Interior

“Prima pobre”, Selvíria quer ampliar território para abocanhar Eldorado

Depois de disputa com Cesp, Prefeitura mira fábrica que fica a 200 metros

Aline dos Santos, enviada especial a Selvíria | 14/10/2013 07:13
Município quer ampliar território até o rio Sucuriú. (Foto: João Garrigó)
Município quer ampliar território até o rio Sucuriú. (Foto: João Garrigó)

Ganhar 20 mil hectares e, de quebra, abocanhar a Eldorado Brasil, maior fábrica de celulose em linha única do mundo. Os planos nada modestos são do município de Selvíria, com 6.427 habitante e a 70 quilômetros de Três Lagoas. A localidade, que surgiu como cidade-dormitório da obra da barragem de Ilha Solteira e amargou o êxodo dos funcionários, agora volta a sentir os ventos da prosperidade.

Depois de brigar com a Cesp (Companhia Energética de São Paulo) por compensações, Selviria deve partir para uma luta territorial. De acordo com o procurador-jurídico do município, José Maria Rocha, quando era distrito de Três Lagoas, a divisa ficava no rio Sucuriú. “Quando foi emancipado, diminuíram o território. Onde já se viu isso”, afirma.

Apesar de a cidade já contar com 32 anos, ele explica que para um município os direitos não prescrevem. “Uma briga longa, de 40 anos, pode ser muito para nós, pessoas, mas para o município, pessoa jurídica de direito privado, não é nada”, compara. Segundo ele, a briga com Três Lagoas começará quando for concluída a batalha judicial com a Cesp.

Segundo José Maria, território encolheu na transição de distrito para município. (Foto: João Garrigó)

Selvíria arrecada R$ 2 milhões por mês, mas o valor pode chegar a R$ 7 milhões se forem aplicadas decisões que destinam ao município direito de receber valor adicionado da Cesp pela produção, geração e distribuição de energia. Segundo o procurador, ficou provado que a barragem está no território de Selvíria.

Outra ação judicial que pode engordar os cofres municipais é a que cobra R$ 50 milhões pelos impactos da obra. O empreendimento foi executado em 1974, quando não era exigido EIA/Rima (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental)
“Deixaram os troncos das árvores, tem parte que não tem condições de navegar quando a água abaixa”, relata José Rocha. Com a retirada da mata ciliar, a água avança provocando erosão.

Do lado de lá, tanta ventura – A dez quilômetros de Ilha Solteira, lado paulista do rio Paraná, Selvíria ficou no papel de prima pobre. A cidade de lá recebeu recursos, tem universidade e é a 18ª melhor do Brasil para se viver.

A identificação com São Paulo é tamanha, que os selvirenses adotaram o horário paulista, com uma hora a mais, e sempre se referem ao próprio Estado como Mato Grosso, expressão que costuma levantar protesto dos sul-mato-grossenses.

Cidade tem 6.427 habitantes e mantém hábitos paulista. (Foto: João Garrigó)

Selvíria ainda tem a pecuária como maior fonte de renda, mas a industrialização da outra vizinha, Três Lagoas, trouxe mudanças. “Antes, a Prefeitura mandava dois, três ônibus com servente de pedreiro para Ilha Solteira. Agora, os ônibus deles quem vêm para cá”, afirma o procurador José Rocha. Sem faculdade, a cidade destina 6% da receita para custear bolsa de estudo no ensino superior.

A chegada da Eldorado, que fica a 200 metros do município e emprega 2.500 pessoas, trouxe estímulos para o setor imobiliário. “Um terreno custava R$ 500 e não achava quem comprava. Hoje, ninguém vende por menos de R$ 8 mil, R$ 10 mil. A cidade praticamente zerou o déficit de emprego, reduzindo drasticamente a procura pelo setor de Assistência Social.

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