Interior

Inquérito da PF apura crime de genocídio contra indíos em Iguatemi

Marta Ferreira | 08/09/2011 15:13

Acampamento à beira de estrada foi destruído e houve feridos, segundo MPF

Criança indígena com ferimentos que, segundo relato dos acampados, foram sofridos durante ataque a acampamento. (Foto: Divulgação MPF)
Criança indígena com ferimentos que, segundo relato dos acampados, foram sofridos durante ataque a acampamento. (Foto: Divulgação MPF)

Está andamento na Polícia Federal inquérito para apudar denúncia do MPF (Ministério Público Federal) de crime de genocídio contra indígenas que ocupavam uma área à margem de uma estrada vicinal, em Iguatemi. No dia 23 de agosto, o acampamento foi incendiado e os índios relatam que foram alvos de ataque.

O inquériito, a pedido do MPF (Ministério Público Federal) foi aberto na delegacia de Polícia Federal em Naviraí.

O MPF divulgou hoje fodos do acampamento logo após o ataque, além do testemunho de indígenas que estavam no lugar. "Estávamos rezando, de repente chegaram dois caminhões cheios de homens, chegaram atirando, ordenaram parar queimar barracas e roupas e amarrar todos índios. Saímos correndo, em direção diferente”, conta um deles.

Acampamento foi incendiado em área à margem de estrada vicinal de Iguatemi (Foto: Divulgação MPF)

“A 300 metros do local vimos as barracas queimando e muito choro. Faroletes e lanternas estão focando pra lá e cá, as crianças e idosos não conseguiram correr. Os meus olhos enlagrimando (sic) escrevi este fato. Quase não temos mais chance de sobreviver neste Brasil”, prossegue.

O ataque, segundo os relatos, deixou feridos - principalmente crianças e idosos, que não conseguiram correr, e um rastro de destruição. Mesmo depois da violência do ataque, os indígenas retornaram ao mesmo acampamento, pois alegam não ter para onde ir.

Genocídio-O acampamento queimado, assim como os pertences dos índios e o que eles tinham de comida. Diante disso, o MPF em Dourados pediu abertura de inquérito na Polícia Federal em Naviraí para investigar o crime, tratado pelo órgão como genocídio, a violência cometida por questões étnicas, no caso contra a coletividade indígena.

No local, segundo o MPF divulgou, foram encontrados dezenas de cartuchos de munição calibre 12 anti-tumulto (balas “de borracha”). Há, também indícios de formação de milícia armada.

A área reivindicada pelo grupo guarani-kaiowá, localizada na fazenda Margarida, é conhecida como Puelito Kue e já foi estudada pelos antropólogos da Funai. O relatório, cuja publicação é uma das fases da demarcação de terras indígenas, está em fase final de redação.

A área integra portarias da Funai publicadas em 2008, que formaram equipes técnicas para estudos em 26 municípios da região sul do Estado, para demarcação.

A medida foi adotada depois de assinatura de TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) que obrigava a União a concluir os processos de demarcação até julho de 2009.

Passados dois anos, a disputa judicial entre Funai e fazendeiros ainda emperra o cumprimento do TAC.

Terceira vez- Houve dois outros eventos violentos envolvendo a comunidade. Em 14 de setembro de 2003, um grupo tentou retornar à área. Dois dias depois, homens armados invadiram o acampamento e expulsaram os indígenas com violência. Em 8 de dezembro de 2009, houve nova violência contra o grupo.

Segundo depoimento prestado ao MPF, os índios foram amarrados, espancados e colocados num caminhão, sendo deixados em local distante do acampamento. O indígena Arcelino Oliveira Teixeira desapareceu sem deixar pistas. O corpo nunca foi encontrado.

A PF informou que as diligências estão em andamento, sem prazo de conclusão.

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