Cidades

Estudo pede mais campanhas sobre DST para homens que fazem sexo com homens

Vinícius Lisboa, da Agência Brasil | 08/11/2014 11:23

O governo precisa intensificar as campanhas de conscientização direcionadas a homens que fazem sexo com outros homens para alertar sobre a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST), defende um estudo divulgado hoje (7) pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da Fundação Oswaldo Cruz. A pesquisa analisou a sorologia de um grupo de 558 homens de Campinas (SP) que fizeram sexo com outros homens seis meses antes da coleta e mais da metade tiveram contato ou estavam infectados por algum causador de DST.

No grupo pesquisado, mais de um quarto dos identificados como soropositivos tinha contraído o vírus HIV, causador da aids, menos de seis meses antes da coleta. A chefe do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC, Mariza Morgado, destacou que a volta do crescimento da contaminação entre homens, especialmente entre os jovens de 15 a 24 anos, requer uma resposta do governo que vai além das campanhas feitas no carnaval. "É preciso focalizar mais as campanhas, porque é o grupo em que a gente observa um certo recrudescimento da epidemia [de aids]", argumentou.

A pesquisadora defende que a prevenção do HIV conte com o uso de antirretrovirais pré-exposição. Esses remédios seriam tomados regularmente para combater o vírus caso haja contato, potencializando a prevenção. "A gente precisa ter alguma coisa que previna a expansão da infecção e, hoje, o que tem se mostrado mais efetivo é o tratamento", diz. "É claro que tudo isso tem que estar associado ao uso de camisinha e medidas preventivas tradicionais".

Entre os homens pesquisados, os exames apontaram 7,6% de infectados pelo HIV, um percentual cerca de 20 vezes maior que o registrado na população brasileira em geral. No entanto, a incidência é bem inferior aos 31,9% que tiveram contato com o HPV do tipo 16, e dos 20,3% que se expuseram ao HPV do tipo 18. Esses dois tipos do papiloma vírus humano são os mais associados ao câncer - quase 90% dos casos de tumores malignos no ânus e cerca de 40% dos que atingem o pênis estão relacionados ao HPV. Ao todo, o percentual que teve contato com ao menos um desses dois tipos de HPV chegou a 40% na população pesquisada. Esse contato, porém, não resulta em uma infecção persistente na maioria das vezes.

"[O HPV] é uma das DST mais comuns no mundo. Só que, na maior parte dos casos, o sistema imunológico controla e a lesão some com o tempo. Em menos de 1% pode evoluir para o câncer", explicou Alcina Nicol, pesquisadora do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas do IOC. Alcina defende que os meninos também passem a receber a vacina contra o HPV, que já é dada em meninas para prevenir o número de casos de câncer de colo de útero, pois quase 100% desses tumores malignos estão associados ao HPV.

Alcina destaca que a vacinação é importante principalmente para portadores de HIV. Segundo o estudo, o contato com o HPV do tipo 16 entre esse grupo chega a 60,9%, e, para o tipo 18, a 46,3%, bem acima das taxas gerais. "O paciente HIV positivo tem tido uma alta prevalência de câncer anal, o que já foi mostrado pela literatura [médica]. Isso é por causa da baixa da imunidade", explica. Segundo o portal do Ministério da Saúde sobre DST, soropositivos só devem tomar vacinas com orientação médica.

O estudo também levantou informações sobre as hepatitites B e C, além do vírus HTLV. Apesar dos 30 anos de campanhas de vacinação contra a hepatitite B, 55% dos pesquisados não estavam imunizados, e 11,4% estavam infectados. Sobre a hepatite C, o estudo constatou que, na população pesquisada, a incidência da doença foi 1%, coincidindo com pessoas que se declararam usuárias de drogas. O mesmo ocorreu com o vírus HTLV, apesar de sua principal forma de transmissão ser o aleitamento materno.

Para chegar aos entrevistados, a pesquisa contou com o engajamento deles próprios. Cada pessoa entrevistada e examinada convidava mais três pessoas para responderem e se submeterem aos exames, formando uma rede. Tal metodologia não permite que o grupo seja tomado como amostra da população de Campinas, de São Paulo ou do país, mas aponta conclusões que orientaram as recomendações. Uma delas é a importância de campanhas nas escolas e o papel da escolaridade na prevenção. "Quão melhor é a escolaridade, mais o indivíduo se arma de conhecimento e acaba evitando a infecção. Quem tem menos escolaridade está se contaminando mais", diz Mariza Morgado.

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