Interior

Militar do Exército diz que foi torturado por PMs para confessar roubo de aviões

Rapaz contou que policiais o bateram até perder a consciência e depois o deixaram na casa dos pais

Mirian Machado e Geisy Garnes | 08/09/2021 14:08
Uma das aeronaves roubadas na madrugada desta segunda-feira. (Foto: Direto das Ruas)
Uma das aeronaves roubadas na madrugada desta segunda-feira. (Foto: Direto das Ruas)

Felipe Batista de Carvalho, de 18 anos, militar do Exército, em Anastácio, acusa policiais militares da Força Tática e do Batalhão de Choque de agredi-lo para que confessasse participação e detalhes do roubo de 3 aeronaves, ocorrido na última segunda-feira (6), no Aeroclube de Aquidauana, município distante 135 quilômetros de Campo Grande. 

Felipe registrou um boletim de ocorrência no dia seguinte à agressão. Ele contou na delegacia que, por volta das 16h da segunda-feira, estava na casa de Róger Breno Wirmond dos Santos, um dos presos por participação no assalto, quando ao menos sete policiais entraram na residência e saíram de lá com o colega. 

Em seguida, começaram a interrogá-lo sobre o roubo e quando dizia que não sabia de nada, segundo relatado, foi agredido com tapas no rosto, socos na barriga e um mata-leão. Contou ainda que foi sufocado e um dos policiais o bateu no rosto com uma faca. Pouco tempo depois, teria sido colocado no camburão com os olhos vendados e levado a uma estrada vicinal, onde novamente foi agredido com socos na cabeça e mais um mata-leão, que o fez desmaiar.

Quando recobrou a consciência, os policiais teriam visto que ele não tinha envolvimento e o deixaram na casa de seus pais. Ainda segundo o relato do jovem, por causa das agressões, possui hematomas nos olhos até hoje.

Cristhopher e Roger, suspeitos de participação no roubo, foram presos no mesmo dia. (Foto: Reprodução/JornalNotíciasdoEstado)

Felipe ainda foi intimado como testemunha do roubo das aeronaves. Na ocasião, ele contou que conhece Cristhopher Cristaldo Rocha, de 20 anos, há dois meses e que conhece Lázaro e Róger, porém, não tem afinidade com eles.

Mesmo assim, admitiu que sabia da negociação de armas pelo amigo. Cristhopher contou a ele que, cinco dias antes do crime, foi contratado por um homem chamado Lázaro para adquirir quatro armas de fogo, duas pistolas e dois revolveres e que receberia R$ 2 mil por cada arma.

No dia 4, dois dias antes do roubo, Felipe, Róger e Cristhopher estavam em uma boate, quando teria dito que a compra das armas não tinha dado certo. O rapaz contou à polícia que Cristhopher havia mostrado vídeos gravados em seu celular, onde apareciam Lázaro com dois bolivianos e outras pessoas, aparentemente, de origem colombiana. 

A reportagem entrou em contato com a Polícia Militar sobre a acusação de agressão e aguarda o retorno. 

Crime - Foram levados um avião Bonanza Modelo V35B (matrícula PT-ING) e dois Cessna Modelo 182 (matrículas PT-KDI e PT-DST). Conforme apurado pela reportagem com base no Registro Aeronáutico Brasileiro, a primeira aeronave pertence a Zelito Alves Ribeiro, irmão do prefeito de Aquidauana, Odilon Ferraz Alves Ribeiro (PSDB). O segundo avião, com matrícula PT-KDI, está em nome da empresária Liliane Paschoaletto Trindade.

A terceira aeronave pertence ao cantor Almir Sater. A investigação é feita pelo Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), Delegacia Regional de Aquidauana e Primeira Delegacia de Polícia Civil do município.

Prisão - Suspeito de fornecer armas para roubo, Cristhopher Cristaldo Rocha, de 20 anos, foi preso horas depois, em Anastácio, cidade vizinha à Aquidauana. Ele tem condenação por tráfico de drogas. Na ocasião, também foi detido Róger Breno Wirmond dos Santos, de 22 anos, conhecido como “Zóio”. Laudelino Ferreira Vieira, 43 anos, o Lino, apontado como mentor intelectual do roubo, teve a prisão preventiva decretada. Lino fugiu de forma misteriosa, em junho deste ano, do Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho e até agora não foi encontrado. 

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