Interior

Idosos "explorados" por primeira dama viviam em Casa Lar precária

Mariana Rodrigues, da Redação, e Viviane Oliveira, enviada especial a Jaraguari | 17/07/2015 13:51
A edicula, chamada de Casa Lar existe há mais 15 anos e sempre funcionou abrigando de 1 a 3 idosos. (Fernando Antunes)
A edicula, chamada de Casa Lar existe há mais 15 anos e sempre funcionou abrigando de 1 a 3 idosos. (Fernando Antunes)

Os três idosos de 77, 88 e 86 anos atendidos pela prefeitura de Jaraguari, distante 44 km de Campo Grande, viviam em uma casa precária e ficavam a maior parte do tempo sozinhos à noite. 

No entanto, durante o dia, segundo servidores, que não quiseram se identificar com medo de sofrer represálias, no local trabalhavam cinco funcionárias, sendo uma da área de limpeza, outra de alimentação, a coordenadora do asilo e duas auxiliar de enfermagem. Porém, as profissionais são lotadas no posto de saúde, que fica ao lado da casa. 

A edicula, chamada de Casa Lar existe há mais 15 anos e sempre funcionou abrigando de um a três idosos. Além da falta de funcionários, outro fato que chama a atenção, é a precariedade da edícula de cinco peças, composta por dois quartos, sala, cozinha e banheiro.

Um comerciante de 56 anos, que não quis que seu nome fosse divulgado, disse a que o local não serve para ser um asilo. "Não tem acessibilidade, algumas janelas estão quebradas, o terreno é inclinado e a casa é muito humilde", contou.

Ivo Miranda, 50 anos, proprietário de um comércio na rua Francisco Siqueira, mesma rua onde está localizado o asilo, disse que a situação é uma vergonha para uma cidade tão pequena. Ele conta que nunca ficou sabendo que os idosos sofriam maus tratos, nem a maneira que eles são tratados lá dentro. "Tenho consciência de que ali não é lugar para asilo e não pelo tamanho, mas sim pelas condições do local".

Envolvimento - Uma das envolvidas no caso, a funcionária pública Salete Terezinha Belchior, 52 anos, que ficava com o cartão do idoso de 77 anos, o seo Jordão, disse que não sabia da gravidade em ficar com o cartão do idoso.

"Não sabia que poderia virar caso de polícia, senão teria feito uma procuração. Eu fiz isso tudo porque ele me pediu, eu não sabia que o fato de ficar com o cartão de outra pessoa virava caso de polícia", afirmou.

Salete, disse ainda que do total do valor que o idoso recebia, sobrava pouco mais de R$ 400, devido aos cinco empréstimos, que segundo ela, o idoso tinha. Esse dinheiro que restava, ela usava para comprar coisas que o próprio idoso pedia. "Comprava coisas como frutas, verduras e roupas", disse.

A servidora se explica que só ficou com o cartão do idoso para ajudar, pois ele tinha dificuldades em andar, tinha sofrido um AVC e segundo ela, possui um câncer de próstata, na qual precisa se deslocar para a Capital para tratamento. "Por isso fiquei com o cartão dele", afirmou.

Mas, os vizinhos dos idosos, disseram que o seo Jordão realmente anda com dificuldades devido ao AVC, mas que ele se locomove , ou seja, poderia sacar o benefício. Já o outro idoso, o de 86 anos, é boliviano, não tem documentos e por esse motivo não recebe aposentadoria.

Segundo o delegado do caso, Antenor Batista da Silva Júnior, as duas contas dos dois idosos estavam zeradas. Porém, a funcionária pública desmente, dizendo que a conta de seo Jordão não estava zerada. "Eu sacava conforme ele ia precisando", diz.

Denúncias - O caso estava sendo investigado, após denuncias de que os três idosos estariam sofrendo maus-tratos, ficavam sozinhos e sem um mínimo de higiene e cuidado. Com as investigações, a policia descobriu que a primeira dama Cláudia Batista de Oliveira ficou durante 2 anos e 4 meses com o cartão do idoso de 88 anos. No total, ela sacou R$ 24 mil. A servidora pública Salete Terezinha Belchior se apropriou há quatro meses do cartão do idoso de 77 anos.

Elas foram presas ontem (16) e soltas no mesmo dia após pagamento de fiança. Em depoimento, as duas alegaram que os idosos não têm família na cidade e não tinham condições de andar, por isso que o dinheiro era sacado por elas.

A primeira dama e a servidora vão responder pelos crimes de apropriação indébita de benefício de idoso e retenção de cartão magnético. Cláudia por ser responsável pela secretaria de Assistência Social, responde por maus-tratos. Cláudia pagou fiança de R$ 6.304 e foi solta. A servidora pagou R$ 788 e também foi liberada.

Secretaria de Assistência Social de Jaraguari está envolvida em escândalo (Foto: Fernando Antunes)
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