Interior

Pesquisa da UEMS aponta chipa como fator de desenvolvimento na fronteira

Estudo demonstrou que iguaria fomenta o surgimento de pequenos negócios, e assim, mais oportunidades

Adriel Mattos | 23/01/2022 17:37
Vendedora de chipa em Ponta Porã. (Fotos: Divulgação)
Vendedora de chipa em Ponta Porã. (Fotos: Divulgação)

Ela pode ser encontrada nos mais variados formatos:  como a argola, losango, meia lua ou ferradura, alongada, trançada e até na forma de animais, além disso suas variações podem ser encontradas recheadas com carnes, queijos e doces. A chipa  um dos pratos típicos mais conhecidos da fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai.

Uma pesquisadora da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) constatou que a iguaria ajuda na economia local. Beatriz Dutra dos Santos  ressalta que a chipa é a mais explorada no comércio, pois é um produto com baixa perecibilidade, baixo custo de produção, preço de venda acessível, agradável ao paladar dos consumidores.

“Se a culinária da fronteira ou a venda da chipa constituem em um bom negócio, a resposta é a que sim, foi possível identificar que por meio dessa atividade outras vão surgindo, outros negócios, outros produtos, trata-se de uma atividade rentável que gera recursos com a finalidade de prover o sustento das famílias locais, pagar as contas”, pondera.

“Os ganhos com a venda da chipa geram investimentos em qualidade de vida, acesso à educação, na aquisição de bens imóveis e abertura de novos empreendimentos, as oportunidades existem para todos, no entanto apenas a categoria das Microempresas manifestaram interesse em incrementar novos produtos”, conclui a pesquisadora, autora do trabalho intitulado “A culinária típica da fronteira: a chipa como fator de desenvolvimento local”, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Dores Cristina Grechi, no Mestrado em Desenvolvimento Regional e Sistemas Produtivos, da UEMS.

Para a pesquisa foram identificados vinte e um produtores e vendedores de chipa que comercializam o produto na fronteira entre as duas cidades, Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, no Paraguai. Para o trabalho foram criadas as categorias Microempresas; Ñas (senhoras que produzem e vendem a chipa) e Terceirizadas. 

A pesquisadora ressalta que existem muito mais pessoas que produzem e vendem a chipa, mas este mapeamento precisará ser feito numa etapa futura da pesquisa, uma vez que neste primeiro estágio estabeleceu-se a estratégia de ser uma pesquisa exploratória. 

“O que já deu pistas importantes para entender a relação deste produto típico com a geração de renda e trabalho. Foi possível constatar que há preponderância na participação de mulheres, a escolha por vender a chipa está associada à falta de emprego, pois essas mulheres exercem o papel de chefe de suas famílias provendo o sustento das mesmas”, observou.

Chipa recheada com presunto.

Verificou-se que o ganho com a venda da chipa depende mais de outros aspectos do que do grau de instrução das pessoas envolvidas com a produção e venda. 

A este respeito observou-se que a pessoa que vende mais, adota uma estratégia de venda diferenciada, é dada uma atenção especial ao consumidor, há uma conversa preliminar à venda, há uma interação entre vendedor e consumidor e uma diversidade de preços, o que faz com que todos possam comprar a chipa. 

A  produção artesanal é a que gera maiores ganhos para a categoria das Ñas (senhoras que produzem e vendem a chipa), que fazem um produto com características diferenciadas, qualidade percebida pelo consumidor e sabor diferenciado, o que dá à chipa uma característica única. 

A compra dos ingredientes para a produção da chipa gera também uma relação direta com pequenos produtores. “Percebe-se que a agricultura familiar desempenha um papel importante na preferência dos entrevistados, enquanto fornecedor de matéria-prima, desenvolvendo uma relação entre a utilização dos mesmos ingredientes como forma de manter o sabor”, relatou Beatriz.

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