimento do petróleo no mercado internacional, pois uma parcela do petróleo usado no país é importada.

Em Campo Grande, o preço da gaoslina varia entre R$ 4,04 e R$ 4,49, o etanol média de R$ 3,29 e diesel de R$ 3,87 a R$4,04.

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