Interior

Aldeia Guarani-Kaiowá tem batalha contra as drogas e por ensino

Paula Vitorino, enviada a Tacuru | 09/11/2012 11:29
Alunos aprendem a língua guarani como oficial. (Fotos: Rodrigo Pazinato)
Alunos aprendem a língua guarani como oficial. (Fotos: Rodrigo Pazinato)

Ao lado da área invadida por grupo Guarani-Kaiowá que ficou famosa após a carta em que os índios retomar a tekoha – terra tradicional – a luta de 2.800 indígenas da aldeia Sassoró, em Tacuru, é por uma vida digna. Eles lutam para manter a cultura, voltar a cultivar na própria terra, por educação e contra os atuais inimigos que ameaçam o povo: álcool e drogas.

De acordo com o cacique, cerca de 112 famílias das 560 que vivem na aldeia enfrentam o problema do vício. Como acontece na epidemia de viciados entre brancos, são os adolescentes indígenas os que mais sofrem com a dependência.

“É tudo gente novinha que usa droga. À noite você vê os pontos que eles ficam escondidos, usando drogas pela aldeia. Minha pediu pra Força Nacional fazer revista nesse pessoal porque é perigoso pra gente”, diz a jovem Barbara Montiel, de 20 anos.

Para enfrentar o mal, a arma das lideranças da aldeia é a mesma que o povo branco da cidade tenta utilizar: a educação.

“Tem muito jovem que está na escola e não queremos que vá para o mau caminho. Temos muito problema com segurança, por causa da droga e álcool”, diz o cacique Marcos Gomes, de 35 anos.

A aldeia é a segunda área demarcada no município de Tacuru, que fica ao lado de Iguatemi, onde a disputa de indígenas do acampamento Pyelito Kue pela retomada de terra teve repercussão mundial. Eles estão acampados na fazenda Cambará.

Escola na aldeia Sassoró.
Aldeia tem 980 estudantes.

Educação - São três escolas que funcionam dentro da aldeia, com 980 alunos matriculados. O coordenador de uma delas, Ezaú Martins, de 37 anos, conta que uma conquista do povo foi incluir no currículo disciplinas voltadas para a cultura guarani.

“É muito importante que se tenha conhecimento, mas que preserve nossa cultura”, frisa.

No ensino básico, as crianças aprendem o guarani como língua oficial e o português aparece como segunda língua.

“Na minha época tinha muita dificuldade de entender o professor branco falando porque a gente só falava guarani em casa”, conta.

Agora, os professores das séries iniciais são todos índios. No ensino médio, a luta é para incluir também professores indígenas contratados pelo Estado.

Outra dificuldade que os professores tentam driblar é o isolamento da comunicação. Segundo o coordenador, não existe internet na aldeia, apesar da escola contar com computadores. Os celulares funcionam eventualmente, em alguns pontos da aldeia.

Sustento – A busca pela formaçãotambém querpreparar os indígenas para voltarem a se sustentar sozinhos, sem depender de assistencialismos públicos e privados.

A maior parte dos alimentos consumidos pelas famílias é fornecido por cestas básicas da Funai (Fundação Nacional do Índio).

 

Desafio na área indígena é vive com dignidade.

Dentro da aldeia, a maioria da terra está ocupada apenas por matagal. O cacique diz que a terra é arenosa e, sem orientação adequada, os indígenas não conseguem cultivar na área.

“A gente consegue plantar mais em uma área que fica na divisa, onde a terra é boa. No resto, as pessoas querem plantar, mas a terra não dá. Precisava de preparo, mas a gente não sabe como fazer”, diz o cacique.

Ele diz que a terra precisa de preparo para cultivar e, como os indígenas não sabem e não têm os materiais necessários, o ideal seria a aldeia receber a orientação de um técnico agrícola para orientar sobre adubo e outros métodos.

Ocupação – Sobre a ocupação ao lado, as opiniões entre os moradores da aldeia são diversas. Alguns dizem até desconhecer a invasão, outros preferem não interferir e alguns apóiam.

“A gente escuta fala, mas não sei o que está acontecendo direito”, diz Avelino Vilhalva, de 34 anos.

O coordenador da escola pondera que na briga pela terra fazendeiros e indígenas tem os seus direitos, e que a culpa é de quem tomou e expulsou os povos da área.

“A culpa não é dos fazendeiros e nem dos índios. Os dois investiram na mesma terra e agora não querem perder”, diz.

Ele lembra da história e diz que a terra foi trocada de dono, mas sem o devido acerto entre as partes.

“Os fazendeiros compraram a terra já com os índios, aí o povo foi levado para outra área. Mas o índio não sabia registra, ver o tamanho certo da área, vender. O homem branco sabia e registrou a terra como sua. Mas os índios mais antigos sabem muito onde moravam, reconhecem a terra”, diz.

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