Cidades

Família diz que rapaz foi executado por policial militar

Redação | 05/03/2008 18:12

A esquina da rua Catiguá com a rua Cafezais, no jardim Canguru, em Campo Grande, ganhou nos últimos dias uma placa improvisada colocada por parentes e vizinhos de Rômulo Costa de Almeida, de 33 anos, morto no dia 19 de janeiro deste ano. Na placa, eles cobram a investigação de um episódio que, pela versão policial, é tratado como resistência à prisão seguida de morte, mas, para a família da vítima, é um caso de abuso e despreparo por parte do policial militar Mário César da Silva Jara, de 37 anos, autor dos cinco disparos que mataram Rômulo.

A placa foi colocada no local onde aconteceu a confusão que resultou na morte de Rômulo. Essa é uma das únicas informações que batem entre a versão divulgada pela polícia e o que a família afirma. No dia do crime, foi divulgado que Rômulo estaria bêbado e morreu após ser perseguido pelo policial, depois de se envolver em uma confusão com Rodrigo Lima Teixeira, de 20 anos. O policial teria presenciado o que achou ser um assalto, ao ver Rômulo, armado, abordar o carro onde estava Rodrigo e uma adolescente de 15 anos. Conforme o que disse a polícia, ele teria fechado o carro do jovem para tirar satisfação em razão de um acidente de trânsito.

De folga, e acompanhado da mulher, também policial, Jara teria entrado em ação para impedir o que achou ser roubo. Rômulo teria desobedecido a ordem de parar, sendo perseguido. Depois de perder a direção do carro, teria saído do veículo atirando contra o policial, que revidou. O PM, conforme o relato, primeiro disparou duas vezes, e como o rapaz continuou em sua direção, outros três tiros foram disparados. Rômulo chegou a ser levado para a Santa Casa de Campo Grande, onde morreu.

Outra versão - A família e os amigos de Rômulo divulgaram uma carta em que pedem punição para o policial e questionam a versão divulgada, dizendo não entender como uma autoridade que deveria ser treinada para garantir a segurança das pessoas sai às ruas para matar. No texto, dizem que Rômulo trabalhava há 14 anos na mesma empresa, e era respeitado por todos os colegas. Os pais do rapaz morto, Aurélia Costa de Almeida, 70 anos, e Irineu Almeida, 82 anos, negam que ele andasse armado e dizem que era uma pessoa calma. Os pais e o advogado da família, André Cunha, chegam a dizer que o revólver apreendido no carro dele foi plantado. "Sequer o exame residuográfico foi pedido para verificar se existia pólvora na mão dele", diz o advogado.

Mas a principal reclamação da carta divulgada é em relação a não prisão do policial militar após a morte.  O delegado Rogério Fernando Marqueti, responsável pelo caso, informou ao Campo Grande News, que o inquérito sobre o caso está em andamento e que não há prazo para conclusão. De acordo com ele, por tudo que foi apurado até agora, Rômulo de fato reagiu à ação do policial. No dia, a própria PM, em seu boletim de ocorrências, tipificou o crime como homicídio doloso, ameaça e lesão corporal, considerando as ações cometidas tanto pelo policial quanto por Rômulo.

Já na Polícia Civil, o boletim foi registrado como resistência à prisão seguida de morte. Ao fim do inquérito, isso pode mudar, e o PM ser indiciado por homicídio, afirmou o delegado. Ele diz ainda não ter recebido os laudos da perícia feita no local do crime. Marqueti não soube informar se o exame residuográfico foi solicitado, porque no dia quem atendeu a ocorrência foi outro policial de plantão.

Segundo o delegado, há indícios que revelam que Rômulo estava descontrolado. Horas antes, conforme o policial, ele tinha disparado dois tiros dentro de casa, no bairro Paulo Coelho Machado. O delegado afirma que esteve no local e que os vizinhos ficaram assustados, pensando que se tratava de suicídio. A família desmente essa informação.

Quanto ao acidente de trânsito citado, não há confirmação. A família nega e diz que o carro de Rômulo estava intacto. O jovem envolvido foi procurado em casa, por telefone, mas não foi localizado.

Reicindência - O policial continua trabalhando normalmente, pelo que apurou a reportagem. A PM (Polícia Mililitar) foi procurada nesta tarde e disse, por meio do setor de relações públicas, que só amanhã deve se manifestar. O cabo Mário César Jara é réu, junto com o colega Antônio Amauri de Souza, em um processo por tortura que corre desde 2004.

Neste caso, a acusação é de ter levado à morte o adolescente Cleverson Luiz Fernades, preso por suspeita de roubos no bairro Moreninha II.

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