Interior

Na fronteira do medo, o jeito é seguir em frente: “Foco no estudo”, diz aluno

Estimativa é de que 15 mil alunos estudem Medicina em Pedro Juan Caballero

Aline dos Santos | 13/10/2021 10:31
Protesto pede paz após chacina em Pedro Juan Caballero, que é polo de cursos de Medicina. (Foto: Rádio Império)
Protesto pede paz após chacina em Pedro Juan Caballero, que é polo de cursos de Medicina. (Foto: Rádio Império)

Polo de milhares de estudantes de Medicina, a cidade de Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã, segue sob impacto da chacina que matou três universitárias, mas para quem estuda, o jeito é seguir em frente. “Foco nos estudos, não fico me envolvendo. Me sinto seguro”, afirma universitário de 33 anos, que pediu para não ser identificado. 

Há cinco anos, ele trocou o interior de São Paulo pela fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Para o universitário, a questão é de segurança pública e não pensa em adotar medidas individuais para tentar se proteger, como, por exemplo, evitar determinados locais. 

“Com certeza, as pessoas ficam preocupadas com a segurança. Eu não saio muito, trabalho bastante. A segurança é uma questão pública e, na verdade, não vejo que faltam policiais”. 

Outra estudante ouvida pelo Campo Grande News avalia que não é impossível traçar um mapa dos perigos. “Porque, via de regra, estamos expostos sempre em qualquer lugar”, diz a universitária de 28 anos, que também não terá o nome divulgado. 

Ela conta que é de São Paulo e nunca sofreu pressão familiar para deixar os estudos na fronteira. “Em que pese a fronteira ser perigosa, em alguns aspectos, me sinto mais segura do que lá”. 

Cursando o último ano de Medicina no Paraguai, universitária de 41 anos conta que nunca teve problemas ao circular pelos dois países. “Entro no Paraguai à noite, de dia, em todo e qualquer horário. No Brasil, a mesma coisa. Nunca tive nenhum desconforto, graças a Deus”. 

Numa rotina de muito estudo e trabalho, ela conta que adota algumas medidas de precaução, como nunca permitir que os filhos crianças durmam na casa de coleguinhas. 

“A fronteira é um lugar que todo mundo conhece todo mundo, mas ninguém conhece ninguém. Mas é o lugar que escolhi para viver e criar meus filhos”, diz a estudante, que também pediu para não ter o nome divulgado. 

Em janeiro de 2020, quando reportagem do Campo Grande News foi à fronteira, a estimativa era de que 15 mil alunos estudassem Medicina em oito instituições de ensino de Pedro Juan Caballero. Os valores iniciais de ingresso variam de R$ 900 a R$ 1.800. Em Mato Grosso do Sul, a mensalidade num curso de Medicina supera R$ 10 mil. 

Violência - Na madrugada de sábado (dia 9), três atiradores chegaram com armas em punho e fuzilaram quatro pessoas na saída de uma festa, em Pedro Juan Caballero. 

Foram mortos a douradense Kaline Reinoso de Oliveira,  22 anos; Haylee Carolina Acevedo Yunis, 21 anos, filha do governador de Amambay Ronald Acevedo; a mato-grossense Rhamye Jamilly Borges de Oliveira, 18 anos; e Osmar Vicente Álvarez Grance, o “Bebeto”, que seria o alvo dos pistoleiros. As três jovens eram estudantes de Medicina. Seis brasileiros foram presos. 

Horas antes, no começo da noite de sexta-feira (dia 8), o vereador Farid Afif, 37 anos, foi executado em Ponta Porã. 

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