Interior

Rezadores de acampamento dizem que Nisio está morto e já se comunicou com eles

Marta Ferreira, da Redação, e Nadyenka Castro, de Ponta Porã | 23/11/2011 19:22

Líder guarani-kaiowá está desaparecido desde sexta-feira passada, quando acampamento foi atacado em Aral Moreira

Tonico Benites, guarani-kaiowá que é mestre em Antropologia e está fazendo doutorado explica porque índios tem certeza da morte de Nisio, que para a Polícia é considerado desaparecido. (Foto: João Garrigó)
Tonico Benites, guarani-kaiowá que é mestre em Antropologia e está fazendo doutorado explica porque índios tem certeza da morte de Nisio, que para a Polícia é considerado desaparecido. (Foto: João Garrigó)

Tem relação com a crença religiosa dos índios guarani-kaiowá a certeza deles de que um de seus líderes, Nisio Gomes, de 59 anos, está morto, após o ataque sofrido pelo acampamento onde vivia, na sexta-feira passada, quando o índio desapareceu. É o que explicou hoje, em Ponta Porã, o mestre em Antropologia e doutorando na área Tonico Benites, que é da etnia. Ele acompanhou a visita de uma comitiva da Secretaria dos Direitos Humanos, ligada à presidência da República, ao acampamento nesta tarde.

Quando o episódio se tornou público, os índios relataram que Nisio foi executado pelos pistoleiros na frente deles e o corpo foi levado na caçamba de uma camionete. A apuração da Polícia Federal fez até agora, com base nos depoimentos de índios e não índios, indicam que Nisio foi levado com vida. Ele é considerado, por enquanto, desaparecido.

Tonico explicou ao Campo Grande News* que os rezadores do acampamento, quatro mulheres e oito homens afirmam que Nisio está morto e que já se comunicaram com ele. Dizem mais: que o Nisio, também um rezador, relatou nas comunicações que já “voltou à origem”, definição da cultura indígena para a morte, e que seu corpo está na região.

De acordo com Tonico, na crença espiritual dos guarani-kaiowá, quando um índio morre, sua alma fica “perambulando” e é preciso fazer o ritual de despedida do corpo, para que ela fique “tranquila”.

Como não há um corpo para fazer esse ritual, os rezadores afirmam que a alma de Nísio está perambulando sem essa tranquilidade. Os rezadores também afirma, conforme Tonico, que eles identificam como um espírito do mal, que tomou o corpo de um humano, o autor do crime.

Rezadores do acampamento Guaviray dizem que alma de Nisio está perambulando pela região e é preciso ritual de despedida do corpo para dar tranquilidade. (Foto: João Garrigó)

Na cultura deles, os mortos são temidos e por isso é imperativo fazer o ritual para acalmá-los.

Relação diferente com a terra- Tonico também falou da relação dos índios com a terra, que para muitos provoca estranheza. Para o índio, segundo ele, não serve “qualquer terra” e por isso eles se colocam até em situação de risco e de morte, como a história mostra em razão dos inúmeros conflitos e casos de assassinatos de líderes já registrados.

“O índio acredita que tem que morrer na terra deles, que é de onde vieram os ancestrais”

Sobre os conflitos envolvendo terras reivindicadas como indígenas na região, Tonico afirmou que na década de 1970, havia certa harmonia na convivência entre índios e fazendeiros na região. “Na década de 80, eles foram retirados de suas terras e depois, em 2000, quando decidiram voltar e retomar as áreas, começou a destruição”.

Para o índio, segundo a explicação de Tonico Benites, é uma afronta o fato de a região ter sido tomada pela agricultura, com a plantação de soja. Explica que eles veem a terra quase como um ser vivo, que deve ser repeitado e não explorado. Na vivência do índio, explicou,as comunidades ficam em uma área pelo tempo que a consideram “viva” e depois mudam de lugar.

Nos siga no