Cidades

Pesquisa aponta MS como ‘reduto da igualdade’ entre negros e brancos

Ao lado do Espírito Santo, Estado foi o que mais reduziu a diferença do Índice de Desenvolvimento Humano entre negros e brancos, embora a população negra continue vivendo em situação pior que a branca

Anahi Zurutuza | 10/05/2017 19:34
Busto de Eva Maria de Jesus, Tia Eva, símbolo da resistência negra em Campo Grande (Foto: Arquivo)
Busto de Eva Maria de Jesus, Tia Eva, símbolo da resistência negra em Campo Grande (Foto: Arquivo)

Mato Grosso do Sul é o Estado brasileiro que teve redução na desigualdade entre brancos e negros entre 2000 e 2010. O dado consta no relatório para o Desenvolvimento Humano para Além das Médias, divulgado pelo Ipea (Instituto Pesquisa Econômica Aplicada) nesta quarta-feira (10).

No Estado, a diferença entre o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de negros e brancos caiu 0,04 em dez anos, conforme o estudo, assim como ocorreu no Espírito Santo. Significa que negros passaram a ter melhor indicadores relacionados à educação, renda e longevidade – o tripé usado no cálculo do IDH.

Consta no relatório que em 2000, a nota para as condições em que viviam negros em Mato Grosso do Sul era 0,54. Dez anos depois, o índice subiu para 0,69. Para os brancos, a variação foi de 0,66 para 0,77.

A pesquisa mostra, portanto, que a diferença do IDH de negros e brancos era de 0,12 em 2000 e em 2010, passou a ser de 0,08, embora negros continuem tendo IDH considerado médio, enquanto brancos vivam no patamar classificado como alto (veja no infográfico produzido pelo Ipea).

Roraima foi o único Estado que apresentou aumento – de 0,033 – de desigualdade do IDH.

Por que? - Para o sociólogo Paulo Cabral, o primeiro fator que garante o bom desempenho de Mato Grosso do Sul no ranking é a proporção entre negros e brancos no Estado.

“A população negra em relação à população branca, é relativamente menor. A proporção em outras unidades federadas, como em Minas Gerais, Rio de Janeiro, nos Estados do Nordeste é bem maior. Para nós, seria muito mais interessante se pudéssemos fazer o comparativo entre brancos e indígenas”, considerou.

Cabral afirma que para fazer análise mais real sobre a estatística é necessário de estudo aprofundado sobre os anos e oportunidades de estudo, sobre a empregabilidade e renda dos negros, e ainda a qualidade de vida – fatores que obviamente contribuem para a saúde física e mental da população, dentre eles, o acesso a serviços como coleta de lixo, saneamento básico, espaço e tempo para lazer, trabalhos de prevenção de doenças.

Mas, ele faz algumas especulações. Especificamente sobre Mato Grosso do Sul, Cabral explica que o fato do Estado ter sido berço para migrantes, nas décadas de 70 e 80, pode ter contribuído para que entre os anos 2000 e 2010, essa população tenha conquistado renda melhor.

“Parcela destes migrantes que vieram de outros Estados em busca de melhores oportunidades, e se isso se confirma, eu posso acredita que pelo simples fato de terem buscado oportunidades melhores, podem ter experimentado um processo de ascensão social”, comenta.

O sociólogo diz que há evidências ainda de que políticas públicas voltadas para a população negra, incluindo as cotas para as vagas em universidades e concursos públicos também podem estar surtindo efeito. “Historicamente as populações negras são mais desassistidas. Mas, sempre que há redução de desigualdade, isso é bastante auspicioso (positivo, prometedor). Por isso, não podemos deixar de considerar que as políticas afirmativas, que talvez já possam estar produzindo algum resultado. São algumas pistas para a gente refletir”.

Pesquisa – O estudo é um desdobramento do Atlas do Desenvolvimento Humano. O levantamento foi realizado a partir de dados do Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2000 e de 2010, considerando fatores como longevidade, educação e renda de acordo com o sexo, raça e situação do domicílio (na área rural ou urbana).

O IDH é um número que varia entre 0 e 1: quanto mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento humano encontrado. O índice pode ser ainda categorizado dentro de cinco faixas: muito baixo (0 a 0,499), baixo (0,50 a 0,59), médio (0,60 a 0,699), alto (0,70 a 0,79) e muito alto (0,80 a 1).

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